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Política Radar

Dos 50 deputados líderes de influência no Facebook, mais da metade é estreante na Câmara

O partido com o maior número de influenciadores é o PSL do presidente Jair Bolsonaro, com 12, seguido pelo PT, com dez
Joice Hasselmann na Câmara, no dia da posse Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Joice Hasselmann na Câmara, no dia da posse Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

RIO — A renovação da Câmara dos Deputados veio das redes. Levantamento feito pelo Núcleo de Dados do GLOBO aponta que, dos 50 deputados mais influentes no Facebook, 27 — mais da metade — vão ocupar o cargo pela primeira vez . No grupo, destacam-se militares que cresceram no rastro do presidente Jair Bolsonaro e líderes dos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Por outro lado, na esquerda, os políticos mais influentes na rede são aqueles de carreira política estabelecida, como a atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

O Núcleo de Dados analisou as páginas dos 513 deputados eleitos, que contabilizaram 646,7 milhões de interações entre 1º de novembro de 2018 e 10 de janeiro de 2019. As páginas dos 50 mais influentes respondem por 91% das interações.

O partido com o maior número de influenciadores é o PSL do presidente Jair Bolsonaro, com 12, seguido pelo PT, com dez. As duas legendas têm as maiores bancadas na Casa. O PSL é a sigla que teve o maior crescimento, quando saiu da marca de um eleito em 2014 para 52 ano passado.

O partido também tem a deputada com mais interações. Joice Hasselmann, de São Paulo, somou 13,7 milhões de curtidas, comentários e compartilhamentos em suas postagens.

No DEM, Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL) eleito por São Paulo, e Luís Miranda, pelo Distrito Federal, são dois estreantes e os únicos nomes do partido entre os 50 mais influentes. Miranda mora nos Estados Unidos, ganhou popularidade com vídeos e usou massivamente a rede na campanha.

Deputados mais influentes nas redes
As páginas dos deputados federais eleitos registraram 646,7 milhões de interações entre 1º de novembro de 2018 e 10 de janeiro de 2019.
Os 50 deputados mais influentes respondem por 91% de todas as interações. No grupo dos 50, 27 são novatos no Congresso.
Os 10 parlamentares com mais interações no Facebook
Interações
Deputado
Partido
UF
13.778.497
Joice Hasselmann
PSL
SP
7.790.660
Kim Kataguiri
DEM
SP
4.187.943
Capitão Derrite
PP
SP
3.688.843
Sargento Fahur
PSD
PR
3.122.011
Eduardo Bolsonaro
PSL
SP
2.536.139
Carla Zambelli
PSL
SP
2.308.702
Gleisi Hoffmann
PT
PR
2.105.153
Marco Feliciano
PODE
SP
2.050.174
Jandira Feghali
PCdoB
RJ
2.012.486
Alexandre Frota
PSL
SP
Top 50 por partido
Top 50 por UF
PSL
SP
12
16
10
9
PT
RJ
PSOL
7
7
RS
PR
PODE
3
5
DF
DEM
2
3
PSB
2
CE
2
PSC
2
MG
2
PSD
2
SC
2
Avante
1
AM
1
MDB
1
GO
1
Novo
1
MT
1
PCdoB
1
PA
1
PDT
1
PP
1
1
PR
PRB
1
Pros
1
PRP
1
Deputados mais
influentes nas redes
As páginas dos deputados federais eleitos registraram 646,7 milhões de interações entre 1º de novembro de 2018 e 10 de janeiro de 2019.
Os 50 deputados mais influentes respondem por 91% de todas as interações. No grupo dos 50, 27 são novatos no Congresso.
Interações
Deputado
Partido
Joice
Hassel-
mann
13.778.497
PSL
Kim
Kataguiri
7.790.660
DEM
Capitão
Derrite
4.187.943
PP
Sargento
Fahur
3.688.843
PSD
Eduardo
Bolsonaro
3.122.011
PSL
Carla
Zambelli
2.536.139
PSL
Gleisi
Hoffmann
2.308.702
PT
Marco
Feliciano
2.105.153
PODE
Jandira
Feghali
2.050.174
PCdoB
Alexandre
Frota
2.012.486
PSL
Top 50 por partido
PSL
12
10
PT
PSOL
7
PODE
3
DEM
2
PSB
2
PSC
2
PSD
2
Avante
1
MDB
1
Novo
1
PCdoB
1
PDT
1
PP
1
PR
1
1
PRB
Pros
1
PRP
1
Top 50 por UF
SP
16
9
RJ
7
RS
PR
5
DF
3
CE
2
MG
2
SC
2
AM
1
GO
1
MT
1
PA
1

Estratégia digital tem riscos

Para Fábio Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, onde coordena o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), a última eleição mostrou que os políticos que são mais ativos nas redes ganharam mais relevância. Segundo ele, uma das estratégias para conseguir popularidade é a criação de um inimigo na política.

— Para valorizar suas pautas, muitos criam uma cultura de odiar os adversários políticos. É um modo de fazer com que a audiência odeie o inimigo e, por tabela, vote nesse candidato que cria esse processo — analisa.

Para Malini, há dois riscos neste modelo. O primeiro é o deputado ficar muito preso a uma mesma agenda e o segundo, criar uma audiência tóxica, que dificulte possibilidades de diálogo.

As siglas do Centrão — PP, MDB, PSD, PR e PRB — chamam atenção pelo descompasso entre as gordas bancadas, todas com mais de 30 deputados, e a baixa presença entre os mais influentes nas redes. Estes partidos oscilam entre um e dois representantes no grupo. No PP, o destaque é o novato Capitão Derrite, deputado federal eleito por São Paulo. A página de Derrite no Facebook registrou 4,2 milhões de interações no período em análise. O número é 70 vezes maior do que a segunda colocada do seu partido, Iracema Portella, deputada desde 2011 pelo Piauí.

Já no PSD, o líder em engajamento é o também militar Sargento Fahur, eleito deputado mais votado do Paraná. Fahur construiu sua base na rede social com postagens de frases de efeito sobre criminosos. Ele já tinha tentado se eleger em 2014, mas na ocasião teve apenas 50 mil votos. Quatro anos depois, com mais de 3 milhões de seguidores no Facebook e 160 mil inscritos em seu canal no YouTube, conseguiu 300 mil votos.

Apesar da popularidade nas redes, é possível que os parlamentares novatos nem sempre consigam levar o apoio do meio virtual para o dia a dia no Congresso. Segundo Emerson Cervi, professor do programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o eleitorado das redes é comprovadamente muito volátil.

— São pessoas que tendem a ser levados pela insatisfação e que não têm uma ligação duradoura e permanente com esses líderes, muitos mudam de apoio e lado facilmente. Além disso, vário eleitos não têm experiência de atuação no Congresso, e podem não avançar com a velocidade esperada nos assuntos institucionais, o que cria maior chance de desgastes.

Para Cervi, a menor popularidade de políticos da esquerda ou de veteranos no Facebook não pode ser resumida ao fato de saber ou não usar a ferramenta, mas sim ao momento político que o país vive.

— Vivemos em 2018 uma eleição como em 1982, quando o eleitor se deparou com um sistema de governo absolutamente descartado e houve uma avalanche de votos naqueles que pareciam estar fora desse sistema. Acredito que isso foi refletido nas redes e nas urnas. Não é um determinismo tecnológico, é resultado do fim de um ciclo político.