• Rafael Faustino
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Marcos Didonet, diretor do Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente (Foto: Fabio Lisi)

Marcos Didonet, diretor do Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente (Foto: Fabio Lisi)

Geógrafo de formação e cineasta de carreira, Marcos Didonet acompanha há algum tempo discussões e ações concretas em prol da sustentabilidade, causa que ele escolheu abraçar em sua trajetória. Diretor do Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente e organizador de sete edições do Green Nation, um dos grandes eventos brasileiros para conscientização sobre o tema, ele acredita que houve avanços significativos em como se trata o assunto no país.

Para ele, é possível dizer que a sustentabilidade deixou de ser apenas um discurso, e entrou de vez na prática das companhias.

“Há dez anos, quando se tentava falar com as empresas, cada uma só queria saber do próprio negócio. Hoje, elas sabem da responsabilidades que possuem. A sustentabilidade deixou de ser uma moda bacana para se tornar uma necessidade das companhias”, diz Didonet.

Provas disso, diz ele, são atitudes como a da Ambev, que prometeu ter 100% de suas bebidas comercializadas em embalagens retornáveis ou feitas de material reciclado até 2025. A fabricante é uma das apoiadoras do evento, mas só foi aceita como tal por causa dos compromissos ambientais estabelecidos.

“Hoje, você nem é autorizado a exportar produtos se não tiver o ISO 14001 [normas de gestão ambiental]. E a consequência é que vemos o público geral indo mais atrás de artigos saudáveis para consumir”, diz Didonet, citando o selo que regulamenta sistemas de gestão ambiental dentro das empresas.

No Green Nation, que acontece no parque do Ibirapuera, em São Paulo, até 31 de março, várias ações são assinadas por grandes empresas que buscam se associar à sustentabilidade. Mas o que marca mesmo o evento são as experiências que ensinam a importância da preservação ambiental de forma imersiva e/ou tecnológica.

Realidade virtual é aliada da conscientização ambiental no Green Nation. Neste "voo" de asa delta, o público sobrevoa marcos natruais brasileiros como o Parque da Tijuca (RJ) e as Cataratas do Iguaçu (PR) (Foto: Fabio Lisi)

REALIDADE VIRTUAL É ALIADA DA CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL NO GREEN NATION (FOTO: FABIO LISI)

 


A realidade virtual está em várias atrações, seja levando o visitante ao fundo do mar para alertar sobre as grandes quantidades de plásticos nos oceanos ou para voar de asa delta sobre as várias exuberâncias naturais do Brasil — das Cataratas do Iguaçu (PR) ao Rio Negro (PR). Em outras instalações, um videogame que reconhece os movimentos do visitante simula a ida a um açude para buscar água com diversos obstáculos naturais, para sensibilizar o público sobre as condições de vida no semiárido.

São, ao todo, 13 atrações fixas, além de oficinas, palestras e mostras de cinema que acontecem ao longo do evento, que tem uma estimativa de 8 a 10 mil visitantes ao dia.

A intenção, segundo os organizadores, é conectar uma preocupação que envolve temas complexos aos métodos narrativos mais familiares para o público jovem e infanto-juvenil, que são os principais foco do evento — mais de 300 escolas levaram e levarão seus alunos ao Green Nation.

“Não adianta falar de sustentabilidade se não sabemos falar a linguagem do público jovem. E a linguagem dos mais novos hoje são a interatividade e a gamificação. Alguém que passe pelo nosso 'Túnel do Lixo' e veja qualquer coisa de plástico no chão, com certeza vai pegar e jogar no lixo de forma correta”, diz Jairo Joares, CEO da Figtree&Co, parceira de inovação do evento. Na instalação citada por ele, ao recolher os resíduos incorretamente descartados em uma tubulação que desemboca num rio, o visitante vê a água se purificar e a vida fluir nas projeções à sua volta.

Depois de encerrado o evento, todos os jogos virtuais e conteúdos apresentados serão disponibilizados no site do Green Nation, para que pessoas de outras regiões possam se inteirar, e escolas o associem a seus materiais didáticos.

Ações versus palavras


Em outras edições, o Green Nation acompanhou alguns dos maiores eventos globais sobre o meio ambiente. Em 2012, precedeu a Rio+20. Seis anos depois, aconteceu paralelamente ao Fórum Mundial da Água, em Brasília.

Uma das 13 instalações do Green Nation é uma casa à semelhança das que há no semiárido. Lá, visitantes aprendem sobre a importância da economia da água, um bem escasso para quem vive nesse clima (Foto: Fabio Lisi)

UMA DAS 13 INSTALAÇÕES DO GREEN NATION É UMA CASA À SEMELHANÇA DAS QUE HÁ NO SEMIÁRIDO. LÁ, VISITANTES APRENDEM SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ECONOMIA DA ÁGUA, UM BEM ESCASSO PARA QUEM VIVE NESSE CLIMA (FOTO: FABIO LISI)



Acompanhando os debates políticos a respeito do tema, Marcos Didonet viu também a reação surgida recentemente entre governos e correntes na sociedade, simbolizada, por exemplo, pelo negacionismo ao aquecimento global — opinião presente em governos como os de Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Para ele, trata-se de algo passageiro, “que não vai se sustentar porque não é embasado cientificamente”. E que o mais importante é que políticas públicas que levem em conta as mudanças climáticas continuem a ser colocadas em prática.

“O que eu vejo é que as instituições que devem se preocupar continuam trabalhando normalmente. A Embrapa segue estudando sementes que sobrevivam a temperaturas de 2, 3 graus mais altos, mesmo que o governo tenha outra opinião [sobre o aquecimento global]”, comenta.

Mais determinante para a sustentabilidade do que opiniões políticas sobre o assunto, afirma o diretor do evento, é o que a sociedade faz a respeito. E os bons exemplos estão se multiplicando, em sua visão.

“É só ver os investimentos em carros elétricos, alimentos mais saudáveis, o crescimento do slow fashion. As empresas estão mais simpáticas à sustentabilidade e as pessoas estão se conscientizando”, aposta Marcos Didonet.