Brasil Educação

Bolsonaro nomeia militar para cargo de 'número 2' do MEC

Tenente brigadeiro do ar Ricardo Machado Vieira já foi chefe do Estado-Maior da Aeronáutica; atualmente, era assessor especial da presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Ricardo Machado Vieira já foi secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa Foto: Divulgação/Ministério da Defesa
Ricardo Machado Vieira já foi secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa Foto: Divulgação/Ministério da Defesa

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro nomeou ontem o tenente-brigadeiro do ar Ricardo Machado Vieira para o cargo de secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), o segundo na hierarquia da pasta. Machado já foi chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. Em fevereiro, tornou-se assessor especial da presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Entenda a crise que se instaurou no MEC na gestão Vélez, com onda de demissões

A nomeação ocorre em meio ao desgaste do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que ontem se reuniu com Bolsonaro. O presidente tem criticado publicamente o modo como Vélez conduz a pasta.

O Planalto já estaria avaliando nomes para substituir o titular da Educação. Há uma resistência a entregar o ministério a um político, o que poderia ser visto como a prática de um “toma lá, dá cá” que o governo tanto critica. A escolha de Machado para a Secretaria-Executiva alimenta os rumores de que o tenente-brigadeiro possa assumir a pasta interinamente, com a demissão de Vélez, que pode ocorrer na semana que vem, após Bolsonaro retornar de uma viagem a Israel.

O MEC é palco de disputa de poder desde o início deste mês. Seguidores do ideólogo de direita Olavo de Carvalho — o grupo dos “olavetes”, como se designam — abriram a crise nas redes sociais ao denunciar militares e técnicos da pasta, que estariam remanejando “olavetes” para cargos periféricos, em uma tentativa de neutralizar a influência de Olavo.

Ministro quer rever livros didáticos Foto: Divulgação/Câmara
Ministro quer rever livros didáticos Foto: Divulgação/Câmara

Depois de demitir e remanejar aliados do ideólogo, Vélez foi forçado a dispensar indicados originários da carreira militar e demitiu servidores da chamada “ala técnica” da Educação. Apesar disso, o ministro perdeu apoio entre “olavetes” e foi alvo de críticas do próprio guru de Bolsonaro.

Indicações vetadas

A fragilidade de Vélez ficou nítida quando ele anunciou dois secretários-executivos, Rubens Barreto e Iolene Lima, e não conseguiu nomeá-los, por imposição do Planalto. Antes, havia demitido o titular, Luiz Tozi, após pressão de Olavo.

O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que a indicação de Machado não é uma intervenção de Bolsonaro na gestão do MEC. O nome do “novo número 2”, diz Barros, foi escolhido por Vélez.

— Como o presidente vem afirmando e reafirmando, as decisões internas de cada ministério, em particular a escolha de recursos humanos, são do próprio ministro — disse Rêgo Barros.

Auxiliares do presidente, no entanto, apontam que a escolha foi conjunta, uma vez que a ala militar do entorno de Bolsonaro já vinha traçando possíveis saídas para a crise que assola a pasta. O nome do tenente-brigadeiro foi defendido pelo coronel Marcelo Mendonça, assessor parlamentar do MEC, e pelos ministros Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Com pouca experiência em Educação, o brigadeiro foi nomeado em 2015, na gestão Dilma Rousseff, secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa. No início do ano, tornou-se assessor especial no FNDE, autarquia do MEC responsável pela operação de grandes programas, como o Fies e a compra de livros didáticos.

Segundo um educador que acompanha a crise do ministério, a nomeação de Machado é um duplo teste: reduzir a presença de “olavetes” na pasta e observar o impacto da queda de influência do guru do presidente no MEC.