Gabriel Araújo, que é recifense crescido em Brasília, explica que vem de uma família com tradição vegetariana há mais de 16 anos, por isso foi fácil entender as necessidades do público vegano. Nicholas Ost, seu companheiro e sócio no projeto, é de São Paulo, mas cresceu em Cuiabá, e também é vegano.

A última estimativa feita pela ONG Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) apontou que cerca de 14% da população brasileira é vegetariana. De acordo com a coordenadora da SVB João Pessoa, Nathalia Viana, pelo menos 80 mil pessoas na capital paraibana já podem ter adotado um cardápio sem carne.

“Não temos um número oficial para a região, mas visto no ponto de vista da estatística, podemos aplicar a mesma porcentagem, já que muito do que é micro é reflexo do que é macro. Prova disso é o desenvolvimento do mercado local focado neste nicho de alimentação, que vem crescendo nos últimos anos. São 2 mil pessoas que se tornam vegetarianas por semana no Brasil”, explicou Nathalia.

O Vegano Universitário faz parte desse momento de crescimento do mercado local voltado para os adeptos do veganismo, que é celebrado nesta quinta-feira (1º), no Dia Mundial do Veganismo. Gabriel Araújo comentou que além de ser uma iniciativa de ajudar na sua manutenção, também tem como objetivo quebrar o preconceito com a culinária vegana. Ele explica que muitas pessoas pensam que é uma culinária cara, mas garante que é possível fazer comidas com pouco dinheiro.

“Ao tentar encontrar refeições e lanches veganos em João Pessoa, descobrimos que, de fato, o valor cobrado nos produtos era inacessível para um estudante. Foi aí que decidimos tornar o Vegano Universitário uma empresa. Além de continuar ensinando receitas, decidimos criar um vegan food, nome dado por nós já que a proposta é a de oferecer comida vegana na linha do que encontramos num fast food”, explicou.

Conforme levantamento feito pela SVB João Pessoa, atualmente existem mais de 30 pequenos empreendedores que são 100% vegetarianos na capital paraibana, mas ainda não possuem um estabelecimento de fato, visto que a demanda ainda não possibilita a abertura de um negócio físico. Eles funcionam por encomenda e com venda domiciliar, como é o caso do Vegano Universitário.

“Em 2018 houve a abertura do primeiro estabelecimento vegetariano estrito, que vem apresentando grande demanda. Antes disso havia outros restaurantes que eram ovolactovegetarianos. Ainda sim, são inúmeros os restaurantes que vem acrescentando a opção vegetariana em seus cardápios, podemos dizer que pelo menos 30% dos bares e restaurantes, assim como do sistema hoteleiro, já conta com opções vegetarianas no menu”, relatou Nathalia Viana.

Para a ativista do veganismo, fazer um feijão sem carne e um purê de batata sem leite é uma mudança enorme para os vegetarianos. “Muitos cafés também já vem oferecendo opções vegs trocando o leite de vaca por leite de coco”, completou. Nessas mudanças e propostas de novos negócios, Gabriel Araújo explica que o Vegano Universitário também adota ingredientes baratos e da gastronomia paraibana.

“Para baratear os nossos produtos, fazemos o reaproveitamento de partes dos alimentos que normalmente são destacados, mas que possuem grande valor nutricional. Valorizamos ingredientes regionais, como a macaxeira e a castanha de caju. São baratos e se alinham a outra proposta nossa de valorizar o sabor característico presente nos pratos da gastronomia paraibana. Sim, utilizamos coentro e cominho”, comentou.

Ainda segundo Gabriel Araújo, o fato de oferecer uma culinária barata e por meio de aplicativo de delivery, muitos dos clientes não são veganos e acabam adotando aos poucos um cardápio sem carne.

“Tem sido impressionante o boom de adesão ao veganismo que temos visto recentemente. Muitos de nossos clientes não são veganos. São aquelas pessoas que há alguns anos pensavam que comida vegana era apenas mato. Hoje chegam até nós devido à curiosidade e se encantam. Se tornam clientes fiéis”, comentou.

Para ajudar na adoção de cardápios inclusivos aos veganos e vegetarianos, a SVB João Pessoa oferece uma assessoria que se chama “Opção Vegana”, que funciona como um convênio para os estabelecimentos que desejam incluir a opção veg no cardápio junto com a SVB. Essas empresas passam a dar descontos aos filiados da ONG em troca divulgação nacional do estabelecimento.