Política Impeachment

Belluzzo defende Dilma e diz que ela fez ‘despedalada fiscal’

Economista presta depoimento como informante no julgamento do impeachment
Sessão no Senado para análise e votação do Impeachment da Presidente afastada Dilma Rousseff. Luiz Gonzaga Belluzo, testemunha de defesa durante a sessão. Foto: André Coelho / O Globo
Sessão no Senado para análise e votação do Impeachment da Presidente afastada Dilma Rousseff. Luiz Gonzaga Belluzo, testemunha de defesa durante a sessão. Foto: André Coelho / O Globo

BRASÍLIA - O economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo disse nesta sexta-feira que a presidente afastada Dilma Rousseff fez uma "despedalada fiscal" e não uma "pedelada fiscal", argumentando que a petista fez contingenciamentos e ajuste fiscal e não gastança. A explanação foi rápida e bem técnica, mesmo tendo sido arrolado como informante agora pela defesa de Dilma. ( SIGA O JULGAMENTO AO VIVO )

— Em 2015, houve uma "despedalada" fiscal. Em 2014, senti claramente que o ajuste fiscal teria as consequências que teve, até imaginei que o PIB fosse cair 2,5% e errei. Se formos olhar a política fiscal em 2015, ela levou a uma contração brutal da receita, porque a economia vinha desacelerando. É como o pugilista que foi para o corner e, para reanimar, lhe dá um soco na cabeça — disse Belluzzo.

Em seguida, o senador Linbergh Farias (PT-RJ) teve que dizer que ele estava defendendo a política da presidente afastada.

— O que estamos dizendo, eu e o professor Belluzzo, é que não houve aumento de despesa — disse Lindbergh.

Belluzzo disse que Dilma acentuou caráter pró-cíclico do gasto.

— Chamei de desajuste do ajuste. Essa pedalada não aconteceu — disse Belluzzo.

Em seu depoimento, Belluzzo afirmou que o impeachment de Dilma é "um atentado à democracia

— Eu só aceitei vir aqui testemunhar porque eu considero que o afastamento da presidente pelos motivos alegados é um atentado à democracia — afirmou.

Belluzzo comparou o caso ao suicídio de Getúlio Vargas, o golpe militar de 1964 e as tentativas de impedir as posses de Juscelino Kubitscheck e João Goulart. A comparação irritou o senador Waldemir Moka (PMDB-MS). Ele se levantou para protestar, mas o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, o interrompeu de imediato:

— Quem preside os trabalhos é o presidente do Supremo. Quem vai dizer se tem algo que não pode ser dito é o presidente.

O economista criticou o ajuste fiscal conduzido por Dilma em 2015. Ele afirmou que já havia a desaceleração da economia e o governo aumentou tarifas e fez um corte de 30% no investimento público.

— Nenhuma economia resiste a um negócio desse — afirmou.

PLANO SAFRA

Belluzzo chamou de "ridículo" o argumento de que o atraso de recursos ao Banco do Brasil referentes ao Plano Safra tenha causado efeitos fiscais. Ele disse que o impacto foi "zero" e que pior se não tivesse ocorrido a subvenção ao agronegócio.

— É um impacto ridículo. Se não tivesse ocorrido a subvenção ao agronegócio, o impacto teria sido muito pior. O efeito do atraso foi zero, nenhum — disse Belluzzo.

Para o economista, a única saída do país é crescer.

— Os economistas erram sistematicamente, porque é muito difícil fazer previsão. Mas, se a economia não se recuperar, não crescer, não sairá desse enrosco fiscal no qual está metida — disse Belluzzo.

A defesa da presidente Dilma Rousseff pediu que Belluzzo fosse ouvido como informante. O advogado José Eduardo Cardozo fez o pedido afirmando que deseja evitar polêmica. Senadores pró-impeachment tinham anunciado que fariam o pedido, porque Belluzzo assinou um manifesto contra o afastamento de Dilma que chegou a ser protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF).