Por G1 CE


Crise na segurança: 103 mortes no Ceará em cinco dias

Crise na segurança: 103 mortes no Ceará em cinco dias

O Ceará registrou ao menos 103 assassinatos desde o início da paralisação de parte dos policiais militares. Neste domingo (23), sexto dia seguido do motim, ao menos 3 batalhões da Polícia Militar estão fechados.

Conforme o último balanço oficial da Secretaria da Segurança Pública do Ceará, ocorreram 88 homicídios entre a quarta-feira (19) e a sexta-feira (21). Já entre sábado (22) e a manhã deste domingo (23), houve ao menos mais 15, segundo levantamento do G1 em delegacias e com policiais que atenderam às ocorrências.

O governo do Ceará ainda não divulgou um balanço oficial neste domingo.

Blindados fazem patrulhamento ostensivo nas ruas de Fortaleza — Foto: Thiago Gadelha/SVM

As 103 mortes registradas desde quarta-feira equivalem a 63% das 164 registradas em todo o mês de fevereiro de 2019.

Até a terça-feira (18), o Ceará vinha registrando uma média de 6 mortes por dia em em 2020, segundo o governo do Ceará. Entre quarta e sexta-feira – período coberto por balanços oficiais até aqui – esse número saltou para 22 por dia.

Os amotinados reivindicam aumento salarial acima do proposto pelo governador Camilo Santana (PT).

Por conta da crise, o estado recebeu reforço de tropas da Força Nacional e do Exército Brasileiro. Atualmente, a segurança no estado é realizada por 2,5 mil soldados do Exército, 150 agentes da Força Nacional, 212 policiais rodoviários federais, policiais civis PMs de batalhões que não aderiram à paralisação.

Contudo, o comandante da 10ª Região Militar do Ceará, Fernando da Cunha Mattos, afirmou que o estado ainda receberá mais tropas para reforçar a segurança. Mattos disse que o número de soldados foi "inicialmente insuficiente" e que o Comando do Nordeste enviou tropas de quatro estado. O número de soldados, porém, não foi informado pelo comandante.

Agentes do Exército realizam a segurança em ruas próximas ao Comando da 10ª Região Militar, no Centro de Fortaleza — Foto: José Leomar/SVM

Ainda conforme Mattos, o Exército vai começar neste domingo a exercer o poder de polícia nas ruas de Fortaleza, medida que deve reduzir os homicídios na capital cearense. Outra medida que será adotada será o uso de veículos blindados.

"Os blindados serão utilizados para garantir a segurança de quem está dentro. Será um reforço no patrulhamento", explica o comandante do Exército no Ceará.

Carros das forças de segurança do Ceará continuam com pneus furados ao redor do 18º Batalhão da Polícia Militar. — Foto: Fabiane de Paula/SVM

Em um dos casos de violência durante a paralisação, um entregador de supermercado foi assassinado na frente da casa do pai em Caucaia, na noite deste sábado. De acordo com testemunhas do crime, a vítima tinha 24 anos e foi atingida por vários disparos. A motivação ainda é desconhecida.

Em outro caso, um soldado da Polícia Militar matou a tiros um jovem de 21 anos durante uma festa de carnaval no Centro de Aracati, no litoral do Ceará, após uma discussão, na tarde de sábado. O militar foi detido no local por uma equipe do Regimento de Polícia Montada (RPMon) da Polícia Militar do Ceará, e autuado em flagrante por homicídio qualificado.

O senador licenciado Cid Gomes, que foi baleado em um motim da PM quando tentava invadir um quartel com uma retroescavadeira, recebeu alta neste domingo (23).

Resumo:

Exército vai manda mais homens para reforçar a segurança no Ceará

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Policiais punidos

O governo do Ceará afastou 167 policiais militares que participam dessa paralisação. O afastamento dos envolvidos no motim deve durar 120 dias e os agentes já serão retirados da folha de pagamento do governo a partir deste mês.

A abertura de processos disciplinares contra os militares afastados ocorrerá de duas formas. A primeira envolve os inquéritos militares, cujo julgamento acontecerá na Justiça Militar. O segundo consiste no procedimento administrativo disciplinar realizado pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD).

Além disso, a Polícia Militar do Ceará classificou 77 policiais militares como "desertores". Eles faltaram a uma convocação para trabalhar na segurança de festas de carnaval no interior do estado.

Reivindicação dos policiais

Policiais do Ceará se reuniram com senadores para ouvir propostas do governo estadual. — Foto: Kid Junior/SVM

Os PMs têm feitos os motins para pressionar o governo por aumento salarial. A proposta da gestão é aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3,2 mil para R$ 4,5 mil, em aumentos progressivos até 2022.

O grupo de policiais que realiza as manifestações reivindica que o aumento para R$ 4,5 mil seja implementado já neste ano, de forma integral.

Na noite de quinta-feira (20), houve um encontro entre representantes dos policiais que participam do motim e uma comissão de senadores para por fim à paralisação. No entanto, não houve acordo. Um dos pontos discutidos foi a anistia aos integrantes do movimento, mas o governador do Ceará, Camilo Santana, afirmou que o perdão é inegociável.

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