Cultura

Prêmio Shell é marcado por diversidade dos vencedores, protestos políticos e a lembrança de Marielle Franco

Coletivo 2ª Black e Confraria do Impossível se destaca com dois troféus, e Aderbal Freire-Filho recebe homenagem por sua carreira
Sc Rio de Janeiro (RJ) 12/03/2019. cerimônia de premiação da 31ª edição do Prêmio Shell de Teatro. Na foto inovação e direção coletivo 2 Black. Foto Marcos Ramos / Agencia O Globo. Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Sc Rio de Janeiro (RJ) 12/03/2019. cerimônia de premiação da 31ª edição do Prêmio Shell de Teatro. Na foto inovação e direção coletivo 2 Black. Foto Marcos Ramos / Agencia O Globo. Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

RIO — Diversidade, palavra quase gasta pelo uso frequente, sobretudo em cerimônias e eventos oficiais, deu as caras de fato na 31ª edição do Prêmio Shell de Teatro, realizado na noite desta terça-feira, no Copacabana Palace. A expressão foi repetida várias vezes por vencedores de diferentes categorias, que celebraram uma mudança no reconhecimento, sem deixar de cobrar mais espaço dentro e fora dos palcos.

Um dos  vencedores da noite, o Coletivo 2ª Black subiu com todos os seus integrantes ao palco para receber o prêmio de inovação. Já a Confraria do Impossível recebeu o prêmio de direção, por "Esperança na revolta". André  Lemos, diretor do grupo,  lembrou que a celebração não pode fazer esquecer o quanto falta a ser conquistado.

— A Confraria do Impossível é mais que um coletivo teatral, é um estado de sobrevivência. Enquanto nós comemoramos, vários corpos negros tombam na cidade —  frisou ele. —  Quando esta festa terminar, muito vão voltar para seus apartamentos, e não sabemos se vamos voltar vivos para comemorar nossas vitórias.

Ao receber o prêmio de melhor música ao lado de Pedro Luiz por "Elza", Larissa Luz destacou  a importância da conquista de mais oportunidades dentro e fora dos palcos.

— Esse prêmio tem uma importância enorme, não só para mim, mas todos nós, negros e negras. Nós estamos nos palco, na cena, mas queremos mais — frisou Larissa. — Queremos estar na criação artística das histórias que nos envolvem, que nossos corpos negros estejam na direção. Nós somos muito, e somos bons.

Consagrada anteriormente no Prêmio Cesgranrio , "A invenção do Nordeste" levou o troféu de dramaturgia, para Henrique Fontes e Pablo Capistrano. Fontes mencionou a origem do Grupo Carminha, do Rio Grande do Norte, para celebrar a diversidade regional.

— Esse prêmio abre uma mudança no espaço-tempo. O mais importante é estarmos todos juntos, fazendo o nosso tempo, independentemente da região — ressaltou o diretor. — Temos que estar juntos. Sabemos onde está nosso inimigo, e ele não está nessa sala.

Como não poderia deixar de ser, a execução da vereadora Marielle Franco, que completa um ano nesta quinta-feira, foi lembrada por vários dos vencedores. Uma delas, atriz Nena Inoue, autodeclarada "zebra" por s ua vitória pela interpretação em "Para não morrer" , destacou o legado da vereadora.

— Nesta quinta vai fazer um ano de morte da Marielle. E a gente tem que falar para que não se esqueça para que nunca mais aconteça. Está acontecendo de novo — destacou a atriz, que adaptou aos palcos o livro "Mulheres", de Eduardo Galeano.

Atriz do coletivo 2ª Black, Sol Miranda lembrou das investigações sobre o assassinato da vereadora, cujos autores foram apresentados hoje pela polícia:

— Hoje acordamos com a possibilidade de descobrir quem matou a Marielle Franco. Mas queremos saber também quem mandou matar. Nós, que começamos a levantar fundos para esta peça em apresentações nas ruas e no metrô, sabemos que o teatro é uma forma de nos mantermos vivos.

Grande homenageado da noite, o diretor Aderbal Freire-Filho aproveitou o seu discurso para reforçar o momento da arte no Brasil.

— Estamos aqui, entre artistas, e falamos de vários alvos, vários injustiçados, vários atacados. Nós artistas somos alvos constantes, chamado de vagabundos, criminalizados por causa de leis de incentivo. É perigoso ser artista, mas vamos resistir - disse Aderbal, antes de brincar com a homenagem que acabara de receber. - Prêmios assim geralmente são para fim de carreira. Mas espero fazer muitas peças, vivas como o carnaval, como o samba da Mangueira.

Confira a lista completa dos vencedores:

Iluminação - Elisa Tandeta por "Um Tartufo"

Figurino - Ney Madeira e Dani Vidal por "Bibi, uma vida em musical"

Música - Pedro Luiz, Larissa Luz e Antônia Adnet por "Elza"

Cenário - Doris Rolemberg por "A última aventura é a morte"

Inovação - Coletivo 2a Black

Dramaturgia - Henrique Fontes e Pablo Capistrano por "A invenção do Nordeste"

Direção - André Lemos, por "Esperança na revolta"

Ator - Otto Jr. por "Tebas Land"

Atriz - Nena Inoue por "Para não morrer"