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AVIAÇÃO

Às vésperas de apresentar o plano de recuperação, Latam sobe o tom contra proposta da Azul

Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil

O CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, afirmou que os rumores de uma eventual proposta da Azul para adquirir a operação brasileira do grupo chileno tem como único objetivo atrasar e encarecer o processo de saída da companhia do Capítulo 11, a lei de recuperação judicial americana. 

— Eles estão minimizando as dificuldades e o tempo de aprovação. Mas esse é o jogo da Azul. Dificultar e encarecer a saída da Latam do Capítulo 11. Comprar mesmo, acho que eles sabem que é inviável do ponto de vista de prazo —disse Jerome em entrevista à coluna.

Para Jerome, uma eventual aprovação de uma proposta da Azul poderia deixar a companhia num limbo por um ano, prazo com que as autoridades de defesa da concorrência do Brasil podem levar para avaliar o caso.

— É muito pouco factivel [encaixar a proposta da Azul] no cronograma do Chapter 11. Na melhor das hipoteses esse processo levaria um ano no Brasil. Tem que passar também pelo Department of Trade americano, pelo Cade chileno. E o que vai acontecer com a empresa nesse prazo? Aí a empresa não sai do Chapter 11 e como ficam os credores? E se não aprovar? E se tiver que se desfazer de alguma operação? — questiona o executivo, que lembra as dificuldades enfrentadas por Latam e Azul quando as duas resolveram se unir em code-share na pandemia.

As empresas apresentaram uma proposta de compartilhamento de cinco rotas e Cade sinalizou que iria abrir uma investigação. “Por isso nós desistimos” -- diz.  

A Latam vai apresentar na semana que vem o seu plano de negócios para a retomada das operações e também as ofertas não vinculantes que vem recebendo para financiar a sua saída do Capítulo 11. Essa etapa do processo é conhecida como “blow out” e antecede a apresentação do plano de reestruturação das dívidas propriamente, previsto para o dia 15.

— A Azul fala em sinergias. Mas os analistas não conseguem articular o valor dessa sinergia. A fusão não beneficia credores nem acionistas. O único ganho que existe é em tarifa. Vai subir o preço. A companhia que já tem mais monopólio de rotas vai ter ainda mais monopólio e vai cobrar mais caro ainda. Porque isso ia ser bom para o Brasil eu não sei — diz Jerome, que também criticou o concorrente em relação ao transporte de vacinas.

—Estamos alcançando a marca de 100 milhões de vacinas transportadas gratuitamente. Fomos a empresa que mais transportou vacinas gratuitamente no Brasil. Gratuitamente. Já a Azul recebeu US$ 500 mil e não transportou. Esse é o monopólio que a gente quer ter no Brasil?

Segundo Jerome, a Latam que vai emergir do Chapter 11 será 15% menor — um encolhimento menor do que a previsão da própria companhia quando entrou no capítulo 11 no início da pandemia, de 35% a 40%. 

Os cortes de custos geraram ganhos de eficiência no uso dos aviões — que estão voando 10% mais horas por dia. A empresa espera chegar até o fim do ano com níveis de demanda no doméstico similares ao pré-pandemia. A empresa também voltou a contratar, após demissões que atingiram 35% do quadro de tripulantes.

 

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