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Corrente olímpica: cartões escritos à mão unem grandes astros da Rio 2016

GloboEsporte.com promove troca de mensagens entre nomes importantes dos Jogos como Phelps, Riner, Semenya e Zé Roberto - até o vilão Ryan Lochte topou participar

Por Rio de Janeiro

 

Único brasileiro tricampeão olímpico, José Roberto Guimarães deu seu melhor à beira da quadra do Maracanãzinho, na Zona Norte do Rio. A 30km dali, na Arena Carioca 2, o francês Teddy Riner esticou sua incrível sequência invicta de seis anos para ser bicampeão no judô. Ele poderia ir andando até o Estádio Aquático, onde o mito Michael Phelps alcançou a inalcançável marca de 23 medalhas de ouro na carreira. A 18km daquela piscina, na pista azul do Engenhão, a sul-africana Caster Semenya venceu os 800m após mais um ciclo de sofrimento e desconfiança. Na Rio 2016, grandes personagens brilharam sem se cruzar. Era preciso, de alguma forma, criar um laço entre eles. Ao longo das duas semanas de competição, o GloboEsporte.com promoveu uma Corrente Olímpica com mensagens escritas de próprio punho por cada um. Agora é possível dizer que alguns dos maiores campeões da história do esporte estão conectados.

Corrente Olímpica - personagens (Foto: GloboEsporte.com)Corrente Olímpica: Zé Roberto, Teddy Riner, Michael Phelps e Caster Semenya participaram (Foto: GloboEsporte.com)

Tudo começou com Zé Roberto no papel de anfitrião. A ideia era fazer circular os dizeres: “Eu não sei quem vai receber este cartão. Mas sei que você é um herói. Seu país e sua família estão orgulhosos de você. Acredite”. Na parte de dentro, Zé escreveu sua mensagem pessoal e assinou. Àquela altura, não dava para saber quem receberia o envelope, mas a missão estava dada. E foi cumprida com alguns dos maiores nomes da Olimpíada. Com Zé, Riner, Phelps e Semenya, até o vilão Ryan Lochte entrou na história – um dia após assinar seu cartão, quebrou a corrente olímpica ao fabricar a história do assalto. Mas nem isso foi capaz de frear o espírito da troca de mensagens. Assista ao vídeo acima com os personagens recebendo e escrevendo seus cartões. E conheça a seguir todos os bastidores do acesso a figuras tão grandiosas.

Corrente Olímpica - Zé Roberto Guimarães CARTÃO (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)

Papel, caneta e espírito olímpico

A corrente começou no dia 8 de agosto, quando a seleção feminina de vôlei bateu a Argentina por 3 a 0 no Maracanãzinho. JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES foi apresentado à ideia, mas a assinatura do cartão só veio no dia seguinte, na Vila Olímpica. Em inglês, o técnico escreveu: "Boa sorte, desejo a você o melhor”. Sem saber quem seria o próximo da lista, fez questão de também mandar um recado.

- É um enorme prazer participar como anfitrião, recebendo os atletas no nosso país, na cidade do Rio de Janeiro, uma Olimpíada que a gente está fazendo com muito carinho, muito amor, muita paixão. Que consiga receber o calor do povo brasileiro, que acolhe todos de braços abertos como a imagem do Cristo Redentor.

A partir daí, o GloboEsporte.com iniciou a procura por grandes atletas. E numa tarde fria de quinta-feira, dia 11, um sujeito de casacão dos Estados Unidos apareceu na fila da lanchonete da Vila Olímpica. Meio estranho almoçar fast food em dia de competição, mas o cabelo verde não deixava dúvida: era mesmo RYAN LOCHTE, dono de cinco ouros olímpicos. Abordado na saída, ele se disse atrasado e sugeriu assinar o cartão à noite. Mas que horas ele voltaria à zona internacional da Vila?

- Umas 22h – e seguiu apressado.

Era só uma maneira de despistar, já que às 22h ele estaria no Estádio Aquático para nadar a final dos 200m medley. Terminaria em quinto lugar.

Corrente Olímpica - Ryan Lochte cartão (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)

Como Olimpíada às vezes é insistência, no dia seguinte a reportagem do GloboEsporte.com cruzou de novo com Lochte, em um evento na casa do seu patrocinador. E aí ele topou. Recebeu o cartão de Zé Roberto, assinou outro. Sem mensagem alguma, só a assinatura.

No mesmo dia, horas depois do encontro, Lochte começaria a se tornar o maior vilão dos Jogos do Rio, ao denunciar um assalto após uma festa. Ele e outros nadadores americanos teriam fabricado a história, no episódio mais polêmico das últimas semanas. O país de Lochte não parece mais tão orgulhoso dele, como diz a mensagem na capa do cartão. E ele mesmo pediu desculpas, em entrevista à TV Globo em Nova York (veja no vídeo a seguir). Veio então a dúvida: mantê-lo ou não na corrente? No espírito generoso da Olimpíada, a resposta foi: sim, vamos em frente.

 


O cartão assinado por Lochte encontrou um grande campeão. Grande mesmo, com 2,04m. Grande no esporte e no carisma. O francês TEDDY RINER não perde uma luta no judô há seis anos. No Rio, foi derrubando um por um até conquistar seu segundo ouro olímpico.

