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Rio

Miliciano Adriano da Nóbrega tentou fugir horas antes de ser morto, atingido por dois tiros; saiba como foi a ação

Ex-capitão usou uma picape branca para ir até a chácara do vereador Gilsinho da Dedé, filiado ao PSL
Na semana passada, polícia chegou a resort onde Adriano estaria se escondendo na Bahia: lá, foi encontrada uma identidade falsa usada pelo miliciano Foto: Reprodução
Na semana passada, polícia chegou a resort onde Adriano estaria se escondendo na Bahia: lá, foi encontrada uma identidade falsa usada pelo miliciano Foto: Reprodução

RIO — Horas antes da operação das polícias da Bahia e do Rio para tentar capturar o ex-capitão Adriano da Nóbrega, o miliciano fugiu da fazenda em que estava escondido. A bordo de uma picape branca Hylux, ele percorreu oito quilômetros e chegou à chácara do vereador Gilsinho da Dedé, que é filiado ao PSL, onde tentou se esconder. Ao iniciar a operação, os policiais descobriram que Adriano havia fugido com um carro em nome de terceiros. Na ação do Bope da Bahia, que mobilizou cerca de 70 agentes, três PMs dispararam, e dois tiros acertaram o miliciano, que morreu .

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Gilsinho da Dedé (PSL), dono da propriedade, conta que está de viagem em Recife e soube da operação através de um telefonema de um vizinho, durante o tiroteio:

— Não sei como ele conseguiu entrar lá. Soube do tiroteio por vizinhos e, depois, que vi na imprensa que ele tinha morrido lá. Não o conheço e nunca fui apresentado a ele.

A ação

De acordo com a polícia, a operação mobilizou cerca de 70 agentes do Bope da Bahia. Os militares se separaram para cobrir toda a área e impedir uma possível fuga do miliciano na região. Na abordagem à casa, numa área isolada, três PMs formaram um triângulo. O primeiro policial, na frente, segurou um escudo e arrombou a porta. Em seguida, segundo a polícia, Adriano atirou e houve confronto. O ex-capitão da PM, então, foi atingido por dois tiros. Levado ao hospital, ele não resistiu.

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O segredo para encontrar um dos principais nomes da lista da Interpol, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, não é revelado pela polícia. No entanto, a apreensão de 13 celulares e sete cartões de chip explica como o ex-militar conseguia se manter escondido sem ser rastreado. A Polícia Civil do Rio quase não tem conversas dele grampeadas, porque Adriano usava somente o sinal de wi-fi para fazer as ligações, além de trocar com frequência os chips, de operadoras diferentes, geralmente usados uma única vez. Como ex-integrante da tropa de elite da PM, ele sabia muito bem como monitorar criminosos.

Esconderijo

Segundo fontes da Polícia Civil do Rio, Adriano estava escondido, num primeiro momento, no Parque Gilton Guimarães, uma fazenda que também é área de vaquejadas. O local pertence a Leandro Guimarães, que também organiza outros torneios na região e, há dez dias, sediou um concurso com premiação total de R$ 60 mil. Durante a ação deste domingo, Leandro foi preso por posse ilegal de armas — duas espingardas e um revólver 38.

Na fazenda, que fica na área rural de Esplanada, foram apreendidas quatro armas, todas com numeração aparente, que estavam em diversos cômodos da casa. O sítio possui 12 edificações, sendo que, na área principal, há quatro construções, entre elas a casa onde o ex-capitão estava. Procurado pelo GLOBO, Guimarães não respondeu aos pedidos de esclarecimentos.

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Na região, há diversas fazendas de alto padrão, inclusive de políticos.

No Parque Gilton Guimarães, a 170 quilômetros da capital Salvador, também foi encontrada uma carteira da Polícia Militar, com o nome de Adriano. A identidade era uma forma de o ex-PM passar por blitzes nas estradas. No local também foram achados emblemas do Bope.

O ex-caveira também usava identidades falsas, como a deixada para trás no primeiro esconderijo estourado pelas polícias Civil do Rio e da Bahia, há uma semana, na Costa do Sauípe, também na Bahia. Segundo a polícia, Adriano fugiu do local cinco minutos antes da chegada dos agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Bahia. Os investigadores descobriram que ele mantinha as janelas abertas para escapar, se a casa fosse invadida, o que acabou acontecendo. A escolha do imóvel, com diária de R$ 1 mil, foi estratégica. A residência dá fundos para uma lagoa, e o ex-militar teria fugido pelo mangue.