Por Henrique Coelho, G1 Rio


Obra que evitaria crise da água no Rio está parada há dez anos

Obra que evitaria crise da água no Rio está parada há dez anos

Um levantamento do Comitê da Bacia do Rio Guandu indica que, de agosto a dezembro de 2019, 56% das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) de dez municípios da bacia do rio estavam com problemas de funcionamento ou com operação paralisada. São 44 das 78 estações presentes.

O resultado disso é o despejo de 10 milhões de litros de esgoto in natura por dia no Rio Guandu ou seus afluentes, segundo especialistas do comitê.

Em resposta enviada ao G1, a Cedae informou que opera quatro estações de tratamento de esgotos na área da Bacia do Rio Guandu, e as quatro estão em operação.

Informou ainda o seguinte:

"Em relação à Estação de Tratamento de Água do Guandu, estão previstos mais de R$ 700 milhões em investimentos na modernização da ETA até 2022. Deste total, mais de R$ 120 milhões serão investidos já este ano.

Vale informar ainda que os investimentos em saneamento serão ampliados com o modelo de concessão em elaboração, que prevê investimentos de cerca de R$ 32 bilhões, o que permitirá avançar com celeridade, principalmente quando falamos de esgotamento sanitário, que historicamente não acompanhou o desenvolvimento das cidades e não alcançou grandes avanços nos últimos anos".

Lagoa que se forma em frente ao ponto de captação da Estação do Guandu, no RJ — Foto: Francisco de Assis/ TV Globo

Os dados estão em um relatório do projeto "Raio X do Esgotamento", ao qual o G1 teve acesso. O Guandu é responsável pelo fornecimento de água de 70% da Região Metropolitana do Rio.

A Estação de Tratamento do Guandu passa nesta semana por aplicações de carvão ativado após problemas com o gosto e cheiro da água que chegaram às torneiras do consumidor carioca desde o início do ano. O carvão, segundo a Cedae, será adicionado na quinta-feira (23) à água da Estação do Guandu.

O equipamento encomendado pela Cedae serve para pulverizar o produto na água tratada. De acordo com a companhia, o carvão ativado vai retirar da água a geosmina, uma enzima liberada por microalgas que segundo análise da Cedae é a responsável por alterar o gosto e o cheiro da água.

Uma reunião na manhã de quarta-feira (22) definiu a criação de uma nova estação de tratamento de esgoto no Sul Fluminense, de onde vem a água consumida por boa parte da Região Metropolitana. A nova estação, em Piraí, vai custar R$ 17 milhões.

Levantamento das estações

Estações de Tratamento de Esgoto da Bacia do Guandu

Municípios Estações em operação Estações com restrições Estações paradas
Japeri 3 0 3
Nova Iguaçu 13 17 8
Mendes 0 0 0
Engenheiro Paulo de Frontin 0 0 0
Paracambi 0 1 4
Mangaratiba 7 0 0
Piraí 2 0 0
Seropédica 0 0 3
Queimados 9 0 8
Rio Claro 0 0 0

Segundo o Comitê da Bacia do Guandu, dez municípios participaram do levantamento: Japeri, Nova Iguaçu, onde está localizado o Rio Guandu; Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin, Paracambi, Mangaratiba, Piraí, Seropédica, Queimados e Rio Claro.

O Comitê afirma que, procurada, a prefeitura do Rio não respondeu ao levantamento. Segundo o relatório, o Plano Estratégico de Recursos Hídricos do Comitê Guandu, da Zona Oeste do Rio, tem 16 estações de tratamento de esgoto. Não há, no entanto, informações sobre o seu funcionamento.

Outros quatro municípios não responderam ao comitê: Miguel Pereira, Barra do Piraí, Vassouras e Itaguaí.

Em Nova Iguaçu, município com o maior número de estações de tratamento entre os que responderam à pesquisa (38), 17 estações operavam com restrições e oito estavam totalmente fora de operação, somando 25, quase 66% das ETEs do município.

A estação de Guandu, que terá carvão ativado implantado nesta quinta, fica no município.

Em Queimados, são 8 sem funcionar e 9 em funcionamento. Em Seropédica, nenhuma das três estações de tratamento estava em operação entre agosto e dezembro de 2019.

Entre os problemas destacados, estão:

  • Problema operacional não identificado;
  • Baixa vazão no tronco coletor;
  • Problemas associados a instalação elétrica da estação;
  • Furtos de cabos e equipamentos;
  • Falta de bombas devido a furtos, depredação da população, má utilização da bomba, entre outros.
  • Estação não possui rede coletora associada;
  • O processo de tratamento não entrega a eficiência de tratamento prevista em projeto;
  • Ausência de licenças ambientais;
  • Entupimento na rede;
  • ETE não teve sua obra finalizada;
  • Problemas na linha de recalque;
  • Em ato convocatório para operação e manutenção.

O que é o comitê

O Comitê das Bacias Hidrográficas dos rios Guandu, da Guarda e Guandu-Mirim foi criado em decreto do Governo do Estado do Rio em 2002. O órgão é ligado ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI). 

Respostas

Procurada, a Cedae não respondeu até a publicação desta reportagem.

Em nota, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou:

"A Secretaria Municipal de Meio Ambiente esclarece que as Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) da Área de Planejamento (AP5), estão localizadas em rios que não deságuam no Rio Guandu.

Nenhum rio do Município do Rio de Janeiro deságua no Rio Guandu. Na AP5, existem mais de 16 ETEs. São 17 públicas, mais as ETE´s particulares, que somam aproximadamente 100 unidades, operadas pela Concessionária Zona Oeste Mais.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente tem uma área específica para licenciamento de ETEs e fazemos o acompanhamento de todas as licenças e sua fiscalização no âmbito do Município do Rio de Janeiro.

Qualquer irregularidade constatada é passível de sanções administrativas. De acordo com relatório da Fundação Rio-Águas, 4 ETEs operadas pela Zona Oeste Mais estão em processo de reforma.

A Secretaria de Meio Ambiente enviou na data de hoje as respostas aos questionamentos do Comitê da bacia de guandu."

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