Rio

Complô que impede esclarecimento de assassinato de Marielle Franco envolveria policiais, milicianos e políticos

A pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, caso também passou a ser investigado pela Polícia Federal
RI Rio de janeiro (RJ) 17/08/2018 - Grafite em homenagem a Marielle Franco na rua João Paulo I, no Rio Comprido. Foto de Gabriel de Paiva / Agência O Globo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
RI Rio de janeiro (RJ) 17/08/2018 - Grafite em homenagem a Marielle Franco na rua João Paulo I, no Rio Comprido. Foto de Gabriel de Paiva / Agência O Globo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - O complô que tem impedido o esclarecimento dos assassinatos da Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, e que foi citado nesta quinta-feira pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, envolveria um conjunto de pessoas das polícias, milicianos e políticos do Rio, revelou uma fonte da força-tarefa federal criada para investigar o crime, ocorrido no dia 14 de março. O governo federal acredita que uma organização criminosa esteja atuando para interferir na elucidação das execuções.

No dia 1º de novembro, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que a Polícia Federal  também investigasse o caso. Desde então um grupo de agentes federais e de procuradores da República atua no Rio para tentar desvendar os assassinatos. A participação da PF e do Ministério Público federal no caso não interfere nas investigações de promotores do Ministério Público estadual e da Divisão de Homicídios (DH).

O ministro Raul Jungmann disse que um "complô" tem impedido que "se venha à tona os mandantes e os executores" do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). A declaração foi dada em Brasília, durante entrevista coletiva sobre a operação "Luz na infância", que apura crimes relacionados a divulgação de pornografia infantil.

— Não tenho dúvida de que, se nós não conseguirmos desbaratar esse complô que impede que se venha à tona dos mandantes e dos executores, vai ficar muito difícil. Sem sombra de dúvida, existem interesses que envolvem agentes públicos, milícias, políticos, que não querem e impedem que se chegue aos mandantes, sobretudo, poderosos mandantes, e também aos executores, aqueles que realizaram aquele bárbaro crime — disse Jungmann.

De acordo com o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, o governo acionou a PF para analisar se a apuração do crime, ocorrido no dia 14 de março de 2018, sofre, de fato, interferência. A suspeita é que agentes públicos e milicianos atuam para impedir que os culpados sejam descobertos.

Raquel Dodge também pediu que a PF dê proteção às famílias dos novos depoentes. Os detalhes sobre os suspeitos e as linhas de apuração são mantidos em sigilo.

À GloboNews, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, disse que milicianos estão envolvidos "com toda certeza" com o mando ou a execução do assassinato de Marielle.

— Não é um crime de ódio, falei isso logo na primeira entrevista que dei, em março, sobre isso. É um crime que tem a ver com a atuação política, em contrariedade de alguns interesses. E a milícia, com toda certeza, se não estava no mando do crime em si, está na execução — disse Nunes.

Questionado se há políticos envolvidos com o caso, o secretário respondeu: "Provavelmente". Também revelou que as investigações do caso já têm 14 volumes e que alguns culpados já foram encontrados, mas o general espera reunir provas cabais do crime para que os responsáveis não sejam inocentados no futuro. Ele afirmou ainda que espera solucionar o crime até o fim da Intervenção Federal na segurança pública do Rio.