Política

Site usa post falso para atacar repórter citada por Bolsonaro

Repórter foi atacada nas redes após divulgação de conversa a respeito do caso Fabrício Queiroz

RIO —  O site "Terça Livre" e o jornalista Allan dos Santos, responsável pelo portal, citaram dois posts falsos, atribuídos à repórter Constança Rezende, do jornal "O Estado de S. Paulo", para atacá-la nas redes sociais.

O primeiro compartilhamento foi feito ontem à noite, na conta de Allan no Twitter, e o segundo foi exibido hoje de manhã pelo mesmo jornalista, num live, no Facebook do "Terça Livre". Ambas as postagens exibidas seriam do perfil @constacarezen , atualmente desativado e que não pertence à jornalista.

O primeiro post, feito na conta pessoal de Allan no Twitter, exibe um print de um suposto post feito pela conta @constancarezen, em que Constança Rezende teria escrito que seu perfil oficial foi derrubado por denúncias fakes e que "os BolsoBurros estão colocando a #EstadãoMentiu, mais (sic) não foi isso que aconteceu". O post jamais foi escrito por Constança.

Jornalista divulga post falso, atribuído a repórter de "O Estado de S.Paulo" Foto: Reprodução
Jornalista divulga post falso, atribuído a repórter de "O Estado de S.Paulo" Foto: Reprodução

Num live que foi ao ar no Facebook do "Terça Livre" na manhã desta segunda-feira, o jornalista Allan dos Santos exibiu um outro print, de um post também atribuído ao perfil @constancarezen, no qual Constança teria escrito: "O Brasil virou uma ditadura. Morte como a da Marielle deixou bem claro isto. Parabéns! Lugar de mulher é onde ela quiser! Não vão calar a nossa voz". Assim como no caso anterior, não há nenhuma ligação de Constança com a conta nem com a postagem.

Post feito por perfil falso, atribuído a jornalista do Estadão Foto: Reprodução
Post feito por perfil falso, atribuído a jornalista do Estadão Foto: Reprodução

O ataque é o segundo lance de uma polêmica iniciada ontem. Uma acusação falsa publicada pelo site "Terça Livre" e compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro, no Twitter, foi desmentida pelo jornal "O Estado de S. Paulo" . O "Terça Livre" divulgou trechos de uma conversa telefônica de Constança, da sucursal do "Estado" no Rio de Janeiro, sobre as investigações de denúncias contra Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.

Segundo o site, na gravação, que teria sido obtida por um jornalista francês, Constança teria dito que "a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo". A frase, no entanto, não aparece nas gravações divulgadas pelo próprio site.

No Twitter, Bolsonaro afirmou que Constança Rezende "diz querer arruinar a vida de Flávio Bolsonaro e buscar o impeachment do presidente" e lembra que Constança é filha do jornalista Chico Otavio, repórter do GLOBO. O presidente conclui: "Querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos".

O "Estado de S.Paulo" publicou um texto em seu blog de checagem de fake news, com o título "Site bolsonarista distorce entrevista de repórter do Estado o e promove desinformação".

Na gravação, Constança não fala em "intenção" de arruinar o governo ou o presidente. A conversa, em inglês, tem frases truncadas e com pausas e apenas trechos selecionados foram divulgados. Na nota publicada em seu site, o "Estado" diz que "em determinado momento, a repórter avalia que 'o caso pode comprometer' e 'está arruinando Bolsonaro', mas não relaciona seu trabalho a nenhuma intenção nesse sentido".

O jornal esclareceu que Constança Rezende não deu entrevista ao jornalista francês citado pelo "Terça Livre". As frases da gravação foram retiradas de uma conversa que ela teve em 23 de janeiro com uma pessoa que se apresentou como Alex Mac Allister, suposto estudante interessado em fazer um estudo comparativo entre Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Relatório do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou que Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta entre 2016 e 2017. Em depoimento ao Ministério Público, ele admitiu que recebia parte dos salários de outros servidores do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, e usava os recursos para contratar outros funcionários.