Os moradores de Sochi, na Rússia, sempre conheceram a delícia de viver num cenário deslumbrante. Eles desfrutam ao mesmo tempo o clima mediterrâneo às margens do Mar Negro e o ar puro da montanha aos pés da cordilheira do Cáucaso. Mas, desde de 2007, quando a cidade foi eleita para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em fevereiro, os cidadãos de Sochi vivem o desafio de morar num entulhado e imenso canteiro de obras. Foi escolhida sem ter os equipamentos esportivos e nem a infraestrutura necessária. Resultado: essas serão as Olimpíadas mais caras da história (assista ao vídeo).
Há cinco anos, o presidente Vladimir Putin anunciou que seria necessário um investimento de 24 bilhões de reais, mas não chegou nem perto. Os Jogos de Sochi custarão mais de R$ 100 bilhões de reais, ultrapassando os Jogos de Pequim em 2008, que chegaram a R$ 88 bilhões de reais. Londres, no ano passado, custou R$ 60 bilhões de reais para os Jogos de Verão. Em 2004, a Grécia investiu R$ 30 bilhões de reais nos Jogos de Atenas. Essas cifras fazem parecer que os jogos de Sydney em 2000 foram uma pechincha, R$ 7 bilhões de reais. E o Rio de Janeiro, em 2016, deve ter uma Olimpíada próxima do custo de R$ 28 bilhões de reais.
Olimpíadas de Inverno em Sochi, em fevereiro de 2014, ainda dividem os russos (Foto: Editoria de Arte)Numa pesquisa feita em setembro, 65% dos russos entrevistados afirmaram considerar todo esse investimento um desperdício de dinheiro. Mas a aprovação, ou desaprovação, era muito semelhante em Londres a menos de seis meses do início dos Jogos. Depois da competição, quase 90% dos ingleses disseram que valeu à pena. Sochi tem um longo caminho pela frente para também conseguir virar o jogo com a opinião popular.
- Eu não concordo com os Jogos em Sochi. Eu sou da Sibéria e acho que seria melhor e mais proveitoso para as cidades menores, nos Montes Urais. Aqui é quente, os Jogos precisam de neve e vai se gastar muito dinheiro com isso - conta uma turista à reportagem do “SporTV em Sochi”.
Obras, como a da Vila Olímpica, tomaram conta deSochi (Foto: Agência Reuters)
- É claro que temos sofrido nos últimos três, quatro anos, mas em cinco, seis anos, eles construíram muita coisa boa para a cidade, que será mais atrativa para o mundo todo e para os russos - defende o morador Grushko Sergey.
Londres e, principalmente Pequim, também precisaram erguer estádios e instalações do zero. A grande diferença de Sochi, e é isso o que mais pesa no orçamento, é que a cidade é muito pouco desenvolvida no que diz respeito à infraestrutura básica de transporte, energia e telecomunicação.
Dos mais de R$ 100 bilhões de reais que a Rússia vai investir nesses Jogos, "apenas" 14 bilhões estão sendo gastos em estádios e locais de treinamento, pouco se comparado aos gastos com estradas, por exemplo. Sochi, que é considerada a cidade mais longa da Europa com 145 quilômetros de costa, atualmente tem uma única estrada que corta a cidade, a Avenida Rurortiny. No total, até janeiro, serão entregues 160 quilômetros de novas estradas e ruas em Sochi, ao custo de R$ 42 bilhões de reais. Esse será o maior investimento e legado para a cidade.
Tocha enfrentará muito frio na Rússia até chegar aSochi (Foto: Divulgação)
Apesar do investimento nas estradas, o principal meio de transporte público será por estradas de ferro. Serão entregues 30 estações de trem, que serão elétricos. Atletas, torcedores e jornalistas vão se beneficiar de uma linha que vai ligar o distrito de Adler, onde fica o Parque Olímpico, a Rosa Khutor, na montanha de Krasnaya Polyana, onde serão as competições de ski, snow board e bosled. Essa nova malha ferroviária vai absorver R$ 13,2 bilhões de reais do investimento total. A linha entre o Parque Olímpico na costa e as competições na montanha vai transportar 8.500 passageiros por hora, com trens de dez em dez minutos durante os Jogos. E de trem se atinge um dos locais de prova em Krasnaya Polyana, a chamada "clareira vermelha".
As obras no aeroporto estão concluídas e a capacidade aumentou de 1.600 para 3.800 passageiros por hora. A infraestrutura de comunicação recebeu investimentos de R$ 520 milhões de reais e mais de 300 quilômetros de fibra ótica passando por todas as instalações olímpicas, inclusive, é claro, pelo centro internacional de imprensa. Um gigantesco prédio vai abrigar cerca de 12 mil integrantes da mídia internacional, representantes de televisões de mais de 100 países.
As olimpíadas de inverno são um deleite para o olhos, o que existe de mais quente sobre o gelo e a neve.
Medalhas olimpíada dos Jogos de Inverno de Sochi já estão prontas (Foto: Agência Reuters)