O renomado gestor da Verde Asset, Luis Stuhlberger, assim como a esmagadora maioria dos gestores de fundos de investimentos ativos, que buscam se sobressair ao mercado, tem como o bem mais precioso a antecedência. Se interpretarem corretamente os sinais da economia e das empresas antes que os demais (ou, pelo menos antes que a maioria) se saem bem.
Mas, diante de uma crise sem precedentes como a causada pelo coronavírus, todos precisam lidar com a imprevisibilidade para ditar os investimentos. Mesmo sem ter como prever o que vem ainda pela frente e em que distância estamos do fundo do poço, Stuhlberger vê um claro aumento do risco no Brasil. O motivo é um combinado de rombo fiscal com dificuldade dos três poderes se entenderem.
“Essa crise leva a gente a ter desafios fiscais e de governabilidade que torna isso tudo mais incerto. Não é que deixei de estar otimista, só acho que o risco aumentou mais”, disse o gestor e sócio da Verde Asset em uma live organizada pela XP neste sábado à tarde.
Ao ser perguntado pelo presidente da XP, Guilherme Benchimol, sobre o Brasil daqui a cinco anos, se mantém uma visão otimista para o país, Stuhlberger respondeu que é uma resposta difícil.
“Se eu levar em conta o que aconteceu no Brasil nos últimos três anos - as reformas que foram feitas, além de poder conviver com juro e inflação baixos -, eu estava otimista e não acho que estava errado”, disse.
Para ele, a situação vai melhorar quando houver “algum sinal de paz entre o governo e os poderes”, se referindo ao constante bate-cabeça entre o presidente da República Jair Bolsonaro com os governadores, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
“Não consigo dizer que os poderes estarão em conflito permanentemente. Quem está no poder executivo quer resolver isso o mais rápido, é natural. Continuo otimista. Se eu não estivesse (otimista) teria uma posição menor do que eu tenho em bolsa brasileira”, diz o gestor.
Hoje, o fundo Verde tem mais ações americanas que locais e, recentemente, reduziu ainda mais sua posição no país, enquanto aumentou, gradualmente, em ativos do S&P 500, nos Estados Unidos.
Problema fiscal e previdenciário
Logo no início de sua apresentação, Stuhlberger apontou que uma crise como essa “não tem como o governo não ajudar”, mas que isso trará de imediato uma consequência fiscal problemática.
“O governo e o ministério da Economia tomaram boas atitudes, mas teremos que lidar com o problema fiscal em algum momento. Em dois anos, a crise nos tirará (o que será economizado com) a reforma da Previdência inteira, em termos de perda receita e aumento de gastos. Isso sem considerar que teremos que conviver com o vírus de forma permanente”, aponta o gestor, se lamentando que o Brasil estava quase zerando o déficit primário e que agora, só conseguirá em 2027.
O gestor reforça que os problemas fiscais não são culpa de ninguém, mas ressalta que é preciso tomar cuidado neste momento e recomenda que parlamentares, ministério da Economia e governo precisam entender o que de fato é gasto necessário e não é para evitar excesso de problema fiscal.
“O cenário é de ‘tem licença para matar’. Gasto aqui é gorjeta, com licença para gastar. O sentido assistencialista do Brasil está bem à flor da pele. Mas temos que provar que somos responsáveis e que os três poderes voltarão a agir em sintonia. O Banco Central também deve agir em sintonia. O BC não deve deixar os juros longos explodirem em taxa, o que nos atrapalharia mais ainda”, diz, se referindo também na influência dessas taxas para o custo de capital das empresas.
Para investir no Brasil, a equipe da Verde Asset escolhe ações de empresas de alta qualidade que estejam a preços atrativos.
“Focamos em empresas de qualidade na bolsa brasileira e que achamos que sobrevivam bem a essa crise e a outras que virão. O bom da correção é que nos dá oportunidade para focar nisso. Mantemos posição no Brasil, mas menor do que antes da crise”, comenta Stuhlberger.