Rio

Sem radares, mortes em estradas podem subir, dizem especialistas

Em 2008, 492 pessoas perderam a vida em acidentes nas estradas do Rio. No ano passado, foram 276, uma redução de 44%
Radares fixos na BR 101 Foto: Custódio Coimbra
Radares fixos na BR 101 Foto: Custódio Coimbra

Após dez anos de queda, o número de mortes em rodovias federais no Rio pode subir, na opinião de especialistas em trânsito, caso o presidente Jair Bolsonaro retire — como prometeu — os radares que controlam velocidade. Em 2008, 492 pessoas perderam a vida em acidentes nas estradas que cortam o estado. No ano passado, foram 276, uma redução de 44%, de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Bolsonaro afirmou que “as lombadas eletrônicas não serão renovadas quando perderem a sua validade” e que “é quase impossível você viajar sem receber uma multa”. Ele citou como exemplo a Rio-Santos.

— Alguns radares precisam ser reavaliados, mas a crítica generalizada não é correta. Para instalar uma lombada eletrônica, é preciso levar em consideração as pessoas que atravessam a via e a velocidade dos veículos. Ao tirar esses equipamentos, outras formas de proteger quem passa pela estrada devem ser adotadas. Se não, as mortes vão aumentar — afirmou Alexandre Rojas, do Departamento de Trânsito da Uerj.

O Estado do Rio tem, de acordo com o portal da Polícia Rodoviária Federal, 113 pontos de fiscalização eletrônica em rodovias controladas por concessionárias. Há mais 21 radares em estradas federais que não foram privatizadas, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura e Trânsito (Dnit).

O número de multas aplicadas por esses pardais passou de 416 mil, em 2017, para 626 mil, no ano passado. A arrecadação com o pagamento de multas também aumentou no mesmo período: de R$ 60 milhões para R$ 86 milhões.

— Se lombadas não forem instaladas em áreas residenciais e comerciais, o que é muito comum ao longo das estradas federais no Rio, você compromete a vida das pessoas que transitam por aquelas localidades — disse Fernando Diniz, presidente da ONG Trânsito Amigo.

Armando Souza, Presidente da Comissão Nacional de Trânsito da OAB, também prevê aumento de acidentes com o fim das lombadas:

— É verdade que existem locais em que os radares não se justificam mais. No entanto, radicalizar tirando todos trará mais efeitos negativos que positivos, e, certamente, vai contribuir para aumentar o número de acidentes e mortes.

O engenheiro mecânico e consultor automotivo Ricardo Arcuri sugere a revisão do limite de velocidade verificado por esses equipamentos:

— Os equipamentos são relevantes para manter um tráfego seguro, mas existem radares que estão posicionados quase como armadilhas de trânsito, não cumprindo o papel de educação ou conscientização, mas sim de arrecadação.

Ao criticar, nas redes socais, a instalação de novos radares nas rodovias do país, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que as empresas que exploram os pedágios nas estradas têm interesse na manutenção desses equipamentos. No sábado, o presidente tuitou, de Israel, onde cumpre agenda internacional, que suspendeu a instalação de oito mil novos radares nas rodovias federais. Segundo ele, ao renovar as concessões, o governo vai revisar “todos os contratos de radares, verificando a real necessidade de sua existência para que não sobrem dúvidas do enriquecimento de poucos em detrimento da paz do motorista".

“Por que queremos acabar com isso? É a indústria da multa, é para meter a mão no seu bolso, nada além disso. Não vamos achar que meia dúzia de pessoas aqui em Brasília estavam preocupadas com você se acidentar”, alfinetou o presidente, na última quinta-feira.

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias, que reúne as 54 maiores companhias do ramo, afirmou, em nota, que “não há arrecadação de multas pelas concessionárias em qualquer dispositivo eletrônico”. De acordo com a lei, todo o dinheiro das multas vai para os cofres do governo federal, que tem o dever de reaplicar essa verba na segurança do trânsito.