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Aprendizado de idiomas movimenta intercâmbio para maiores de 50 anos

Há diferentes opções para vários países do mundo
Liliana Rocha aproveitou para visitar Banstead, na Irlanda Foto: Arquivo pessoal
Liliana Rocha aproveitou para visitar Banstead, na Irlanda Foto: Arquivo pessoal

RIO — As definições de “nunca é tarde para realizar um sonho” vêm sendo atualizadas com sucesso por uma turma que não vê a idade como uma barreira para chegar onde quer. Enquanto muitos adultos e idosos lamentam não terem tido condições de fazer um intercâmbio internacional na adolescência, a empresária Liliana Rocha, de 58 anos, arruma as malas para a sua quinta experiência estudantil no exterior, um hobby que ela começou a praticar há dois anos.

— Viajei para diversos lugares, mas fazer intercâmbio é bastante especial, porque, além do aprendizado da língua, no meu caso o inglês, o conhecimento que se adquire de outras culturas, por meio dos colegas de classe, é fenomenal. Já estudei com espanhóis, suíços, turcos, italianos, colombianos, chilenos e com brasileiros de outros estados. O que aprendi sobre a realidade de cada um deles valeu mais do que muita aula ou livro que possa ter lido a respeito — diz.

Liliana e um grupo que não se importa para quem diz “não tenho mais idade para isso” participam de programas 50+ da agência CI Intercâmbio e Viagem, com unidades na Zona Sul, na Barra e na Tijuca. Em junho próximo, ela embarcará para estudar inglês em Londres pela terceira vez, onde ficará por 30 dias.

— Combinei de me inscrever com uma colega de classe do intercâmbio que fiz em Malta, ano passado — conta Liliana.

Voltar a Londres, para ela, é estar em contato com o filé do mundo.

— Aquela cidade é maravilhosa. Lá, você experimenta uma sensação de liberdade e, ao mesmo tempo, de poder, que não dá para explicar. E unir viagem com estudo é bárbaro, porque, como adoro conhecer outros países, aprimorar o idioma é um ótimo investimento. Até os 50 e poucos anos, sempre viajava com alguém para me ajudar. Agora, com o que já aprendi, vou sozinha, determino os meus próprios passeios e aprendo com os meus erros. É claro que em um mês de aula não dá para aprender tanto quanto uma pessoa que faz um curso de seis meses, mas dá para eu me virar bem — diz ela, que é casada há 38 anos e tem duas filhas.

Marisa Peres (de casaco verde) decidiu estudar no Canadá, onde o filho mora, para aprender a falar com seus futuros netos Foto: Arquivo pessoal
Marisa Peres (de casaco verde) decidiu estudar no Canadá, onde o filho mora, para aprender a falar com seus futuros netos Foto: Arquivo pessoal

A pedagoga aposentada Marisa Peres de Magalhães tanto sabe que não existe idade para aprender algo novo que, depois de 26 anos dando aulas no Colégio Pedro II, foi estudar Fonoaudiologia e, hoje, trabalha com estimulação cognitiva para idosos. Em setembro do ano passado, entretanto, ela voltou aos bancos escolares para aprender inglês a mais de dez mil quilômetros de casa: no Canadá, por meio do programa 50+ da empresa 3RA Intercâmbio, em Ipanema.

— Como meu filho foi estudar e trabalhar em Vancouver, em 2017, e não tem a menor vontade de voltar, vi que precisaria aprimorar o meu inglês, que era muito básico, porque, muito provavelmente, terei netos canadenses. Em abril, já tinha ido só para visitá-lo e senti muita dificuldade. Por isso, quando retornei, optei por fazer um intercâmbio para aprender melhor o idioma, e me foi muito útil. Com 56 anos, era a mais experiente da turma e não via o menor problema nisso. Afinal de contas, é essa a mensagem que passo para os idosos que atendo: conhecimento nunca é demais — diz.

Tempo livre e dinheiro impulsionam demanda

De acordo com a Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), 2,6% dos alunos que fizeram intercâmbio em 2016 tinham mais de 50 anos. Em 2017, esse número triplicou e saltou para 7,9%. Para Maria Christina Serviño, dona da agência Experimento Intercâmbio Cultural, um dos motivos que explicam o aumento do interesse desse público em aprender outro idioma no exterior é a união de dois fatores: tempo disponível e dinheiro.

— A maioria deles é formada por aposentados que querem aprender inglês para viajar mais e conhecer o mundo. Muitos também têm filhos que moram no exterior e querem falar bem o idioma dos futuros netos — destaca.

