Eleições nos EUA 2020

Por Felipe Gutierrez, G1


Eleições Históricas nos EUA: George W. Bush x Al Gore

Eleições Históricas nos EUA: George W. Bush x Al Gore

Al Gore, o candidato do Partido Democrata nas eleições de 2000, telefonou para seu adversário, George W. Bush, na madrugada do dia 8 de novembro para reconhecer a derrota. As redes de TV, começando pela Fox News, haviam anunciado a vitória do republicano.

Jornais destacam a vitória apertada de Bush sobre Al Gore nas eleições de 2000 — Foto: Henny Ray Abrams/AFP/Arquivo

O democrata havia sido vice-presidente de Bill Clinton durante oito anos. Bush, o governador do Texas, é filho de George W.H. Bush, que foi presidente entre 1989 e 1993.

Os resultados nos estados foram apertados. Em três, as vantagens foram de menos de 2.000 votos.

O G1 publica esta semana uma série de reportagens sobre eleições presidenciais americanas marcantes e como elas mudaram o cenário político no país. Leia também:

O colégio eleitoral é um sistema pela qual o eleitor não escolhe diretamente o presidente, mas, sim, representantes dos partidos em cada estado.

Imagem da Biblioteca do Congresso dos EUA mostra Al Gore durante evento quando ele era vice-presidente dos EUA — Foto: Divulgação/Biblioteca do Congresso dos EUA

Cada estado tem um deteminado número desses delegados. O vencedor da corrida presidencial é quem somar o maior número deles.

O detalhe é que a grande maioria dos estados tem uma regra de “vencedor leva tudo”: se há um voto a mais para um dos candidatos, ele leva todos os delegados do estado.

Por causa dessa regra, a eleição nos EUA naquele ano foi decidida no estado da Flórida.

As emissoras tinham como base a informação de um instituto chamado Voter News Service (VNS). Depois da conversa entre os dois presidenciáveis, um dirigente democrata analisou os dados do VNS e notou alguns problemas: o instituto estimava que faltavam 180 mil votos a serem contados, mas, na verdade, era o dobro disso.

O diálogo

Gore ligou novamente para Bush. De acordo com a revista "Vanity Fair", o diálogo entre os dois foi o seguinte:

“As circunstâncias mudaram drasticamente desde que liguei para você. A Flórida está numa contagem muito apertada para se saber o vencedor”.

"Você está dizendo o que eu acho que está dizendo? Você está ligando de volta para retirar sua concessão?", perguntou Bush.

“Você não precisa ser ríspido”, disse Gore.

Bush respondeu que as redes já haviam declarado o resultado e que os números estavam corretos - seu irmão Jeb, o governador da Flórida, lhe contara.

"Seu irmão mais novo não é a autoridade final sobre isso", respondeu Gore.

Pela contagem inicial, Bush havia vencido por 537 votos, em um universo de 6 milhões de eleitores.

Os condados da Flórida determinaram que haveria uma recontagem. Ficou claro que houve problemas na votação.

A cédula borboleta

Nos EUA, cada região dos estados define como será a votação: se é presencial, por correio, se haverá voto eletrônico ou físico, como será a cédula etc.

Na Flórida, alguns condados usavam um tipo de cédula chamada borboleta, cuja diagramação não deixa claro onde o eleitor deve escolher seu candidato, diz Barry Burden, cientista político da Wittenberg University.

Essa cédula fez com que alguns eleitores de Al Gore tenham votado sem querer em um terceiro candidato.

Modelo da cédula borboleta — Foto: Amanda Paes/G1

Em outras regiões da Flórida houve outros problemas, afirma Burden.

Esse tipo de regra eleitoral varia de local para local nos EUA por uma razão histórica: no país, o poder é descentralizado.

“Quando a Constituição foi ratificada, havia desconfiança em relação a ter um governo central. Os fundadores [dos EUA] escreveram que os estados teriam controle das eleições sobre as datas, o local, a cédula. Hoje, também podem escolher quais máquinas vão ser usadas para votar ou para contar. E os estados permitem que cada cidade faça o que quiser [em relação a padrões].”

Com uma votação muito apertada, que, por causa do sistema de colégio eleitoral, era decisiva, os democratas exigiram uma recontagem.

As duas campanhas entraram com ações na Justiça enquanto os votos eram recontados.

Um apoiador de Al Gore nas eleições de 2000 com um cartaz na frente do prédio da Suprema Corte dos EUA em 1 de dezembro de 2000 — Foto: Kevin Lamarque/Reuters

Depois de 36 dias de escrutínio sobre os votos na Flórida, a Suprema Corte tomou uma decisão: não deveria haver uma recontagem.

A análise dos votos violava uma cláusula de emenda à Constituição porque não havia um padrão só para contar todas as cédulas, decidiu o tribunal.

Bush venceu Gore no colégio eleitoral com 271 delegados, contra 266 de Gore.

No voto popular, no entanto, o candidato do Partido Democrata venceu por 48,4% contra 47,9%.

Retrato oficial de George W. Bush como presidente — Foto: Divulgação/Biblioteca do Congresso dos EUA

Gore, então, ligou novamente para Bush em 13 de dezembro. “Há momentos eu falei com George W. Bush e o parabenizei por se tornar o 43º presidente dos EUA. E prometi a ele que dessa vez não ligaria de volta”, disse ele.

Ele disse que não concordava com a decisão da Suprema Corte, mas acatava o resultado.

Uma nova lei

Depois do caso da indefinição das eleições de 2000 e da decisão via Suprema Corte, o país mudou algumas regras.

A cédula borboleta foi proibida.

Houve a criação de uma agência federal para eleições, ainda que alguns cientistas políticos, como Burden, considerem que ela tem poderes limitados.

A União deu dinheiro aos estados para que eles começassem a comprar máquinas e treinar as pessoas que trabalham nas eleições.

Veja vídeos sobre a eleição americana

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