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Compra em massa dos EUA à China cancela contratos de importação de equipamentos médicos no Brasil, diz Mandetta

Segundo o ministro, há também uma busca elevada por respiradores
Paciente com respirador na UTI Foto: Taechit Taechamanodom / Getty Images
Paciente com respirador na UTI Foto: Taechit Taechamanodom / Getty Images

BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta , afirmou que compras feitas pelo Brasil de equipamentos de proteção individual, como máscaras e gorros, da China "caíram" após os Estados Unidos adquirirem um grande volume de produtos. Segundo Mandetta, a mesma corrida por respiradores tem ocorrido. Ele disse que "demos um passo atrás" na aquisição desses itens fundamentais ao enfrentamento ao covid-19.

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— Hoje os Estados Unidos mandaram 23 aviões cargueiros dos maiores para a China, para levar o material que eles adquiriram. As nossas compras, que tínhamos expectativa de concretizar para poder fazer o abastecimento, muitas caíram.

Mandetta disse que, no caso de respiradores, importantes para pacientes graves, fornecedores que já tinham sido contratados, mas disseram que não tinham mais estoque para atender.

— Nós estávamos comprados, tínhamos, quando começamos a pedir. Entregaram a primeira parte. Na segunda parte, mesmo com eles contratados, assinados, com o dinheiro para pagar, quem ganhou falou: não tenho mais os respiradores, não consigo te entregar. Então, nós voltamos de algo que a gente achava que a gente já tinha, demos um passo para trás.

Mandetta voltou a falar que será preciso normatizar o uso de máscaras N95, considerada mais moderna para filtrar o ar. Segundo ele, o equipamento terá o nome de cada profissional de saúde e será esterilizada para ser usada por diversas vezes.

— A gente espera que a China volte a ter uma produção mais organizada, e a gente espera que os países que exercem o seu poder muito forte de compra já tenham saciado das suas necessidades para que o Brasil possa entrar e comprar a parte para proteger nosso povo.

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Mandetta afirmou que o problema atual é de "sistema" e a aquisição só estará concretizada quando o produto estiver "na mão". Ele deu exemplo de uma compra recente de 8 mil respiradores, mas que não pode ser contabilizada porque há riscos de não ser entregue no atual cenário. O ministro disse que há um estoque "enxuto", mas não deu números nem estimou até quando ele é suficiente:

— Eu só acredito na hora que estiver dentro do meu país, na minha mão. Eu tenho um contrato, um documento, um dinheiro para comprar. Às vezes o colapso é: você tem o dinheiro, e não tem o produto. Não adianta ter o dinheiro — afirmou Mandetta.

— Você pode ter o PIB do país e dizer: eu quero comprar. A fábrica não consegue te atender. O mundo inteiro também quer. Temos um problema hoje de demanda hiper aquecida sobre são os itens-chave.

Mandetta reclamou de quebras de contrato, por causa de fornecedores que estão deixando de entregar para ganhar mais, no cenário de alta demanda:

— Está havendo uma quebra entre o que você compra, assina e o que efetivamente você recebe. E isso está acontecendo porque, às vezes, chegam pessoas que falam pra quem vende: "Você vendeu por quanto? Vendeu por 10. E a multa? A multa é de 20%. Então eu te pago a multa, te pago os 10% e te pago mais tanto para você vender para mim".

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O ministro disse, ao comentar as compras dos Estados Unidos na China, que será necessário, após a pandemia passar, discutir a concentração de produção de itens necessários à preservação da vida em um só país:

— Espero que nunca mais o mundo cometa o desatino de fazer 95% da produção de insumos que decidem a vida das pessoas num único país. Isso é uma das partes das discussões do pós-epidemia.

Segundo ele, as secretarias estaduais de Saúde estão abastecidas atualmente, exceto eventuais problemas pontuais, mas apelou a gestores locais que façam suas compras também:

— A compra que o Ministério da Saúde está tentando fazer centralizada é um esforço. Façam vocês também, localmente internacionalmente. Os recurso que a gente repassa podem ser usados.

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No sábado, porém, Mandetta deu orientação diferente, ao reclamar de competição entre União com estados e prefeituras nas compras de equipamentos de proteção individual. O ministro disse, na ocasião, que um mesmo equipamento chegou a ser "vendido duas, três vezes". Mandetta vinha defendendo que só o ministério comprasse.

— Por que se segura máscaras, EPIs? Porque, se deixar aberto, começa uma competição tão grande entre estados, municípios, empresas privadas. Todos começam sistematicamente a predar um ao outro. Começa a haver aquela sensação de que, se eu não for mais ousado, se eu não for mais duro que o outro, eu não consigo ter o o material — disse ele, no sábado.

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O Ministério da Saúde afirmou, no entanto, que apenas a compra de respiradores foi centralizada. É preciso ter autorização da pasta para adquirir os equipamentos.

Em entrevista por telefone ao jornalista José Luiz Datena para o Brasil Urgente, da Band, o presidente reconheceu que há um problema na compra de equipamentos médicos da China por conta da competição com países mais ricos, como apontou Mandetta.

— É um problema. Eu conversei há 10 dias com o presidente Xi Jinping [da China], tratamos desse assunto, ele falou que estava à disposição. Até a ligação foi dele para mim, não foi minha pra ele -mas não tem nenhum problema se fosse minha pra ele, não tem problema nenhum. E, na medida do possível, eu acredito que o governo chinês vai distribuir alguma coisa para nós também, acredito nessa possibilidade — declarou o presidente.

Em seguida, ele deu como exemplo um contato do Brasil com a Índia para adquirir insumos para a produção do reuquinol, medicamento à base da hidroxicloroquina, e disse que talvez nesta quinta-feira um avião decole de lá para cá.