Rio

Voluntária fixa garrafas com água e sabão para ajudar na limpeza das mãos, no Rio

Paisagista Alessandra de Freitas se inspirou em uma ação vista pelas redes sociais no combate ao coronavírus
Paisagista ajuda uma menina a limpar as mãos Foto: Gustavo Goulart/O Globo
Paisagista ajuda uma menina a limpar as mãos Foto: Gustavo Goulart/O Globo

RIO — Voluntária por natureza, desde que se engajou num projeto social de Daniel Azulay , falecido na semana passada , Alessandra de Freitas, de 46 anos, está causando comoção em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio, com uma iniciativa para proteger a população local do contágio pelo novo coronavirus. Paisagista por formação e hipnoterapeuta — ela trabalha com hipnose e regressão a vidas passadas — por vocação, ela está afixando em postes próximos aos pontos de ônibus do bairro garrafas pet com sabão líquido e água . O objetivo é que os usuários limpem as mãos antes de embarcarem em ônibus. Mas o fato é que toda a comunidade em volta está sendo beneficiada, em tempos de coronavírus .

Crivella com coronavírus ? Prefeito não confirma oficialmente se está com Covid-19 e grava vídeo, sem máscara, sobre autismo

A iniciativa começou a ser executada na semana passada, quando uma amiga postou no Instagram imagens de uma mulher não identificada fazendo a mesma coisa. Não demorou muitos minutos para que Alessandra pegasse duas garrafas pet em sua casa e saísse às ruas para escolher o ponto ideal para começar o trabalho voluntário.

— Em casa não temos o costume de beber refrigerantes. Por isso, tenho dificuldades em conseguir garrafas pet. Passei na lixeira do condomínio para ver se tinha mais garrafas, mas não encontrei. Então fui só com duas mesmo. Fui nas proximidades de uma comunidade que tem aqui perto, a Cascatinha, ao lado de um lixão, e amarrei numa árvore a garrafa com sabão, a garrafa com água e o bilhetinho. "Lave suas mãos, se proteja e proteja o próximo. Se você observar que acabou a água ou o sabão, envie mensagem para o meu WhatsApp que venho aqui repor" — diz a recado, que contém o telefone de Alessandra (97455-4442) para também receber doações de garrafas pet.

Serviço : O GLOBO lança robô que tira dúvidas e desmente boatos sobre coronavírus

Alessandra prega a garrafa pet em um dos postes próximo a uma comunidade, em Vargem Grande Foto: Gustavo Goulart
Alessandra prega a garrafa pet em um dos postes próximo a uma comunidade, em Vargem Grande Foto: Gustavo Goulart

Ela postou em seu Instagram imagens da ação. E contou que pessoas que estavam no entorno chegaram a achar graça da iniciativa e que outras elogiaram. Mas a decepção veio depois através de amigos.

— No mesmo dia eu recebi muitas mensagens de amigos criticando, pois eu postei no meu Instagram. Diziam que eu não deveria ter feito aquilo colocado o meu número de telefone porque eu poderia receber trotes, pessoas pedindo dinheiro e isso me aborreceu. Eu falei para eles: "Gente, pelo amor de Deus, isso não é hora de fazer críticas. Se você está incomodado faça melhor. Eu fiz o melhor que eu pude. Vou deixar meu telefone sim, não tenho medo de trote, não, e o máximo que eu posso fazer é bloquear o número que está me 'trotando'. E só. Porque nesse momento o que é preciso é ajudar" — respondeu Alessandra.

Infectados no Rio: Número de casos de coronavírus do Rio pode ser dez vezes maior, diz secretário estadual de Saúde

Críticas e elogios por ação

Hoje, os produtos já estão afixados em cinco postos próximos a pontos de ônibus do bairro e das comunidades Pombo sem asa, Cascatinha e Canal. Alessandra lembra que no primeiro dia recebeu uma mensagem pelo WhatsApp de um Comerciante da Cascatinha agradecendo por ter lembrado da comunidade e oferecendo seis garrafas PET.

— Tenho recebido elogios e críticas. Quando eu instalei os produtos no poste, as pessoas que estavam no ponto e logiaram, acharam engraçado esse tipo de atitude e foram até tirar fotos. Esse foi um aspecto positivo. Nesta quinta-feira, quando fui colocar num ponto de ônibus próximo a Water Planet, e também perto ao acesso a uma comunidade, tive um feedback negativo. Uma mãe com duas crianças da comunidade respondeu à filha que perguntou o que era aquilo: "Isso é frescura de gente rica, porque agora tem essa frescura de que é preciso lavar as mãos o tempo todo. E aí tem essa gente com palhaçada de que tem que lavar as mãos" — relata a carioca, que completementa:

Calendário do IPVA : Em meio ao coronavírus, vencimentos do IPVA não são alterados no calendário; veja datas

— Eu não disse nada, respeitei as crianças. Fiquei quieta, acabei meu serviço e fui embora. Mas achei um absurdo. É o que eu falo com meu marido e meus filhos. Podem me achar louca por estar fazendo isso ou por ser zen, budista, mas estou fazendo isso para as comunidades. Por que são os moradores dessas comunidades que estão no mercado de trabalho. Essas pessoas que trabalham nos mercados, nas farmácias, nas padarias, são as que estão ajudando a propagação da doença  — justificou.

Alessandra diz estar se sentindo cumprindo uma missão.

— Meu sentimento é de missão cumprida. Não ligo para o que está acontecendo ao redor de forma negativa. Sempre fui voluntária de muitas coisas. Para mim os feedbacks negativos e positivos sempre foram coisas comuns  — diz.

Atendente Virtual : Atendente virtual orientará população do Rio sobre sintomas do coronavírus e quando procurar assistência médica

Voluntária com Daniel Azulay

Ela lembrou de quando foi voluntária em apoio a Daniel Azulay o que serviu para descobrir situações muito complicadas.

— Fui voluntária do Daniel Azulai dentro de uma comunidade. Como sei desenhar ele me dava todo material para que desse aulas de arte e de desenho para crianças. E pelo lado do desenho a gente conseguiu descobrir muitas coisas a nível psicológico nas crianças. Vom esse trabalho junto com o Daniel conseguimos descobrir muitas crianças que eram abusadas sexualmente dentro das comunidades. E isso através dos desenhos. E aí faziamos encaminhamento para psicólogos  — conta a paisagista.

Idosos em hotéis : Coronavírus: Procura de idosos por vagas em hotéis oferecidos pela prefeitura ainda é baixa

—Depois eu comecei a me envolver com a população de rua. Junto com amigos, arrecadava alimentos, produtos de higiene. Nosso ponto de encontro era em Botafogo onde fazíamos as quentinhas e desenhavámos mensagens muito positivas — finaliza.