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Rio

Subsecretária de Witzel minimiza geosmina na água: ‘Tem na beterraba’

Na mesma reunião, gerente de Qualidade da Cedae afirmou que gosto de terra na água é sentido por ‘pessoas mais sensíveis’
Estação de Tratamento do Guandu: consumidores começaram a reclamar de gosto e cheiro ruins na água no início de janeiro. Até agora, situação não se normalizou Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Estação de Tratamento do Guandu: consumidores começaram a reclamar de gosto e cheiro ruins na água no início de janeiro. Até agora, situação não se normalizou Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — A subsecretária estadual de Recursos Hídricos, Diane Rangel, minimizou nesta quinta-feira a presença de geosmina na água distribuída pela Cedae. Para ela, a substância que tem dado gosto de terra e cheiro forte à água não representa um problema de saúde pública, pois também é encontrada na beterraba. Por sua vez, o gerente de Qualidade da Cedae, Sérgio Marques, afirmou que já não tem sentido o gosto de geosmina em casa e que há pessoas que só percebem alterações porque estão “sugestionadas” e “procuram o gosto”. As declarações foram dadas em uma reunião com representantes da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental.

—A gente monitora as cianobactérias e as toxinas que são liberadas por elas. Não havia esse risco, por isso não houve uma comunicação formal. Geosmina tem na beterraba. E muita gente come bastante beterraba. A presença de geosmina na água não é um risco efetivo à saúde, senão a beterraba teria que ser abolida do cardápio — disse a subsecretária de Recursos Hídricos, provocando risos de outros convidados.

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Procurada pelo GLOBO, Diane respondeu:

— Foi apenas uma analogia, mas a geosmina de fato não provoca mal à saúde. O Ministério da Saúde já se pronunciou. Ela causa um incômodo, que varia de acordo com cada um. Eu não quis dizer que o problema não tenha de ser solucionado.

Sérgio Marques foi além. Para ele, a Cedae já solucionou a questão.

— Não tem mais geosmina saindo de Guandu. Eu já não sinto mais o gosto lá em casa. Tem também o fator do sugestionamento. Tem gente que já prova a água procurando o gosto. Água potável não é inodora nem insípida. Você tem, por exemplo, que clorar a água. E isso muda o gosto. Tem pessoas menos sensíveis e outras mais sensíveis, que preferem água mineral. Mas aí é questão de gosto, não de saúde.

O GLOBO tentou entrevistar Sérgio Marques após a reunião, mas ele afirmou que não estava autorizado a falar. Presidente da Cedae, Hélio Cabral também não quis dar entrevista.

Uma integrante do Comitê Guandu, Diana Gelelete, que participou da reunião, foi indagada se está bebendo a água distribuída pela Cedae. Sem graça, respondeu: “Sou sensível ao gosto de beterraba. Não gosto de beterraba”. Contudo, ela acrescentou que voltará a dar uma chance à água da companhia.

Fiscais fecham 2 indústrias, mas não acham responsáveis

Técnicos da Secretaria estadual do Ambiente e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), com o apoio de policiais militares, vistoriaram nesta quinta-feira seis empresas do Distrito Industrial de Queimados . O objetivo era descobrir a origem do vazamento do detergente que levou ao fechamento da Estação de Tratamento de Água do Guandu por 14 horas. Duas foram multadas e outras duas, interditadas. No entanto, a vistoria não descobriu de onde saiu o produto que causou a poluição.

Há 32 indústrias instaladas no distrito, que foi fundado em 1976. As empresas ficam junto ao Rio Queimados, que desemboca na lagoa de captação da estação do Guandu. Análises laboratoriais mostram que o curso d’água tem níveis baixíssimos de oxigênio devido ao despejo irregular de dejetos. Enquanto equipes vasculhavam as empresas, outros agentes faziam um voo de helicóptero na região à procura de possíveis lançamentos de esgoto industrial sem tratamento.

Técnicos fazem vistoria no terreno da Nova Era, no Distrito Industrial de Queimados: empresa foi interditada por ter desmatado área às margens do Rio Queimados, e duas máquinas de terraplanagem acabaram sendo apreendidas Foto: Pablo Jacob / Agência O GLOBO
Técnicos fazem vistoria no terreno da Nova Era, no Distrito Industrial de Queimados: empresa foi interditada por ter desmatado área às margens do Rio Queimados, e duas máquinas de terraplanagem acabaram sendo apreendidas Foto: Pablo Jacob / Agência O GLOBO

Na operação desta quinta, a confecção Citycol foi interditada por falta de licenciamentos ambientais. Os fiscais do Inea autuaram ainda a empresa por lançar esgoto no meio ambiente sem o devido tratamento. As caixas de energia foram lacradas. Os fiscais também fecharam a desentupidora Nova Era por não respeitar o mínimo de 30 metros de faixa até o Rio Queimados e por descarte irregular de resíduos. Duas máquinas de terraplanagem que estariam sendo usadas para desmatar a área foram apreendidas. O responsável pela empresa foi levado para prestar esclarecimentos numa delegacia.

— Eles estão com esse problema da Cedae e começaram a fiscalizar tudo. Não jogamos nada no rio. As máquinas estão aí por causa da chuva que passou, para a gente poder andar e o caminhão passar — disse Célia da Silva, funcionária da Nova Era, acrescentando que a indústria tem todas as licenças.

Já a Burn, empresa de produtos de limpeza e higiene, foi multada por armazenamento irregular de matéria-prima e destinação incorreta do esgoto sanitário. O valor não foi divulgado. Os técnicos do Inea também estiveram na Piraquê, que recebeu uma multa de R$ 5 mil por descumprir um item do licenciamento. A empresa de alimentos foi intimada ainda a adequar a sua estação de tratamento de esgoto e implantar um dique de contenção, para evitar acidentes.

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O frigorífico Vifrio, que também passou pela vistoria, terá que fazer adequações ambientais. Na empresa Lanlimp, não foram encontradas irregularidades. Ao “RJ TV”, da Rede Globo, um diretor da Citycol afirmou que o local está com as operações paradas desde as vésperas do Natal e que a fábrica tem estação de tratamento de esgoto certificada pelo Inea. A Vifrio afirmou que as providências estão sendo tomadas, mas frisou que os problemas não provocam a poluição do rio. As outras empresas não se manifestaram.

A Secretaria de Meio Ambiente de Queimados também participou da operação. Grande parte da fiscalização das empresas instaladas no distrito é de responsabilidade do município, que conta com apenas dois agentes.

Em nota, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) disse que a fiscalização desta quinta foi uma “tentativa transferir para o setor produtivo a responsabilidade pela degradação da qualidade das águas do Rio Guandu, resultado da falta de implementação das políticas de saneamento”.

A Piraquê afirmou que "a equipe de fiscalização ambiental que visitou a unidade de Queimados esta tarde não evidenciou qualquer vazamento de efluentes para o rio próximo ao Distrito Industrial". E concluiu: "A unidade conta com estação de tratamento de efluentes oriundos do processo de fabricação de alimentos. Toda a água tratada é reutilizada para rega de jardins. A equipe de fiscalização, de forma preventiva, solicitou a construção de um dique na estação de tratamento, mesmo tendo verificado a inexistência de vazamentos, e notificou a empresa concedendo uma prazo para a execução da benfeitoria. A marca reitera que todas as sua plantas seguem rigorosamente a legislação sanitária e ambiental".