Por Sílvio Túlio, Vitor Santana e Rodrigo Gonçalves, G1 GO


Goiás tem protestos contra cortes de recursos na educação

Goiás tem protestos contra cortes de recursos na educação

Estudantes e educadores ocuparam na tarde desta quarta-feira (15) a Praça Universitária, em Goiânia, durante protesto contra os cortes de recursos na educação anunciado pelo Ministério da Educação (MEC). Organizadores estimam que até 25 mil pessoas tenham participado da manifestação. A Polícia Militar acompanhava o ato, mas não informou cálculo do público.

Os manifestantes eram do Instituto Federal de Goiás (IFG), Instituto Federal Goiano (IF Goiano), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Estadual de Goiás (UEG). Às 16h, eles fizeram uma passeata rumo à Praça Cívica, a cerca de 1 km de distância.

Os estudantes cantavam “quem disse que acabou, quem disse que sumiu, aqui está o movimento estudantil”, durante o ato.

Manifestantes fazem caminhada da Praça Cívica até a Praça Universitária, em Goiânia — Foto: Rodrigo Gonçalves/G1

Centenas de faixas e cartazes com frases em defesa da educação e contra o corte eram ostentadas pelos manifestantes, que gritavam também palavras de ordens. “Não vai ter corte, vai ter luta”, entoaram.

O ato ocorreu simultaneamente em várias cidades de Goiás e do país. Houve protestos desde o início do dia. Algumas escolas e universidades suspenderam as aulas por conta dos atos.

Goiânia tem protesto contra cortes na educação — Foto: Rodrigo Gonçalves/G1

O casal Tatiele Tristão e Alex Tristão foi ao ato com os filhos gêmeos Bernardo e Eduardo. O pai dos bebês é professor do IF Goiano e a mãe aluna da UFG. “A gente vai lutar mais ainda. Esse é só o começo", disse Tatiele.

“Estamos demarcando posicionamento em defesa da educação pública. Garantir o futuro dos nossos filhos”, afirmou Alex.

Casal levou filhos gêmeos à protesto em Goiânia contra cortes na educação — Foto: Rodrigo Gonçalves/G1

Por volta das 17h15, os manifestantes chegaram em frente ao Palácio Pedro Ludovico Teixeira, sede administrativa do governo. A Polícia Militar fez um cordão de isolamento em volta do palácio. Segundo a PM, um grupo de mascarados colocou fogo no lixo em frente ao local, mas não houve confronto e o ato continuou de forma pacífica.

Durante a manifestação, a presidente do Sintego, Bia Lima, fez críticas ao governo de Goiás.

“Não vamos aceitar nenhum corte nem do governo Caiado e nem do Bolsonaro. Não aceitamos o corte no Passe Livre Estudantil, não vamos aceitar o desmantelamento da UEG. Paga dezembro Caiado, paga o que deve aos professores", disse.

Lima vestia uma camiseta com a foto do professor Júlio César Barroso de Sousa, morto por um aluno de 17 anos na Escola Estadual Céu Azul, em Valparaíso de Goiás, em 30 de abril.

Presidente do Sintego veste camiseta em homenagem a professor morto por aluno em Valparaíso de Goiás — Foto: Sintego/Divulgação

O ato foi encerrado por volta das 18h. Para a diretora nacional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Stefany Kovalski, a manifestação cumpriu seu papel.

“Vejo como muito positivo e mostra mais uma vez que a entidades estudantis estão vivas e conseguiu reunir estudantes de diferentes ideias, mas todos estão em defesa da educação”, comentou a líder estudantil.

Estudantes se concentram na porta da UFG em Catalão, no sudoeste do estado — Foto: Izadora Resende/TV Anhanguera

Em Goiânia, o G1 visitou pela manhã alguns colégios, que amanheceram com as portas fechadas, como por exemplo, a Escola Municipal Manoel José De Oliveira, no Setor Bueno. Cerca de 290 alunos ficaram sem aula na unidade.

Segundo informou a TV Anhanguera a presidente do Sintego, Bia de Lima, 80% das escolas estaduais de Goiás estão fechadas e 70% por cento das escolas municipais também não abriram nesta quarta-feira. Ainda segundo ela, todas as universidades e institutos federais do estado não tiveram aula.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação e Esporte de Goiânia (SME) afirmou que o ato é "legítimo" e que "69% das instituições de ensino da rede municipal aderiram ao movimento, totalizando 245 unidades, que suspenderam suas atividades do dia". As aulas perdidas serão repostas.