Corrente Olímpica - Teddy Riner CARTÃO (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)

Dois dias depois de competir, o campeão deu um pulo na casa da Adidas, seu patrocinador. A janela de cinco minutos para a entrevista era a chance de entregar o cartão. E o bom humor do gigante ajudou. Com a medalha pendurada no pescoço, Riner chegou brincando, arriscando palavras em português e rindo à toa. Curtiu a ideia da troca de mensagens e, apesar de ficar bem mais à vontade falando francês, pediu ajuda para escrever em inglês: “Realize seu sonho. Sem estresse, só confiança. Vai, cara!”

 

Demorou menos de 24 horas para esse cartão passar de uma lenda olímpica para outra – a maior de todas, na verdade. Era a vez de MICHAEL PHELPS. O americano já tinha embolsado suas seis medalhas no Estádio Aquático. Na noite da última segunda-feira, cumpriu uma rodada de entrevistas como embaixador Omega, na casa do patrocinador na Zona Sul do Rio.

Jornalistas esperam para entrevistar Michael Phelps casa Omega (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)Jornalistas do mundo todo esperam para entrevistar Phelps por alguns minutos (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)

O esquema era uma guerra de nervos: dezenas de jornalistas do mundo todo foram divididos em pequenos grupos de três ou quatro, e esses grupos iam se revezando em uma salinha para entrevistar o americano. Após uma espera de mais de três horas, o GloboEsporte.com teria dois minutos com o maior atleta olímpico de todos os tempos. Dois minutos. Na casa de um fabricante de relógios e cronômetros, não dava para contar com nenhum segundo extra.

Corrente Olímpica - Michael Phelps CARTÃO (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)

A rigidez era só do tempo: Phelps estava relaxado. Com uma camisa de botão cinza de manga curta, calça branca e tênis azuis, foi simpático ao responder às perguntas da jornalista alemã e dos dois chineses que formavam o grupo. Quando viu o cartão e soube que era de Teddy Riner, abriu um sorriso enorme e soltou um “Uau, incrível, obrigado!”. Depois, falou com calma:

- Para mim, só o fato de estar nos Jogos Olímpicos já é especial. Competir pelo meu país era um sonho de criança. Agora, chegar à minha quinta edição dos Jogos e encerrar aqui no Rio foi muito animador. Eu amei a cidade quando vim aqui outras vezes, e amo do mesmo jeito agora. A oportunidade de dividir o espírito olímpico com os maiores atletas do mundo, é isso que faz a Olimpíada tão grandiosa.

Caneta na mão, ele escreveu, enfático, cheio de exclamações: “Sonhe grande!! Nunca desista!!!”

Michael Phelps na Casa Omega (Foto: Divulgação)Campeão relaxado: o maior atleta olímpico de todos os tempos integrou a corrente de cartões (Foto: Divulgação)

Phelps não sabia quem receberia aquele cartão. Mas a mensagem foi perfeita, porque quem recebeu foi uma pessoa que teve todos os motivos para desistir. E não desistiu.

A corredora sul-africana CASTER SEMENYA não precisou apenas de bons tempos para competir nas Olimpíadas de Londres e do Rio. Após ganhar o ouro nos 800m do Mundial de Atletismo de Berlim, em 2009, teve sua feminilidade contestada. Enfrentou uma bateria de exames, desde DNA até análises clínicas. Com uma alteração cromossomática que a faz produzir testosterona acima da média, Semenya teve de provar que podia competir entre as mulheres. E como sugeriu Phelps, nunca desistiu.

Corrente Olímpica - Caster Semenya CARTÃO (Foto: Rodrigo Alves/GloboEsporte.com)

A pressão em cima da sul-africana é tão grande que ela cumpre uma rotina rara entre atletas olímpicos: nas eliminatórias e na semifinal dos 800m, passa direto pela zona de entrevistas, escoltada por assessoras, e só se pronuncia por comunicados oficiais. Tudo para fugir das questões que vão além da pista.

- Se ela parar, é um bombardeio – desculpa-se uma das assessoras.

Mas a troca de mensagens mexeu com a corredora de 25 anos. A combinação foi sempre por meio da assessora, que conversou com a atleta antes, entregou o cartão para ela após a semifinal e gravou o momento com o próprio celular. Semenya leu o texto e ficou surpresa quando soube que era de Michael Phelps. Levou o conselho a sério. Não desistiu. Dois dias depois, na noite deste sábado, voou na final dos 800m e ganhou seu primeiro ouro olímpico. Uma bela história na reta final dos Jogos.

 

Missão cumprida com Semenya, mas ainda havia o passo final. A corrente precisava voltar para José Roberto Guimarães. Com a eliminação precoce da seleção feminina nas quartas de final, o técnico já tinha voltado para São Paulo com a família, em busca de recuperação e sossego.

Mas Zé é um tricampeão olímpico.

A imagem marcante do abraço no neto, ainda na quadra, logo após a derrota para a futura campeã China, já mostrava que o treinador entende como poucos o que significam os Jogos.

 

E,  de casa, ainda digerindo a eliminação, ele gravou um recado em vídeo para os atletas que participaram da reportagem:

- Gostaria de agradecer a todos pela possibilidade de nós termos competido juntos. Independentemente das medalhas, conseguimos fazer da Rio 2016 uma Olimpíada grandiosa. Muito obrigado.

Nós é que agradecemos. Agora, sim, missão cumprida, corrente fechada.

Corrente Olímpica - cartões (Foto: GloboEsporte.com)Zé Roberto, Ryan Lochte, Teddy Riner, Michael Phelps e Caster Semenya: a Corrente Olímpica (Fotos: GloboEsporte.com)

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