Rio

Anotações indicam vazamento da Operação Furna da Onça

Papéis apreendidos nas residências de parte dos presos têm recomendações para destruição de provas

O secretário de Governo, Affonso Monnerat, chega à Polícia Federal
Foto: Marcia Foletto /
Marcia Foletto / 08.11.2018
O secretário de Governo, Affonso Monnerat, chega à Polícia Federal Foto: Marcia Foletto / Marcia Foletto / 08.11.2018

RIO - O Ministério Público Federal (MPF) encontrou indícios de que, mesmo preso há mais de um ano, o deputado estadual Paulo Melo (MDB) e outros alvos da Operação Furna da Onça agiram para tentar obstruir investigações sobre um esquema de corrupção dentro da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). As informações tomam como base anotações apreendidas que apontam pagamentos mensais de propina a dez parlamentares, que, em troca, votavam de acordo com interesses do governo estadual. Eles também são acusados de lotear cargos no Detran.

Os indícios de tentativas de obstrução ao trabalho de investigadores são citados numa sentença do desembargador federal Abel Gomes, que transformou a prisão temporária de seis deputados em preventiva, atendendo a um pedido do MPF. A solicitação foi embasada na suspeita de que informações sobre a Operação Furna da Onça vazaram antes de sua realização, na última quinta-feira.

Orientações por escrito

Em sua decisão, Abel Gomes detalha o teor de anotações apreendidas pelo MPF e pela Polícia Federal na casa da chefe de gabinete de Paulo Melo, Andreia Cardoso do Nascimento. De acordo com promotores, ele a orientou, por escrito, a “destruir elementos de convicção, apagando registros de conversas, e-mails, fotos em redes sociais, dentre outras ações.”

Segundo o MPF, parte das anotações apreendidas durante a Operação Furna da Onça têm grafia semelhante à encontrada em vários apontamentos de Fábio Cardoso do Nascimento, irmão de Andreia e também assessor de Melo. Um trecho escrito em uma delas chamou a atenção de investigadores: “Preciso de cópias das operações: decisão, inquérito policial, Ministério Público. Operações: Rio 40 graus + Eficiência + Tolypeutes + Fatura Exposta + Retatouille + Quinta do Ouro + Saqueador + Xepa + Calicute + Ponto Final”. Há também uma recomendação comprometedora: “Você precisa continuar conversando com amigo, outras operações vão surgir com continuação das investigações das empresas citadas. Vão tentar manter ele aqui ( sic ) com novos dados. Veja se estão agindo, é fazer o que tem que ser feito.”

Andreia e Fábio tiveram prisão preventiva decretada e se apresentaram nesta terça-feira à Polícia Federal. A assessoria de Paulo Melo informou que não comentaria o assunto.

Computador sem arquivo

Para o MPF, está claro que a Operação Furna da Onça vazou. O deputado Coronel Jairo (Solidariedade) se internou em um hospital na véspera da chegada de policiais federais à sua casa, alegando problemas cardíacos. Em sua residência, agentes encontraram um único computador, que estava sem arquivos ou histórico de navegação pela internet.

Nas casas do deputado Chiquinho da Mangueira (PSC) e do secretário estadual de Governo, Affonso Monnerat, as buscas da Polícia Federal também foram infrutíferas: nada foi encontrado. Também foram infrutíferas as buscas no gabinete de Marcos Vinícius Ferreira Neskau (PTB).

Em relação à prisão de Monnerat, investigadores relataram uma curiosidade: contaram que, quando chegaram à sua casa, por volta das 6h, ele estava “arrumado”, havia preparado uma mala e tinha em mãos um envelope com um diploma de curso superior.

A Operação Furna da Onça resultou no cumprimento de 22 mandados de prisão. Os deputados André Corrêa (DEM), Luiz Martins (PDT) e Marcos Abrahão (Avante) também permanecem detidos em caráter preventivo, ou seja, sem prazo para soltura.