• Ana Laura Stachewski
Atualizado em
Sócias da WeCare (Foto: Divulgação)

Tamara Azevedo, Cristianne Vicentim e Elaine Moraes, sócias da WeCare (Foto: Divulgação)

O Brasil deve registrar cerca de 625 mil novos casos de câncer por ano entre 2020 e 2022, segundo uma estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Campanhas como Outubro Rosa e Novembro Azul buscam alertar a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Mas muitos aspectos da doença ainda são pouco conhecidos, como a incidência de problemas de pele decorrentes dos tratamentos.

A empreendedora Tamara Azevedo viu essa realidade de perto. Seu pai descobriu um câncer de intestino em estágio avançado em 2014 e precisou passar por cirurgia e quimioterapia. Um dos efeitos colaterais dos medicamentos foram lesões na pele das mãos e dos pés. “Chegou num ponto em que ele teve que interromper o tratamento, porque avaliaram que ele poderia ter uma infecção generalizada”, relembra ela.

Seu pai conseguiu se curar da doença, mas a experiência foi decisiva para que Tamara se envolvesse na criação da WeCare, uma marca voltada a pacientes em situações como essa. Seus produtos foram desenvolvidos sem substâncias agressivas à pele e com ingredientes que ajudam na recuperação e prevenção das lesões.

O projeto começou com Cristianne Vicentim, uma ex-executiva da indústria farmacêutica. Ela já havia atuado no desenvolvimento de produtos para pessoas alérgicas, mas notou que não havia produtos para pacientes com câncer. Também concluiu que um projeto nichado como esse dificilmente ganharia espaço em uma grande empresa. No início de 2016, deixou o emprego para criar a marca.

Nesse caminho, acabou se unindo a Tamara e a uma terceira sócia, Elaine Moraes, também da área de desenvolvimento. As três investiram cerca de R$ 2 milhões no desenvolvimento de produtos e na realização de estudos clínicos para avaliar seus resultados. “Foi super empolgante, porque fizemos um levantamento bibliográfico e vimos que muitos ingredientes já tinham comprovação científica”, explica Cristianne. Os primeiros produtos foram lançados no final de 2016.

Produtos da WeCare ajudam a prevenir e tratar lesões decorrentes da quimioterapia e radioterapia (Foto: Divulgação)

Produtos da WeCare ajudam a prevenir e tratar lesões decorrentes da quimioterapia e radioterapia (Foto: Divulgação)

Em 2019, a WeCare recebeu um investimento-anjo de R$ 1,5 milhão. A rodada reuniu desde médicos até um investidor que já foi paciente oncológico. “São pessoas ligadas à proposta de alguma forma. Além do dinheiro, ganhamos um conselho”, diz a cofundadora. A empresa também foi selecionada para um processo de aceleração do Quintessa no ano passado.

A aceleração vem ajudando as sócias a definir novos meios de expandir o alcance da marca. A principal forma de chegar aos pacientes é pela indicação de médicos e enfermeiros. A pandemia exigiu que reuniões presenciais em hospitais fossem substituídas por videochamadas e campanhas por WhatsApp.

Por superar barreiras geográficas, o modelo acaba sendo vantajoso para a empresa. Mas outro aspecto da pandemia preocupa as empreendedoras: a redução nos diagnósticos e na realização de exames nos últimos meses. “O problema do diagnóstico tardio é a necessidade de tratamentos mais agressivos”, diz Cristianne. Para as sócias, o Outubro Rosa é um importante fator de conscientização.

A marca hoje tem linhas de produtos para o corpo e para a mucosa oral, outra área afetada pela quimioterapia e radioterapia. Os produtos têm preço médio de R$ 110 e são vendidos por e-commerce e em 40 pontos de venda. Para torná-los acessíveis a todos os perfis de pacientes, as empreendedoras vêm formando parcerias. “Tentamos fazer com que o pagador seja a parcela com mais condição, como a indústria e os convênios.”

Até agora, os produtos impactaram cerca de 10 mil pacientes. A marca fatura cerca de R$ 100 mil por mês e cresceu 175% entre 2018 e 2019. Para este ano, devido à queda na demanda, a expectativa é crescer 40%. Durante o mês de outubro, uma parceria com o Projeto Camaleão doará uma sessão de atendimento psicológico ou recreativo a cada cinco produtos vendidos. “As pessoas relacionam muito o câncer à queda de cabelo. O problema de pele é pouco comentado e um dos que mais atrapalham”, diz Cristianne.