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Oscar 2020: Saiba como a Academia elege o Melhor Filme

Em quase todas as categorias, quem alcança a maioria absoluta de votos é o vencedor; mas no prêmio principal o processo é mais complexo
Estátua do Oscar Foto: Angela Weiss / AFP
Estátua do Oscar Foto: Angela Weiss / AFP

A sorte está lançada. A esta altura, os vencedores do Oscar 2020 já foram decididos. Os 8.469 membros da Academia de Hollywood habilitados para votar tiveram tempo para fazer isso desde a última quinta-feira até hoje. Agora, é preciso aguardar a avaliação dos auditores da PriceWaterhouseCoopers (PwC). Eles serão os únicos — daqui até domingo — que saberão os nomes dos vencedores antes da divulgação na cerimônia televisionada a partir do Dolby Theatre. Mas como o vencedor é escolhido? Qual é o procedimento que leva a essa decisão? A explicação pode ser simples e complexa ao mesmo tempo.

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Votação eletrônica

Este ano é o primeiro da história quase centenária do Oscar em que todo o processo de votação será realizado de forma eletrônica. Até a última edição, havia a possibilidade de enviar uma cédula por correio. Cada eleitor tem uma cédula eletrônica diante de seus olhos e deve fazer duas coisas. Primeiro, ordenar os nove candidatos ao melhor filme, do primeiro ao último. O melhor recebe o número 1 e assim por diante até o último.

Segundo, escolher um dos indicados nas outras 23 categorias. Cada categoria tem cinco candidatos, com exceção da categoria de maquiagem, que neste ano soma apenas três. Essas 23 categorias são resolvidas com base no critério da maioria simples: quem obtiver maioria absoluta de votos será o vencedor. Mas com a eleição do melhor filme, as coisas ficam bastante complicadas. É a única categoria do Oscar à qual se aplica o chamado "voto preferencial".

50% +1

Esse método tem como objetivo aproveitar ao máximo a influência de cada um dos votos e fazer com que todos contribuam para o resultado final. Ao mesmo tempo, coloca todos os filmes indicados em pé de igualdade e busca manter as expectativas de paridade até o fim. A intenção da Academia parece muito clara: o desejo de que o melhor filme do ano tenha o máximo consenso possível.

Portanto, para receber o prêmio de melhor filme, é necessário que um dos títulos indicados atinja 50% mais um entre todos os votos possíveis. Em uma temporada tão equilibrada quanto a atual, é impossível alcançar esse número em uma primeira tentativa, muito menos quando os eleitores são tantos (quase 8.500).

Processo eliminatório

Jimmy Hoffa (Al Pacino) e Frank Sheeran (Robert De Niro) em 'O irlandês' Foto: Reprodução
Jimmy Hoffa (Al Pacino) e Frank Sheeran (Robert De Niro) em 'O irlandês' Foto: Reprodução

Quando o processo de votação é concluído, em um primeiro exame, os auditores da PwC agrupam e classificam os votos para os nove filmes indicados no mesmo número de pilhas. Cada um dos membros da Academia teve que votar usando o critério da ordem de mérito: o melhor com o número 1 e de lá para baixo para completar os nove. Assim, numa pilha, aparecem todos os votos que “O irlandês” recebeu em primeiro lugar. Em outra, seguindo o mesmo critério, estão os de “Era uma vez em... Hollywood”, e assim por diante.

O próximo passo é descartar a pilha do filme com menos votos de número 1. Suponha que “Era uma vez em... Hollywood” recebeu 38%; 1917, 35%; “O irlandês” 28%; e assim por diante até encontrarmos o último. Digamos que é “Ford vs Ferrari” que tem 6%. Isso o leva a ser removido da competição. No entanto, os votos de quem optou por esse filme ainda são considerados na contagem final.

Cena do filme "Coringa" que transformou a escadaria entre as avenidas Shakespeare e Anderson, no Bronx, no novo ponto turístico de Nova York Foto: Warner Bros Studios / Divulgação
Cena do filme "Coringa" que transformou a escadaria entre as avenidas Shakespeare e Anderson, no Bronx, no novo ponto turístico de Nova York Foto: Warner Bros Studios / Divulgação

O que estabelece o voto preferencial é que cada um desses votos seja redistribuído, tendo agora como referência o filme que aparece no número 2 da lista. Dessa forma, quem votou em "Ford vs Ferrari" como número 1 e, por exemplo, "Coringa" como número 2, consegue fazer com que esse voto principal se torne parte da pilha de votos do "Coringa", uma vez que ele se torna o número 1.

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O procedimento é repetido várias vezes, eliminando sucessivamente os filmes que têm o menor número de votos com o número 1, e segue até o momento em que um dos indicados finalmente passa de 50% do total. O objetivo da votação preferencial é garantir que todos os votos tenham significado e importância até as últimas instâncias. Os filmes estão sendo eliminados, mas o número total de votos permanece inalterado.

'Green book' x 'Roma'

Foto do filme 'Green Book – O Guia', estrelando Mahershala Ali e Viggo Mortensen Foto: Divulgação / Universal Pictures
Foto do filme 'Green Book – O Guia', estrelando Mahershala Ali e Viggo Mortensen Foto: Divulgação / Universal Pictures

Em situações tão disputadas quanto a desta temporada, portanto, é muito possível que o filme vencedor não seja o que obteve mais votos na primeira rodada. Sabemos que os números de cada eleição são mantidos sob sete chaves, mas é muito provável que algo assim tenha acontecido no ano passado, quando "Green book" ganhou o prêmio de melhor filme derrotando "Roma", que foi o favorito da maioria.

Seguindo essa premissa, é muito possível que “Roma” tenha obtido o maior número de votos com o número 1 na votação inicial, mas, com as sucessivas redistribuições, “Green book” — que podemos imaginar começando atrás — acabaria superando “Roma” em algum momento. Especialmente porque havia tantos que queriam ver “Roma” vencer assim como existiam muitos que rejeitavam a produção.

Um sistema de eleição por voto preferencial, em teoria, reduz as chances daqueles filmes indicados que polarizam opiniões e, ao mesmo tempo, favorece as chances dos títulos que não dividem tanto as preferências. A propósito, as condições são criadas para que o mistério do resultado permaneça aberto até o fim e seja alvo de palpites durante toda a grande festa no próximo domingo. Embora a eleição tenha terminado formalmente, a sorte acaba de ser lançada.