Neide e Paulo fizeram intercâmbio juntos, no Canadá, onde aproveitaram para visitar as Cataratas do Niágara Foto: Arquivo pessoal
Neide e Paulo fizeram intercâmbio juntos, no Canadá, onde aproveitaram para visitar as Cataratas do Niágara Foto: Arquivo pessoal

Cliente do programa 50+ da Experimento, o casal de empresários Neide e Paulo Pereira, de 64 e 68 anos, respectivamente, ficou de maio a junho do ano passado em Toronto, aprimorando o inglês na International Language Academy of Canada. Apesar de terem passado para o mesmo período na prova de nivelamento, eles preferiram estudar em salas separadas.

— Para evitar que a inibição atrapalhasse o nosso desempenho, cada um ficou numa turma. Passávamos quase que o dia inteiro no curso, porque tínhamos aulas de segunda a sexta, das 8h às 14h. Nas horas vagas, que eram poucas, já que tínhamos muito exercício para fazer em casa, aproveitávamos para curtir um pouco a cidade — lembra Neide.

Marcelo dos Anjos, que foi voluntário na Olimpíada do Rio, em 2016, quis fazer intercâmbio para aprimorar o inglês Foto: Arquivo pessoal
Marcelo dos Anjos, que foi voluntário na Olimpíada do Rio, em 2016, quis fazer intercâmbio para aprimorar o inglês Foto: Arquivo pessoal

Após participar como voluntário dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio, o engenheiro aposentado Marcelo dos Anjos, de 74 anos, sentiu necessidade de incrementar o inglês. Ele chegou a se matricular em um curso on-line da Education First (EF), que conheceu por meio das aulas oferecidas para quem trabalhou nas Olimpíadas. Mas, motivado por sua mulher, ingressou no programa 50+ da empresa e foi de mala e cuia para Nova York.

— Dividi a beliche de um alojamento com um coreano muito simpático de 20 e poucos anos. Sempre tive o sonho de fazer intercâmbio. Tenho vários amigos que fizeram quando tínhamos 15 ou 16. Lembro de ter procurado alguns programas na época, mas não tive oportunidade de ir. Foi uma grande realização, vi que realmente não existe idade para estudar — conta o aposentado.

Diversão festas também entram no roteiro da viagem

Além do aprendizado do idioma e da troca entre culturas diferentes, estudar no exterior pode significar uma experiência festiva. Aconteceu com a atriz Alda Passos, de 55 anos, que, em 2017, passou dois meses e meio aprendendo inglês em Vancouver, no Canadá, e vivendo a vida adoidada. A também cliente do programa 50+ da CI Intercâmbio e Viagem, embora fosse a pessoa de mais idade de sua turma, era uma das mais animadas.

— Intercâmbio, para mim, se resumiu em muito pub, festa e farra. Aprendi a me virar tão bem no inglês que cheguei a passar a celebração de Thanksgiving Day (Dia de Ação de Graças) na casa de uns caras que nunca tinha visto na minha vida. Vi um anúncio no Facebook, em que eles convidavam pessoas de outros países que estivessem longe de suas famílias, e fui lá sozinha, amarradona. Não tenho esses problemas de timidez — comenta ela, que pretende ainda este ano voltar a cursar o idioma em Malta ou San Diego.

Tereza Soutto Mayor (à direita) foi aprimorar os conhecimentos de francês em Antibes Foto: Arquivo pessoal
Tereza Soutto Mayor (à direita) foi aprimorar os conhecimentos de francês em Antibes Foto: Arquivo pessoal

A aposentada Tereza Soutto Mayor, de 66 anos, também embarcou no programa 50+ da CI. Apaixonada pelo francês, no entanto, ela foi se aperfeiçoar no idioma em Antibes.

— Estudei numa escola francesa quando era pequena e, desde então, me encantei com a língua. Tive quatro professores excelentes, o colégio era muito bonito, parecia um castelo medieval. Ninguém deve ter medo de se aventurar numa experiência como essa, independentemente da idade. As pessoas são solícitas com os mais velhos. Agora, pretendo ir para Madri ou Barcelona aprender espanhol — diz.

Após o intercâmbio em Madri, Maria Zélia aproveitou para visitar Portugal Foto: Arquivo pessoal
Após o intercâmbio em Madri, Maria Zélia aproveitou para visitar Portugal Foto: Arquivo pessoal

Quem também esteve em Madri para um curso de espanhol de 20 dias foi a decoradora Maria Zélia Bezerra, de 74 anos.

— Viajo muito para Miami, mas vou sem medo porque sei me virar no inglês. Como queria conhecer a Espanha, mas tinha receio de não saber me virar nos lugares, decidi ir por meio de um intercâmbio. Assim, juntei aprendizado e turismo numa viagem só. Foi um grande investimento para mim, que ainda quero conhecer outros países que tenham o espanhol como língua oficial. Depois do curso, dei um esticada em Portugal, onde fiquei por mais uns dias — diz Maria, que esteve na capital espanhola em 2017, pela agência EF.

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