Rio

'Dia em que nós acordamos chorando', diz Anielle Franco durante ato em memória de Marielle na Cinelândia

Há exatamente 1 ano, vereadora foi assassinada ao lado do motorista Anderson Gomes numa emboscada na Rua Joaquim Palhares no Estácio; milhares de pessoas se reuniram no Centro
Marielle foi morta há exatamente 1 ano, junto com o motorista Anderson Gomes Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Marielle foi morta há exatamente 1 ano, junto com o motorista Anderson Gomes Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — “Quem mandou matar Marielle e Anderson?”, dizia o telão de LED atrás do palco do ato político e cultural, na Cinelândia, que rememorou, na tarde desta quarta-feira, o legado da vereadora Marielle Franco, assassinada a tiros no bairro do Estácio, na Zona Central.

O local, que concentrou as homenagens pela cidade neste dia em que a morte da vereadora completa um ano, recebeu representantes de movimentos sociais, coletivos negros, artistas e performances, sobretudo, sobre racismo e violência policial.

Presentes durante toda a maratona de homenagens do dia, a irmã de Marielle, Anielle Franco, e a filha da vereadora, Luyara Franco também foram à Cinelândia. Muito emocionadas, elas receberam abraços e palavras de força na frente da Câmara Municipal. Ao lado delas, um busto de Marielle em tamanho gigante e feito de papel pintado rememorava o último local de trabalho da ex-moradora da Maré. No palco, também compareceram as irmãs do motorista Anderson Gomes, Andrea e Alessandra Gomes, também morto na emboscada.

— Este é um dia em que nós acordamos chorando. É uma dor irreparável e eu não sei como é que a gente está dando conta das demandas. Mas estamos aqui para dar conta do legado dela - disse Anielle.

Muita gente se reuniu no Centro em memória de 1 ano da morte de Marielle; mistério sobre o crime foi tema do ato Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Muita gente se reuniu no Centro em memória de 1 ano da morte de Marielle; mistério sobre o crime foi tema do ato Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Luyara agradeceu, em nome de sua família, pelo carinho das pessoas que também querem saber quem foi o mandante do crime contra a sua mãe.

— Eu tenho muita gratidão com quem está comparando a minha mãe com o Nelson Mandela e com a Angela Davis, mas confesso que não gostaria que vocês estivessem aqui. Eu queria estar aqui com a minha mãe - disse Luyara.

O documentário
O documentário "As duas tragédias de Marielle Franco", produzido pelo GLOBO sob o selo da Celina, narra a trajetória de Marielle até a Câmara, recorda seu assassinato em 14 de março de 2018, ao lado do motorista Anderson Gomes; e explora a investigação que, um ano depois do crime, apresentou suspeitos, mas ninguém foi condenado e nenhum mandante foi identificado

O vereador Tarcísio Motta (Psol), que era amigo de Marielle antes de ela entrar para a política, cobrou que as autoridades descubram quem foi o verdadeiro mandante do crime.

— Todo dia 14 é um dia de muita dor, de muitas lembranças de Marielle com a gente, mas é sempre um dia de reafirmar pautas, de botar gente na rua. Cada um quem vem e diz “Marielle, presente”, os assassinos dela são derrotados. Isso é importante para transformar essa dor em luta - disse Tarcísio.

Durante as apresentações, um grupo de mulheres negras um cortejo levando uma faixa que dizia “Quem mandou matar a Marielle?”. Enquanto andavam, diziam: “Eu não aceito um presidente da milícia” e “não temos medo de Bolsonaro”.

Além das palavras de ordem, faixas e bandeiras, Marielle também está muito presente nas camisas e adornos. A maioria das pessoas veste uma peça de roupa ou bottom com o semblante de Marielle e, no entorno da praça, pelo menos três ambulantes vendem uma camisa com o rosto de Marielle, a R$ 30. A professora paulista Fabiana Santiago, que veio de Ubatuba para curtir o Desfile das Campeãs na Sapucaí, resolveu esticar a estadia assim que soube que o ato-festival aconteceria. Ela arrematou uma camisa que resume um trecho do samba-enredo vencedor da Mangueira, que diz “Marias, Mahins, Marielles, Malês”.

— Marielle para mim é uma referência de luta pelos direitos humanos. É uma inspiração para mim na luta da população periférica. Que mais mulheres ocupem espaços de poder — disse a professora.

'Quem mandou matar Marielle Franco?', diz placa levada ao ato Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
'Quem mandou matar Marielle Franco?', diz placa levada ao ato Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Para a terapeuta holística Mariana Cohen, que levou sua filha, Maya, de apenas 3 meses e meio para o ato, Marielle simboliza a força das mulheres negras e também alguém do povo que conseguiu dar a volta por cima.

— Ela foi morta justamente no dia em que eu descobri que estava grávida da minha filha, então hoje é um dia muito significativo. Será muito importante para mim que a Maya saiba quem foi a Marielle — declarou Mariana.