• Paulo Gratão
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Carpaccio de barriga de salmão do Kitchin: prato agora será para entrega (Foto: Divulgação)

Carpaccio de barriga de salmão do Kitchin: prato agora será para entrega (Foto: Divulgação)

Refeições para entrega não são novidade há um bom tempo, mas alguns restaurantes ainda resistiam em colocar o pé nesse terreno. Em alguns casos, a justificativa era a proposta de experiência e exclusividade do ambiente, em outros, a logística do próprio produto. No entanto, diante da pandemia do coronavírus que culminou no isolamento social, essas barreiras precisaram ser quebradas: quem quisesse continuar a vender precisaria sair de suas cadeiras e correr para as ruas.

O empreededor Gabriel Abrão é um desses casos. O restaurante de culinária japonesa Kitchin, em São Paulo, foi desenvolvido para que o consumidor pudesse desfrutar do ambiente e do atendimento, além da refeição. No entanto, com o ambiente vazio, a comida se tornou a única protagonista. “Foi uma decisão pelo momento que estamos passando. Sempre fomos cuidadosos com essa questão do delivery por entender que de alguma forma poderia nos desviar do nosso foco que era entregar comida com qualidade.”, diz.

O Kitchin tem um restaurante de rua e outro dentro do shopping JK Iguatemi. Desde a última sexta-feira, 20, apenas o de rua continua aberto e com um foco maior nas entregas.

Gabriel Abrão, cofundador do Kitchin e Su (Foto: Divulgação)

Gabriel Abrão, cofundador do Kitchin e Su (Foto: Divulgação)

Para divulgar as vendas por delivery, o empreendedor recorreu às redes sociais. Os clientes poderão pedir os pratos por telefone e WhatsApp, em um primeiro momento. Eles já estão em negociações para inserir o cardápio no iFood. Outro restaurante do mesmo grupo, o Su, já tem uma experiência com delivery e ajudou nessa transição. “Usamos as mesmas embalagens, só trocamos a comunicação visual. O cliente não virá mais no restaurante, mas ainda acreditamos que todo detalhe faz a diferença na experiência de consumo. Queremos nos diferenciar nos mais pequenos detalhes, como no saquinho de shoyu. A própria embalagem tem um formato para que o consumidor sinta que está recebendo um presente”, afirma.

Abrão diz que os investimentos foram os menores possíveis e a empresa disponibilizará funcionários próprios para fazer as entregas de moto. “Ele consegue refletir um pouco da nossa brigada receptiva e alegre e entregam com o nosso jeito”, diz.

Mais gelado ainda

Eduardo Schlieper, CEO da Slice Cream (Foto: Agen Publicidade)

Eduardo Schlieper, CEO da Slice Cream (Foto: Agen Publicidade)


A rede de franquias Slice Cream também tem a experiência como ponto forte no negócio. A marca vende gelatos artesanais em fatias. Com o fechamento de shopping centers na Grande São Paulo, eles precisaram adequar seus produtos para que conseguissem viajar até o consumidor.

O fundador Eduardo Schlieper já vinha testando o delivery desde janeiro, mas o modelo não chegava a representar 30% das vendas. Só na semana passada, saltou para 90%, e agora será praticamente 100%, pois quase todas as franquias estão em shopping centers que foram temporariamente fechados.

O empreendedor precisou investir cerca de R$ 50 mil em embalagens resistentes e em uma nova linha de gelatos que já saem prontos da fábrica, próprios para o delivery, que devem estar disponíveis em até dez dias. Os produtos atuais precisaram passar por alterações para chegarem inteiros à casa do cliente. “No quiosque trabalhamos com uma temperatura de 18 a 20 graus negativos, mas para o delivery tivemos que baixar isso para até 35 graus negativos”, explica.

Coworking de cozinhas de última hora

Luiz Breda, dono dos restaurantes da Rua 24 Horas (Foto: Divulgação)

Luiz Breda, dono dos restaurantes da Rua 24 Horas (Foto: Divulgação)


A Rua 24 Horas é um dos pontos turísticos de Curitiba. Os sete restaurantes presentes faturam com a vinda de visitantes de diversas partes do país e do mundo, mas agora precisaram fazer o fluxo inverso e ir até o consumidor residente na própria capital paranaense. 

O dono dos restaurantes do local, Luiz Breda, decidiu usar o único estabelecimento que fica fora da galeria, o Pezzo Italian, como hub para quatro marcas: o próprio Pezzo, Bávaro, Prinzen e Açaí All Inclusive. A partir dali serão feitos e enviados os pratos das quatro marcas, como um coworking de cozinhas, todos os dias, das 19h às 2h. O horário normal dos restaurantes é até às 22h30. “Ninguém está entregando na madrugada e quisemos pegar essa fatia. A gente não sabe quanto tempo dura essa crise. Tentamos fazer toda essa virada com o mínimo de custo possível, com os equipamentos e estoque que já tínhamos.”

Rua 24 Horas é um dos pontos turísticos de Curitiba (PR) (Foto: Divulgação)

Rua 24 Horas é um dos pontos turísticos de Curitiba (PR) (Foto: Divulgação)

Ele recrutou alguns dos funcionários que poderiam assumir a operação nesse horário e não dependeriam de transporte público, para evitar contaminações e colocar o projeto emergencial de pé. Desde a última sexta-feira, 20, os pratos começaram a ser entregues.

Antes, ele tinha uma pequena logística de entrega de marmitas, que não chegava a 5% do faturamento, mas isso ajudou a entender como preparar os produtos para viajar. “Não era foco, eu estou em um ponto turístico. Trabalhávamos para o cliente vir até nós, não o contrário.”

Breda pretende adaptar algumas novas receitas a partir do estoque que já tem para não precisar fazer investimentos nesse período. As entregas serão relizadas por funcionários do próprio grupo e terão frete grátis em um raio de até 2 km. Ele ainda divulga que os clientes podem optar por receber gratuitamente um sachê de 10ml de álcool gel 70% – produto mais disputado do momento. “TInhamos um pouco no restaurante e estamos disponibilizando para o cliente.”

Planos antecipados

Loja da Casa de Bolos (Foto: Divulgação)

Loja da Casa de Bolos (Foto: Divulgação)


A Casa de Bolos vinha testando um aplicativo próprio para entregas, mas para atender apenas uma baixa quantidade de clientes no Rio de Janeiro e com lançamento previsto para maio. A pandemia, no entanto, adiantou os planos da rede de franquias. “Não conseguíamos garantir a qualidade e integridade do bolo na entrega. No entanto, diante desse cenário de isolamento social, precisamos fazer essa mudança”, explica o diretor administrativo financeiro da rede, Daniel Ramos.

Eles iniciaram as primeiras entregas na última quarta-feira, 18, e vão nacionalizar a partir de hoje. “A solução que pensamos foi um tipo de isopor próprio para acondicionar os bolos, que vai dentro da bag, em um espaço que não fica balançando. Chega inteiro para os clientes”

Em um primeiro momento, Ramos diz que a marca pretende atuar apenas com o aplicativo próprio, sem marketplace, devido às taxas cobradas. Os motoboys serão prestadores de serviços contratados pelos próprios franqueados. Atualmente, a rede tem 370 lojas em todo o Brasil e todas vão operar dessa forma. A rede investiu quase R$ 70 mil no desenvolvimento do aplicativo, marketing e estrutura necessária para fazer os bolos viajarem.