Fundos de Investimentos

Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo

Aos 89 anos, com apenas um copo sem gelo e uma lata de coca-cola ao seu alcance, Warren Buffett conduziu no sábado a primeira assembleia de acionistas virtual da Berkshire Hathaway. Por causa da pandemia de covid-19, a sede da empresa, em Omaha, Nebraska, não recebeu neste ano os cerca de 40 mil investidores que costumam movimentar a cidade. As pouco mais de quatro horas de transmissão pelo canal no Youtube da “Yahoo Finance” tinham, até ontem, sido visualizadas por mais de 450 mil pessoas.

Na sua apresentação inicial, com o apoio de uma dezena de slides sem nenhum apelo visual, Buffett tentou transmitir uma mensagem otimista, mas também de cautela. O megainvestidor disse esperar que os Estados Unidos superem a crise, ao mesmo tempo em que alertou os investidores que os resultados operacionais deste ano serão sensivelmente menores.

Na parte dedicada a responder aos acionistas, ele revelou ter vendido em abril toda a participação em companhias aéreas e disse ver o setor financeiro em boa forma. Buffett também elogiou o suporte dado à economia pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e deixou algumas lições valiosas para os investidores.

A crença de que as ações vão superar o retorno dos títulos do Tesouro dos EUA no longo prazo não foi abalada. Com as taxas de juros caminhando para o campo negativo, Buffett disse que investidor deveria pensar em ter ações ou, no máximo, qualquer outro tipo de ativo que não papéis de dívida.

Ele lembrou, contudo, que quem compra papéis na bolsa deve evitar olhar as oscilações e tentar decifrar o que acontece a todo momento. O que vale é ter empresas de boa qualidade financeira e bem geridas, pensando em ficar com elas por 20 ou 30 anos — sugestão que pode parecer demasiadamente otimista para alguém com 89 anos, brincou.

Para Buffett, a história mostrou que a economia americana tem capacidade de recuperação, embora não tenha pistas de qual a extensão e que pode levar anos para se ter o entendimento de todas as implicações econômicas decorrentes do novo coronavírus. “Enfrentamos problemas mais difíceis e o milagre americano, a magia americana, sempre prevaleceu.” Em outro ponto, ele foi mais enfático: “Nunca aposte contra a América”.

Na apresentação antes do ritos da assembleia de acionistas propriamente dito, Buffett recapitulou inúmeras crises, desde o crash de 1929, pouco antes do seu nascimento, passando pelos ataques terroristas em setembro de 2001 e o colapso após a quebra do Lehman Brothers. Ele disse que a diferença dessa crise para a de 2008 é que o Fed e o governo agiram rapidamente e em volumes grandiosos. “Não sabemos inteiramente as consequências da ampliação do balanço do Fed nos próximos anos, mas sabemos o que acontece quando não se faz nada.”

Buffett avaliou que a resposta imediata permitiu que as empresas tivessem chance de se financiar e que não há escassez de recursos a custos tão baixos que não interessariam como investimento. Para Buffett, Jerome Powell, presidente do Fed, merecia “ser colocado num pedestal”.

Questionado sobre as consequências de a economia americana rodar eventualmente com juros negativos, Buffett disse que essa era a pergunta mais interessante, mas que não tinha uma resposta. “Estamos enfrentando um período em que testaremos se o mundo pode continuar fazendo isso. Temos feito coisas em que não sabemos o resultado final.”

Buffett disse que o investidor tem uma enorme vantagem agora para comprar ações e construir uma carteira de longo prazo, mas que não tem ideia de como o mercado vai se comportar adiante.

A cautela do lendário investidor ficou clara no tamanho do caixa da Berkshire, que fechou o primeiro trimestre com US$ 137 bilhões, a maior parte em títulos do Tesouro. Com a cultura de comprar grandes fatias em empresas ou o capital total, a holding não encontrou negócios atraentes, porque os preços estavam altos demais, segundo Buffett. A empresa não faz aquisições há cerca de quatro anos. “Por algum tempo, certamente para o balanço do ano, nossos ganhos operacionais serão menores do que se o vírus não tivesse surgido.”

No primeiro trimestre, a empresa reportou um prejuízo líquido de US$ 49,7 bilhões por conta do efeito da desvalorização das ações das empresas investidas. Com um portfólio que inclui participações na Apple, bancos como Wells Fargo e Bank of America, além de companhias aéreas, a Berkshire sentiu o peso do colapso do mercado.

Aéreas voando baixo

Em abril, a empresa vendeu toda a posição (cerca de 10%) que detinha nas aéreas Delta Airlines, American Airlines, United Airlines e Southwest Airlines. Segundo Buffett, a maior parte das ações que a firma americana se desfez ao longo do mês passado, num total de US$ 6,5 bilhões, foi referente aos papéis do setor.

Buffett disse que as perspectivas para o setor mudaram drasticamente, com o esgotamento súbito da demanda, e parece haver “muitos aviões”. A escolha foi vender mesmo com prejuízo, porque as empresas vão precisar de muito capital e não se sabe que destino terão num mundo pós-pandemia. A Berkshire chegou a investir cerca de US$ 8 bilhões nas aéreas. “Nós não realizamos nada. Esse foi meu erro.”

Apesar de a crise ser um choque para vários setores, Buffett vê os bancos em boas condições. Segundo o megainvestidor, após a crise de 2008 as instituições reforçaram suas reservas, com os balanços hoje muito mais saudáveis. “Não vejo problemas na indústria bancária.”

Mais preocupação, Buffett mostrou com os papéis das produtoras de petróleo, com as cotações do barril nas mínimas da história. “Se esses preços prevalecerem, haverá muitas dívidas impagáveis”, disse, o que deve afetar os títulos e ações do setor.

Para Eric Schleien, executivo-chefe da Granite State Capital Management e autor de “Of Permanent Value”, biografia do megainvestidor, Buffett quis reforçar a visão de que comprar negócios que tenham fluxo de caixa livre a bons preços será melhor ao longo do tempo do que privilegiar caixa ou ativos que não produzam nada. Segundo ele, a mensagem é que o pequeno investidor tem muito mais chance de encontrar boas oportunidades no mercado do que a própria Berkshire e que fundos de índice (ETF) são uma boa ideia.

Na sua apresentação Buffett disse que seria muito mais fácil superar o mercado se tivesse apenas US$ 5 milhões sob gestão. “Pode haver vantagens e desvantagens no tamanho.” O valor das 52 participações da Berkshire Hathaway é avaliado em mais de US$ 200 bilhões.

Schleien destacou ainda que o Fed é hoje o grande “concorrente” da Berkshire, já que em 2008 as empresas recorriam à companhia em busca de fôlego financeiro. Desta vez, como o próprio Buffett comentou, com o Fed em cena “os telefones não estão tocando”.

Buffett defendeu o programa de recompra de ações, mas disse que não acha vantajoso adquirir os papéis da Berkshire hoje mais do que quatro meses atrás. “Pode haver um preço relativo ao valor do futuro que tornaria a recompra mais atraente.” A escolha agora é valorizar o dinheiro. Os ativos da empresa na bolsa vinham performando pior do que o S&P 500.

Desta vez, o encontro anual não contou com a presença do sócio Charles Munger, de 96 anos, e quem auxiliou Buffett foi Greg Abel, de 57 anos, visto como um possível sucessor.

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