• Ana Laura Stachewski
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Dia das Mães gerou faturamento de quase R$ 10 milhões para o varejo em 2019; agora, projeção é de queda de 40% (Foto: Pexels)

O Dia das Mães é a data comemorativa mais importante para o comércio depois do Natal. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o varejo brasileiro faturou R$ 9,7 milhões com a data em 2019. Na tentativa de diminuir as perdas com o fechamento das lojas pela pandemia do coronavírus, representantes do setor chegaram a pedir o adiamento das comemorações. Mas o movimento não gerou consenso e o 10 de maio deve permanecer no calendário de clientes dispostos a comprar em lojas que se adaptaram para vender à distância.

A Confederação Nacional do Comércio foi uma das entidades que apoiaram o adiamento, sugerindo que a mudança para junho poderia reduzir os prejuízos do varejo. Mas, com a proximidade e a falta de uma mobilização geral, o economista da CNC Fabio Bentes admite que é improvável que o Dia das Mães seja de fato transferido a outra data.

“Quanto mais consiga adiar, menor tende a ser o prejuízo. Então gostaríamos que houvesse adiamento para que o varejo não perdesse tanto”, afirma o economista. “Mas muito provavelmente a data não vai ser adiada. Até porque, no desespero, é menor ter pouca venda do que nenhuma.”

Baseado nos resultados da Páscoa, ele estima que o faturamento do setor com o Dia das Mães será até 40% menor neste ano. Além das lojas fechadas, colaboram para a queda a baixa confiança dos consumidores e a dificuldade de os lojistas acessarem crédito para manter as operações. Entre os segmentos mais impactos devem estar os de vestuário, móveis e eletroeletrônicos.

Outro impacto importante da queda será nas contratações. No ano passado, 20,5 mil postos temporários foram abertos. “Com a situação, certamente não haverá contratação. As empresas estão com excesso de funcionários”, diz.

Movimentações
A proposta de adiamento repercutiu entre associações e representantes do setor em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco. Na última semana, o governador de São Paulo, João Doria, chegou a estimular o adiamento da data para o último domingo de agosto. Mas afirmou que a movimentação caberia a associações e ao setor privado, já que ela não está prevista nos calendários federal, estadual ou municipal. Já em São José do Rio Preto (SP), um Projeto de Lei que propõe a transferência da data para 14 de junho foi protocolado na Câmara dos Vereadores.

No estado, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) foi uma das entidades que se manifestou contra o adiamento. O presidente Alfredo Cotait Neto diz considerar a mudança inviável, já que ela exigiria um consenso em nível nacional e a situação em cada estado é diferente. “Algumas regiões, principalmente no Sul e no Nordeste, estão com o comércio funcionando com algumas regras. Então é muito difícil trazer uma mudança”, afirma.

Como alternativa, a associação enviou uma proposta ao governador João Doria pedindo a flexibilização da abertura do comércio em cidades pequenas, distantes da capital e sem números significativos de casos de covid-19. A ideia seria adiantar a abertura gradual já proposta pelo governo estadual, mas prevista para ocorrer a partir do dia 11 de maio.

Sem perspectivas de que o adiantamento será realizado, a ACSP passou a propor que, em vez de adiar a Dia das Mães, seja estabelecido um segundo momento de celebração. A data sugerida é o último domingo de agosto, evitando coincidir com o Dia dos Pais e considerando que até lá haverá uma melhora no cenário da pandemia. “Seria uma data de confraternização para encontrar com a mãe e a família e, depois do sacrifício, presentear os entes queridos”, diz Cotait.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) também se posicionou contra o adiamento. A entidade criticou a sugestão de Doria e disse que há pouco tempo para que o comércio refaça seus planejamentos. “Além disso, jogar a data para agosto fará com que concorra com o Dia dos Pais e, após meses de crise, a expectativa é de uma conjuntura econômica ainda mais negativa na ocasião”, escreve, em comunicado. A estimativa da FecomercioSP é que a queda nas vendas do Dia das Mães gere prejuízo de R$ 3,7 bilhões ao comércio paulista.

Alternativas
Tanto o presidente da ACSP quanto o economista da CNC acreditam que quem tem a possibilidade de aproveitar as vendas do Dia das Mães no 10 de maio tem motivos para fazer isso. E-commerce, delivery e até drive-thru são alternativas para atender quem, mesmo na pandemia, pretende comprar presentes para enviar para a família.

Mas, segundo Fabio Bentes, é importante apostar em produtos que possam ser estocados e escoados posteriormente, caso necessário. “Produtos muito específicos para mães tendem a encalhar mais do que os genéricos. Negociar o pagamento com fornecedores e taxas para capital de giro com os bancos também ajuda a equilibrar o fluxo de caixa”, aponta o economista da CNC.

Ele também alerta que, mesmo com a eventual abertura do comércio, fatores como a alta do desemprego afetarão todas as demais datas comemorativas do ano. Acredita, porém, que o impacto tende a ser menor com o tempo. “Quanto mais distante do problema, menor tende a ser o prejuízo. Mas em termos de recuperação, o problema só conseguirá ser resolvido daqui dois ou três anos.”

A consciência do impacto a longo prazo é um motivo a mais para não desrespeitar o que foi decretado pelo estado ou pelo município em que está o empreendimento. “A reabertura terá que ser lenta, gradual e responsável. Não será algo recuperado rapidamente”, diz o presidente da ACSP, Alfredo Cotait Neto.