O G1 entrou em contato com as Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e aguarda retorno.

Moradores vão às ruas de Jataí para protestar contra cortes — Foto: Asafe Alcântara/TV Anhanguera

Jataí

Em Jataí, na região sudoeste do estado, várias pessoas se concentraram na porta da regional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) em apoio à mobilização. Elas seguiram em passeata até a Praça Diomar Menezes. A PM calculava que 500 pessoas participavam do ato. Os organizadores ainda não estimaram público.

Além das escolas, o campus da Universidade Federal de Jataí, da UFG, também estava fechado. Cartazes foram colocados informando que as aulas foram suspensas em apoio aos atos contra o bloqueio. Segundo a TV Anhanguera, 300 professores e 4 mil alunos aderiram ao movimento na instituição.

Catalão também tem protesto na porta do IF Goiano — Foto: Izadora Rezende/TV Anhanguera

Catalão

A mesma situação aconteceu em Catalão, na região sudeste. Estudantes se concentraram na porta da UFG e do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) e caminharam até a Praça Marca Tempo, no centro, onde realizaram o protesto. As duas universidades e algumas escolas do município estão sem aula.

De acordo com o Sintego, das 17 escolas estaduais, sete aderiram ao movimento. As escolas municipais não estão participando.

Estudantes fazem protesto pelas ruas de Anápolis — Foto: Marina Demori/TV Anhanguera

Anápolis

Em Anápolis, a 55 km de Goiânia, estudantes e professores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e de escolas da rede estadual foram às ruas com faixas e cartazes. Segundo a organização, cerca de 300 pessoas compareceram. A PM não estimou número.

A Secretaria Municipal de Educação informou que nenhuma escola vinculada à prefeitura deixou de ter aulas. Outras 19 escolas estaduais aderiram e paralisaram as atividades.

Servidores da UEG participam de protesto em Itumbiara — Foto: TV Anhanguera/Reprodução

Itumbiara

No sul do estado, em Itumbiara, os manifestantes se reuniram na Praça São Sebastião e seguiram pela Avenida Paranaíba, a principal da cidade. A organização afirmou que 500 pessoas participaram. A PM não enviou cálculo.

A Secretaria de Educação afirmou que as 34 escolas municipais da cidade aderiram ao protesto e não tiveram aulas. Em relação aos colégios estaduais, apenas três participaram. Alguns servidores da UEG também atuaram na mobilização.

Em Rio Verde, ato ocorreu dentro do campus do IFG — Foto: TV Anhanguera/Reprodução

Rio Verde

Na cidade de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, o protesto ocorreu dentro do campus do Instituto Federal de Goiás (IFG). Com cartazes e um carro de som, eles fizeram uma caminhada e gritaram palavras de ordem. Os organizadores falaram em 200 participantes. A PM não acompanhou o ato.

Em Luziânia, crianças foram para a porta de escola — Foto: TV Anhanguera/Luziânia

Luziânia

Cerca de 100 servidores estaduais caminharam pelas ruas do centro de Luziânia, no Entorno do DF. Nas faixas, mensagens contra o bloqueio de verbas para educação.

Bloqueio de recursos

Em abril, o Ministério da Educação divulgou que todas as universidades e institutos federais teriam bloqueio de recursos. Em maio, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) informou sobre a suspensão da concessão de bolsas de mestrado e doutorado.

De acordo com o Ministério da Educação, o bloqueio é de 24,84% das chamadas despesas discricionárias — aquelas consideradas não obrigatórias, que incluem gastos como contas de água, luz, compra de material básico, contratação de terceirizados e realização de pesquisas. O valor total contingenciado, considerando todas as universidades, é de R$ 1,7 bilhão, ou 3,43% do orçamento completo — incluindo despesas obrigatórias.

Em 2019, as verbas discricionárias representam 13,83% do orçamento total das universidades. Os 86,17% restantes são as chamadas verbas obrigatórias, que não serão afetadas. Elas correspondem, por exemplo, aos pagamentos de salários de professores, funcionários e das aposentadorias e pensões.

Segundo o governo federal, a queda na arrecadação obrigou a contenção de recursos. O bloqueio poderá ser reavaliado posteriormente caso a arrecadação volte a subir. O contingenciamento, apenas com despesas não obrigatórias, é um mecanismo para retardar ou deixar de executar parte da peça orçamentária devido à insuficiência de receitas e já ocorreu em outros governos.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!