RIO - A Cedae interrompeu a operação da Estação de Tratamento de Água (ETA)do Guandu após a detecção de detergente na água no trecho antes da captação. A medida, no entanto, deveria ter sido tomada também após a constatação da presença de geosmina, como prevê o Plano de Contingência de Abastecimento de Água do Guandu. Na coletiva dessa terça, o chefe da ETA, Pedro Ortolano, justificou a não interrupção do sistema após a identificação da geosmina porque a substância não torna a água imprópria, o que ocorre com a contaminação com detergente.
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Para Ary Girota, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Água e Esgoto, a suspensão poderia ter evitado que a população sofresse com mais de 30 dias de fornecimento de água com cheiro e gostos alterados. No Plano de Contingência para Abastecimento de Água do Guandu, apresentado em 2015 pelo Comitê Guandu, não há menção específica à geosmina, mas há previsão de cenários de acidentes por contaminação ou proliferação de algas. Nesses casos, o plano recomenda que sejam fechados os canais de adução ao desarenador, que é uma das primeiras fases de filtragem do tratamento de água. A reabertura dos canais só poderia ser feita após a inspeção da estrutura e monitoramento da qualidade da água bruta.
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Girota, que é agente de saneamento da Cedae, relata que direção da concessionária optou em não seguir a orientação do Plano de Contingência, que é interromper o funcionamento da estação, no momento em que foi identificada a geosmina.
— Agora usaram o procedimento que deveria ter sido adotado lá atrás quando começou a proliferação da geosmina. Se o tivessem feito, o Rio não ficaria um mês com essa água. O plano de contingência prevê acidentes e soluções para todos os tipos de problemas. Foi uma opção da direção da empresa em não acatar o plano de contingência, colocando todo sistema em risco — explicou Girota.
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O sindicalista lembrou ainda a ausência de técnicos na direção da empresa, acrescentando que apenas um dos sete no comando da concessionária tem formação na área. Para ele, o problema é a ingerência política na direção.
Ele, assim como especialistas no campo, também apontou a falta de saneamento básico no estado, especialmente nos municípios da Baixada que lançam esgoto no Guandu, como a origem de todos os problemas.
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— A opção política, ainda na época do ex-governador Sergio Cabral, foi de levar água para toda a Baixada, mas sem investir no tratamento de esgoto. Infelizmente esse é o resultado. Assim que inaugurarem por completo a ampliação da ETA Guandu, todo o volume vai ser devolvido em esgoto e sobrecarregar o sistema — explicou Girota, que trabalha na ETE São Gonçalo - Garanto que o esgoto tratado que devolvemos na Baía de Guanabara, após o tratamento na ETE, é infinitamente melhor que a água captada no Guandu.
Necessidade de intervenção mais rápida
Já para José Marcus Godoy, coordenador do Laboratório de Caracterização de Águas da PUC-Rio, a Cedae não adotou a orientação do plano de contingência no início do ano pois, dentre os parâmetros de potabilidade de água exigidos pelo Ministério de Saúde, não há a medição de geosmina. Por outro lado, há exigência sobre limite de presença de detergente.
— Como a geosmina não é um parâmetro legislado, eles continuaram fornecendo assim mesmo. Mas quando identificaram que houve alteração no cheiro e no sabor, deveria ter ocorrido uma intervenção mais rápida no tratamento — afirma o professor.
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Para Godoy, é considerável a probabilidade de que o detergente encontrado no Guandu ser de origem industrial. Para ele, para que uma quantidade tão alta do material tenha sido despejada de uma vez só, e não diluído em meio ao esgoto, ela não deve ter vindo da rede domiciliar.
— Me pareceu uma grande mancha de concentração elevada de detergente, que veio de uma só vez para captação, e depois passou. Deve ter vazado num momento específico. Mas o que esse detergente explicita é que os rios estão recebendo muito esgoto.