• Ana Laura Stachewski
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Profissional da Singu: empresa já adotava máscaras e luvas como padrão antes mesmo da pandemia (Foto: Divulgação)

Profissional da Singu: empresa já adotava máscaras e luvas como padrão antes mesmo da pandemia (Foto: Divulgação)

Fundado em 2015, o delivery de serviço de beleza Singu reúne hoje 5 mil profissionais, das quais cerca de 4 mil são manicures. Elas atendem em domicílio no Rio de Janeiro (RJ) e na Grande São Paulo – que, por decreto da prefeitura ou do estado, estão em quarentena desde o dia 24 de março. A empresa então criou um fundo para apoiar financeiramente as profissionais no período.

A campanha começou com a venda de vouchers para a arrecadação dos recursos, que poderiam ser obtidos como adiantamento e diluídos dos ganhos mais tarde, quando os serviços fossem retomados. Mas um pronunciamento do governador de São Paulo (SP), João Doria, motivou uma mudança na estratégia no estado.

No dia 31, durante coletiva de impresa, ele afirmou que profissionais de beleza, como manicures, não estavam proibidas de prestar serviços em domicílio. A Singu então permitiu que profissionais cadastradas na plataforma voltem a atender se quiserem – e passou a destinar os lucros sobre cada serviço a um novo fundo. Este permitirá fazer doações, em vez de "empréstimos", àquelas que estão no grupo de risco e não podem voltar a trabalhar.

“Recebemos mensagens de profissionais dizendo que estavam passando fome ou que tinham 80 reais para passar a semana toda. Ajudamos como pudemos, com cestas básicas. Mas com o pronunciamento vieram as medidas atuais”, afirma o fundador do negócio, Tallis Gomes.

Ele diz que a decisão foi tomada com base em pesquisas e conversas com empreendedores de outros países. Nas redes sociais, a empresa também diz ter realizado uma pesquisa na qual 90% das profissionais afirmou precisar voltar a trabalhar imediatamente.

Na postagem, usuárias se dividiram entre elogios e críticas à medida. Gomes diz que a demanda registrada agora equivale a 50% do habitual. “Muitos consideram que melhor do que fazer caridade é dar condições para elas poderem trabalhar”, diz.

Tallis Gomes, fundador da Singu (Foto: Divulgação)

Tallis Gomes, fundador da Singu (Foto: Divulgação)

Mais proteção do que antes
Entre as condições da mudança está a proibição de que profissionais do grupo de risco, como pessoas com mais de 50 anos, realizem atendimentos no período. Elas receberão apoio financeiro do fundo mantido pela empresa e não precisarão arcar com nenhum débito depois.

Já as que voltarem a realizar atendimentos terão de utilizar novos equipamentos de proteção, como sapatilhas cirúrgicas, utilizadas por cima dos sapatos. Gomes diz que as máscaras e luvas já faziam parte da rotina, assim como a esterilização dos materiais. Agora, porém, as profissionais podem retirar os itens gratuitamente no escritório da empresa em Pinheiros. “A gente se preparou, porque sabíamos que iríamos precisar”, diz Gomes.

A Singu usualmente fica com 35% do valor de cada serviço realizado. Pelas próximas semanas, abriu mão do lucro e destinará tudo o que for arrecadado ao fundo de apoio às profissionais impedidas de atuar. Já as que puderem, mas optarem por seguir o isolamento, poderão recorrer ao adiantamento dos ganhos. Cada profissional poderá solicitar entre R$ 200 e R$ 1,3 mil por mês. Segundo o fundador, a média hoje está em R$ 300.

Os valores ‘emprestados’ serão descontados progressivamente dos serviços que elas prestarem depois, sem juros ou prazo para terminar de pagar. Se preferirem, também podem cobrir o valor com dinheiro. Gomes diz que até agora não houve nenhum caso relatado de profissional que contraiu a covid-19, mas que, se houvesse, ela se enquadraria no fundo que doa recursos.

Ele também diz que a pandemia não muda os planos de expansão da Singu. Ele tem planos de checar a novos estados ainda este ano – e acredita que o modelo de negócio se adapta muito bem aos novos hábitos. “Nessa era em que pessoas vão evitar aglomerações e priorizar hábitos de higiene, a Singu não poderia estar melhor posicionada”, diz.