Por France Presse


O furacão Maria passou por Porto Rico e provocou destruição — Foto: Ricardo Arduengo/AFP

O furacão Maria matou 2.975 pessoas em Porto Rico de setembro do ano passado até fevereiro de 2018, de acordo com um estudo solicitado pelo governo da ilha e divulgado nesta terça-feira (28) em meio a uma polêmica sobre o verdadeiro balanço de mortos, apontado inicialmente em 64.

"O resultado do nosso estudo epidemiológico sugere que, tragicamente, o furacão Maria levou a um excesso de mortes em toda a ilha", disse o principal pesquisador, Carlos Santos Burgoa, professor de Saúde Global na Universidade George Washington.

O estudo analisou os padrões de mortalidade de Porto Rico entre 2010 e 2017 para prever a média esperada se o furacão Maria não tivesse acontecido. Depois examinou as mortes "excedentes" ocorridas setembro do ano passado, quando o Maria atravessou a ilha com ventos de 250 km/h, e fevereiro deste ano.

Descobriu-se que o balanço de mortos foi "22% superior ao número de mortos que poderiam ter acontecido durante esse período sem a tormenta".

Efrain Diaz Figueroa, à direita, caminha pelos restos da casa de sua irmã, destruída pelo furacão Maria, em San Juan, Porto Rico — Foto: Ramon Espinosa/AP

Nas semanas posteriores ao desastre, foi difícil conseguir comida, água fresca e gasolina. Além disso, muitos idosos e doentes que dependiam da energia elétrica para respiradores, diálise, ou para refrigerar a insulina, por exemplo, sofreram as consequências.

"O risco de morte foi 45% maior e persistente até o final do período analisado para as populações de baixo desenvolvimento socioeconômico", indicou o estudo, acrescentando que os homens maiores de 65 anos tiveram uma maior taxa de mortalidade.

O relatório também detalhou que a equipe de emergência do Departamento de Saúde porto-riquenho tinha um "plano desatualizado", que as agências de emergência não estavam preparadas "para furacões superiores à categoria 1", e que as campanhas de informação não alertaram a população adequadamente sobre a possibilidade de uma catástrofe.

Além disso, segundo a análise, 40% dos municípios sofreram uma mortalidade significativamente maior entre setembro e fevereiro, comparado aos dois anos anteriores.

Uma mulher se ajoelha em frente aos escombros de sua casa, destruída pela passagem do furacão Maria por Catano, em Porto Rico, na quinta-feira (21) — Foto: Reuters/Alvin Baez

Guerra de números

O governo havia estabelecido em 64 o balanço inicial de mortos, uma cifra que gerava desconfiança entre as testemunhas do desastre.

Estudos independentes de meios de comunicação mostraram posteriormente cifras muito superiores. Em maio, a Universidade de Harvard, usando outra metodologia, indicou que haviam falecido mais de 4.600 pessoas.

O governo encomendou então ao Instituto Milken da Universidade George Washington a realização de uma análise independente para calar a polêmica e adotar um balanço oficial mais realista.

O debate sobre os números faz parte das críticas recebidas pelo presidente Donald Trump, acusado por políticos locais de ter demorado a conceder a ajuda federal a Porto Rico em comparação com a rapidez que esta havia chegado em Flórida e Texas, atingidos pouco antes pelos furacões Harvey e Irma.

Imagens de antes e depois revelam a extensão da destruição em Porto Rico com a passagem do furacão Maria — Foto: Google Street View e Ricardo Arduengo/AFP

Um mês depois da tormenta, quando a cifra oficial de falecidos era estimada em apenas 16, Trump disse em sua defesa que o desastre não era nada comparado aos 1.833 mortos deixados pelo furacão Katrina na Louisiana em 2005.

Este comentário, junto com as imagens do presidente jogando rolos de papel higiênico aos afetados, indignou a população.

Junto com a desolação deixada pelo Maria houve um êxodo maciço aos Estados Unidos, o que afundou ainda mais a ilha em uma crise fiscal, pela qual havia se declarado em falência alguns meses antes da passagem do furacão.

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