• Paulo Gratão
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Letícia Salgado, franqueada da Casa Graviola (Foto: Divulgação)

Letícia Salgado, franqueada da Casa Graviola (Foto: Divulgação)

Letícia Salgado e Lorena Cota são franqueadas da Casa Graviola em Vitória, no Espírito Santo, há um ano e quatro meses. Assim como boa parte do comércio mundial, elas precisaram fechar as portas da loja no último dia 19 de março pela determinação de quarentena, por conta do novo coronavírus. Foi necessário encontrar novas formas de continuar vendendo - mas não queriam depender dos aplicativos de delivery.

Antes da crise, as empreendedoras atuavam com as ferramentas, mas não estavam totalmente satisfeitas com o serviço. “A essência da nossa marca é alimentação saudável. Como eu vendo uma coisa e o braço da logística não fala a mesma língua?”, diz Letícia.

Quando o delivery se tornou a única opção de diversos restaurantes, elas temeram que a qualidade do serviço ficasse ainda mais distante da proposta do negócio. Com isso, buscaram alternativas para continuar vendendo, mas com controle de todo o processo. “O gatilho ocorreu em uma mentoria de que eu participo. Falamos que fechamos a loja física e só queríamos retomar se garantíssemos a segurança. Antes de dinheiro, existem minha vida e a dos meus funcionários. Foi aí que o mentor sugeriu: ‘crie um delivery highlander da segurança’.”

Assim, Letícia procurou um infectologista na região para ajudá-la a mapear todos os processos passíveis de contaminação dentro do seu negócio, desde a abertura da loja até o fechamento. “Compartilhei com minha sócia e meus funcionários e começamos uma ação massiva. É melhor pecar pelo excesso do que pela falta.” Os funcionários trocam de roupa assim que chegam à loja. Deixam todos os pertences em um ambiente separado e os calçados do lado de fora. As bolsas do delivery não entram na empresa.

Novos cuidados na loja de Letícia Salgado (Foto: Divulgação)

Novos cuidados na loja de Letícia Salgado e Lorena Cota (Foto: Divulgação)

Na última semana, o governo do Espírito Santo permitiu que os restaurantes funcionassem até às 16h, mas Letícia e Lorena preferiram manter a franquia fechada durante a pandemia e só atender à distância – por retirada na loja ou entrega.

Quem leva os produtos até a casa do cliente é a própria Letícia ou um motoboy que foi cedido por uma empresa de logística e treinado para seguir os rigorosos critérios das empreendedoras. “Saí do posto de empresária e fui para motogirl. Conseguimos atender um raio de uns 5 km. Estou gastando uns 15% a mais do que se fosse entrega por aplicativo, o que é muito dinheiro nesse momento, mas me sinto mais segura”, diz.

Letícia Salgado faz as próprias entregas em Vila Velha (Foto: Divulgação)

Letícia Salgado faz as próprias entregas em Vitória (Foto: Divulgação)

O cliente pode pedir as refeições pelo número de WhatsApp próprio da loja, que é divulgado em redes sociais ou pelo contato ativo feito com base no banco de dados da empresa. Letícia diz ter gostado da experiência de levar até a porta dos clientes para poder entender um pouco mais da demanda de quem consome o seu produto. “Estando ainda mais em contato com eles, me expondo, eu tenho condição de entender o que ele precisa", diz.

Empreendedor parcela comida congelada em até 10x

O Açougue Vegano tem duas unidades no Rio de Janeiro. Eles já ofereciam uma opção de entrega por aplicativo, mas desde o início da quarentena têm desencorajado isso. Um dos fundadores da empresa, Celso Fortes, explica que a pandemia o forçou a adotar um delivery próprio, feito por ele mesmo, por uma equipe de motoboys terceirizada, pelos funcionários e até pelos parceiros. “Até nossa nutricionista já levou encomendas”, diz.

A razão para isso é que clientes de localidades mais distantes também consomem o produto, não somente as atendidas pelo raio dos aplicativos. “Começamos a receber mensagens de pessoas que não eram atendidas pelo raio de atuação, clientes distantes da loja.” A empresa vende tanto refeições prontas quanto congeladas.

Produtos do Açougue Vegano (Foto: Divulgação)

Produtos do Açougue Vegano (Foto: Divulgação)

Com essa modalidade de entrega, Fortes percebeu que conseguiria reduzir o valor dos produtos e diminuir a taxa paga para as plataformas. “Também conseguimos parcelar em até 10 vezes um combo de congelados que temos aqui que dá para 10 a 15 dias de consumo. Nos aplicativos isso ainda não é possível”, diz.

O empreendedor estima que a economia seja de 25% e diz que todo o valor é repassado para o preço dos produtos. “Tenho que pensar também no bolso do cliente agora.” As entregas são feitas por moto, bicicleta, carro ou até mesmo de transporte público, se estiver no caminho do funcionário. “Nós higienizamos toda a embalagem, o funcionário leva um spray de álcool para limpar e ainda orientamos o cliente a também fazer a limpeza ao receber”, explica.

Para divulgar o serviço, ele utiliza as próprias redes sociais da empresa e panfletos, à moda antiga. A comida é do futuro, mas os pedidos, no serviço próprio, são feitos por telefone, como o delivery de alguns anos atrás.

Apoie o negócio local (Foto: Editora Globo)