Em meio a um cenário macroeconômico desafiador e com soluções ainda pendentes para os problemas de curto prazo do país, o Ibovespa perdeu força no pregão desta terça-feira e encerrou o dia em queda.
De acordo com analistas, a queda nas ações em Nova York tampouco ajudou o principal índice da bolsa local a registrar sua segunda sessão consecutiva de ganhos. Assim, o Ibovespa fechou o pregão em queda de 0,19%, aos 116.180,55 pontos, após ter oscilado entre os 117.270 pontos nas máximas do dia e 115.809, nas mínimas. O volume financeiro agregado negociado na B3 hoje foi de R$ 25,62 bilhões. Em Nova York, o Dow Jones caiu 0,84%, o S&P 500 recuou 0,57% e o Nasdaq anotou queda de 0,45%.
O mercado local de renda variável até ensaiou um dia mais positivo, impulsionado pelos dados de inflação ao consumidor abaixo das estimativas de consenso nos Estados Unidos - fato que deve afastar os temores de uma retirada mais apressada de estímulos no país - e de declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que esfriou as expectativas de uma elevação de juros superior a 1 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Apesar disso, a dinâmica negativa das expectativas com o país, com perspectivas de crescimento cada vez menores e taxas de juros mais altas, vem retirando o apetite de investidores por ativos de risco.
"Revisamos nossa projeção de crescimento do PIB de 5,7% para 5,3% em 2021 (após a divulgação do PIB do segundo trimestre de 2021 e dados recentes) e de 1,5% para 0,5% em 2022 (em função da taxa de juros mais alta)", afirma a equipe de pesquisa macroeconômica do Itaú, comandada por Mario Mesquita.
Assim, o banco passou a projetar alta da Selic em um nível mais contracionista, com três aumentos de 1 ponto percentual consecutivos e um último de 0,75 ponto ao longo das próximas reuniões, levando a Selic a 9,0% em 2022.
Nesse contexto, as blue chips pesaram nos negócios hoje e contribuíram para a fraqueza mais ampla do Ibovespa. Os papéis da Petrobras ON e PN caíram 0,67% e 1,18%, respectivamente, pressionados também pelos temores de interferência do governo na estatal.
Vale ON caiu 0,66% e os bancos fecharam em queda. Itaú PN, Bradesco PN, Banco do Brasil ON e Santander Units recuaram 0,62%, 0,89%, 0,93% e 0,65%, respectivamente.
O otimismo menor com o cenário local também foi captado pela pesquisa mensal do Bank of America (BofA) realizada com 31 profissionais de mercado, que supervisionam um total de US$ 77 bilhões em recursos.
Apenas 16% dos entrevistados esperam o Ibovespa acima de 130 mil pontos no fim do ano, uma queda em relação aos 49% que esperavam que o índice superasse o patamar no mês passado. "No Brasil, os participantes dizem que a visibilidade sobre a continuidade das políticas e reformas é mais relevante do que a história relacionada à reabertura econômica. Eles também se preocupam com o que a discussão das dívidas judiciais (precatórios) diz sobre a sustentabilidade e a abrangência do teto de gastos", diz o Latam Fund Manager Survey (FMS).
De acordo com a pesquisa, a parcela de gestores de recursos que planeja ampliar a alocação em ações nos próximos seis meses caiu a 10%, níveis similares aos observados durante o auge da crise provocada pela pandemia de covid-19, em 2020. A média histórica, segundo o BofA, é próxima de 35%.
"Enquanto tivermos um cenário tão polarizado para as eleições do ano que vem e uma terceira via tão pouco clara, é difícil imaginar uma tendência de alta para as ações locais. Não é impossível, mas é bem difícil", afirmou o estrategista-chefe da Davos Investimentos, Mauro Morelli.
Segundo ele, é difícil projetar um cenário mais otimista para a renda variável local, dado que o cenário internacional tampouco indica uma tendência de maior apetite por mercados emergentes. "Acho que, para quem quer correr riscos nos mercados acionários, talvez seja bom avaliar se as melhores alternativas estão mesmo dentro do Brasil. Acredito que há outros mercados com maior potencial de retorno em relação ao risco", afirma.