As medidas de liberação de liquidez adotadas recentemente pelo Banco Central (BC) têm impacto de R$ 1,2 trilhão, segundo apresentação do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Essa quantia é equivalente a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Para efeito de comparação, na crise financeira de 2008 o impacto foi de R$ 117 bilhões (3,5% do PIB).
Segundo ele, o BC prepara outras medidas para combater os impactos econômicos da pandemia do coronavírus, direcionadas a três frentes: empréstimos com lastro em letras financeiras garantidas por operações de crédito; novas liberações de depósitos compulsórios e estudo de meios para que os recursos cheguem às pequenas e médias empresas - evitando que elas enfrentem “dificuldades, sem ter fluxo de caixa”.
O BC, que nesta manhã anunciou a redução do recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo de 25% para 17%, não detalhou quanto mais poderia ser liberado. No entanto, Campos Neto garantiu que o sistema está “bem provisionado, com boa liquidez e capital sobrando”. Ele frisou que há grande incerteza no cenário econômico mundial e que a autoridade monetária tem de ter condições de fornecer liquidez para todo o sistema atravessar esse momento.
Esforço dos governos para conter crise não afasta pânico dos mercados
Na apresentação, o BC destaca: "Não hesitaremos em usar todo o arsenal disponível para assegurar a estabilidade financeira e o bom funcionamento dos mercados, e assim apoiar o funcionamento da economia brasileira".
Segundo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a autoridade monetária fez a maior liberação de compulsórios já adotada.
Ao explicar as novas medidas, Campos disse que o Depósito a Prazo com Garantias Especiais (DPGE) já foi adotado no passado e agora vai permitir um aumento de concessão de crédito de R$ 200 bilhões. Enfatizou ainda que será uma ação mais poderosa do que em 2009.
O presidente disse também que a flexibilização das regras da LCA gera potencial de R$ 2,2 bilhões de liquidez e que o empréstimo com lastro em debêntures tem potencial de liberação de R$ 90 bilhões. Explicou ainda que o BC fará uma ampliação do limite de letras financeiras de emissão própria, aumentando o volume de recompras de 5% para 20%, com potencial de recompra de R$ 30 bilhões.
Explicou também ter medida de não dedução do efeito tributário de overhedge de investimentos em participações no exterior, com folga de R$ 46 bilhões de capital e potencial de R$ 520 bilhões para concessão.
O presidente do BC afirmou que a autoridade monetária está olhando “setor a setor” para ver onde atuar e mitigar os efeitos da crise, citando os desdobramentos da pandemia em outros países. Na China, apontou ele, inicialmente, esperava-se um grande efeito na produção industrial chinesa, mas houve também muito impacto sobre os serviços. “Nos Estados Unidos, vemos um aumento de pedidos no seguro-desemprego". No Brasil, destacou o cancelamento de passagens áereas. “É um indicador de que a área de serviço foi afetada”, disse.
Campos Neto disse que um dos principais objetivos da autoridade monetária é manter a racionalidade do mercado. De acordo com ele, o “componente preço é importante”. “Tem que evitar potencial desorganização em que preços podem perder referência”.
Campos Neto destacou que o apetite de risco de investidores teve queda profunda e que presenciamos o “fly to quality”, ou seja, grande saída de dinheiro de mercados emergentes. “As reações de governos também têm indicado o grau de gravidade e incerteza”, disse completando que as turbulências financeiras vão estar conosco “por muito tempo”.
O presidente disse ainda que a crise mundial “veio em ondas”. A primeira ficou localizada na Ásia e houve entendimento de que a economia brasileira, por ser fechada, seria menos afetada. Na segunda onda, houve a visão de que o processo de distanciamento social impactaria fortemente os serviços. Campos Neto destacou que, no caso do Brasil, os serviços representam 60% do Produto Interno Bruto (PIB).
Ele destacou que as incertezas têm afetado o padrão de consumo e que no mundo empresarial “não é diferente”. “Pequenas e médias empresas têm incerteza de quanto tempo vão ter que navegar na crise. Estão em busca por liquidez”, colocou. Destacou ainda a alta do spread, que, na última semana, tem subido “de forma exagerada”.