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EUA anunciam sanções a subsidiária da russa Rosneft por transações com Venezuela

Empresas têm 90 dias para encerrar negócios com a petroleira; Moscou desafia e diz que vai continuar trabalhando com Caracas
Elliott Abramns, enviado especial dos EUA para a Venezuela, comenta as sanções do governo americano à russa Rosnef Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP
Elliott Abramns, enviado especial dos EUA para a Venezuela, comenta as sanções do governo americano à russa Rosnef Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP

WASHINGTON — Os Estados Unidos intensificaram nesta terça-feira as restrições financeiras à Venezuela , incluindo em sua lista negra uma subsidiária da Rosneft ,  estatal russa de petróleo, que Washington acusa de apoiar o governo de Nicolás Maduro e de burlar as sanções americanas.

“A Rosneft Trading S.A. e seu presidente intermedeiam a venda e o transporte de petróleo venezuelano”, disse o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, em comunicado. “Os Estados Unidos estão determinados a impedir o saque dos ativos de petróleo da Venezuela pelo regime corrupto de Maduro.”

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Em entrevista coletiva, Elliott Abrams , enviado especial dos Estados Unidos para a Venezuela, afirmou que o governo americano aplicará ainda mais penalidades ao país sul-americano nas próximas semanas. Segundo, Abrams, os EUA vão conversar com dirigentes de terceiros países na expectativa de “convencer quem está apoiando e sustentando o regime a reduzir suas operações”.

— Sem dúvida, [haverá] mais conversas com autoridades espanholas e com a Repsol , e eu espero que, à medida que avançamos, algumas atividades da Repsol mudem, e o mesmo se aplica a outras empresas estrangeiras de petróleo na Venezuela — disse Abrams, referindo-se à companhia espanhola de petrólep que atua na Venezuela. — Os dois maiores compradores de petróleo venezuelano são a Índia e a China, nessa ordem. Manteremos conversas com os clientes para informá-los da política dos EUA em relação às exportações venezuelanas de petróleo.

Os Estados Unidos também emitiram uma licença geral que dá às empresas americanas um prazo de 90 dias para encerrarem as transações com a Rosneft, de acordo com um aviso no site do Departamento do Tesouro. As sanções anunciadas nesta terça congelam quaisquer ativos da unidade da Rosneft Trading mantidos nos EUA e também punem Didier Casimiro, presidente da junta diretora da empresa, identificado como um "elemento chave para orientar o setor petroleiro venezuelano".

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A Rússia condenou as sanções dos EUA, dizendo que elas representavam uma concorrência desleal e não a impediriam de continuar trabalhando com a Venezuela. O Ministério das Relações Exteriores russo disse que a medida prejudicaria ainda mais as abaladas relações entre Washington e Moscou e minaria o livre comércio global .

No ano passado, os Estados Unidos reconheceram o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela e começaram a aumentar as sanções e a pressão diplomática sobre o governo de Maduro.

'Papel cada vez mais central'

Segundo um alto funcionário do governo americano que preferiu não se identificar, a decisão de impor sanções à Rosneft Trading S.A. foi autorizada pelo presidente Donald Trump. No sábado, o secretário de Estado, Mike Pompeo , discutiu a questão com o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, em meio à Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

— Esta é uma reação ao crescente e cada vez mais central papel da Rosneft nos assuntos da Venezuela, particularmente no decorrer do ano passado — o alto funcionário disse a repórteres em uma teleconferência. — As ações de hoje são uma demonstração do compromisso do presidente para garantir que haja uma transição democrática na Venezuela.

Não ficou claro, no entanto, se a medida desta terça-feira reduzirá a receita de exportação que flui para o governo de Maduro, que continua a contar com o apoio de Moscou, num antagonismo reminiscente da Guerra Fria .

A Rússia atuou como credor de última instância para a Venezuela, com o governo e a Rosneft fornecendo pelo menos US$ 17 bilhões em empréstimos e linhas de crédito desde 2006, além de apoio diplomático.

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A Rosneft é a maior empresa de petróleo do mundo em termos de produção cotada em bolsa. Através de unidades como a Rosneft Trading e a TNK Trading, a Rússia assumiu mais de um terço das exportações de petróleo da Venezuela no ano passado, de acordo com documentos da PDVSA e dados de rastreamento de navios. Com isso, as revende aos clientes finais, principalmente na Ásia. Dessa forma, tornou-se a maior intermediária do petróleo venezuelano em meio às sanções dos EUA.

As autoridades americanas disseram estar atentas à necessidade de agir com cautela ao atingir uma empresa tão grande e abrangente quanto a Rosneft, devido ao risco de causar danos não intencionais aos interesses americanos e de aliados.