• Mariana Fonseca
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Congresso Nacional, em Brasília (Foto: Jardelsliumba / Wikimedia Commons)

Congresso Nacional, em Brasília: Sigalei acompanha mudanças legislativas (Foto: Jardelsliumba / Wikimedia Commons)

Não é fácil navegar por um mar de mudanças -- especialmente se elas estão espalhadas por diários oficiais e discursos de senadores e deputados. A Sigalei criou algoritmos e inteligência artificial próprios para acompanhar a mudança das leis em diversos setores. Essa proposta rendeu um aporte milionário.

O investimento de R$ 1,3 milhão, primeira captação externa da Sigalei, foi liderado pela GV Angels e completado por Allievo Capital e SL Anjos. A startup irá usar os recursos para dar agilidade e profundidade ao desenvolvimento de seus robôs que acompanham novas regulações e a reação da sociedade a elas.

Ideia de negócio: robôs e regulações
A Sigalei foi criada pelos irmãos e engenheiros Frederico Oliveira e Danilo Oliveira. Em um concurso do Ministério das Comunicações, eles lançaram a ideia de permitir que os cidadãos acompanhassem decisões e participassem mais das políticas públicas por meio de um aplicativo de transparência do Governo Federal.

Batizada de Sigalei, a ideia ganhou o concurso e um prêmio de R$ 64 mil. Os irmãos usaram o capital para continuar desenvolvendo o aplicativo e colocá-lo nas lojas. A análise dos usuários fez o modelo de negócio pivotar de B2C (consumidores finais) para B2B (empresas). Muitos que usavam o Sigalei eram funcionários na área de relações governamentais. "Esses profissionais faziam seu trabalho de acompanhar regulações manualmente, usando planilhas de Excel", diz Frederico. Foi então que o cientista político Ivan Ervolino também se tornou sócio do negócio.

A Sigalei surgiu como empresa em maio de 2016. A startup tem algoritmos próprios para monitorar ações no Congresso e alimentar seu aplicativo com mudanças regulatórias em diversos setores. As informações são passadas por uma inteligência artificial, que consolida em um painel cenários para as empresas, dependendo de sua atuação e palavras-chave buscadas.

Por exemplo, uma empresa de cosméticos pode receber alertas quando regulações sobre testes em animais tiverem sido atualizadas. A Sigalei concorre com consultorias políticas e startups que lidam com curadoria de mídia e de regulações, como a Jota.

O negócio começou a ganhar empresas que queriam acompanhar transformações relevantes para seus negócios. Com o produto validado, a startup cresceu em 2017. No ano seguinte, a Sigalei expandiu sua atuação para atender ainda mais a necessidade de seus clientes de gerir riscos políticos e regulatórios.

Além de acompanhar a esfera legislativa, a startup passou a olhar para as esferas executiva, judiciária e até mesmo pública. "Olhamos o antes e o depois das leis, computando todos os fatores que pressionam o poder legislativo", diz Frederico. A Sigalei monitora notícias, comentários de consumidores e tuítes de governantes, por exemplo.

A startup atende 70 clientes, como a gigante farmacêutica Bayer e o Sebrae. O negócio cobra uma assinatura mensal de seu software. "Nossa solução não tira a importância dos profissionais humanos de relações governamentais ou tributação. Se a empresa não tem conhecimento dessas áreas, é como multiplicar um grande conhecimento por zero: o resultado continua sendo zero", diz Frederico.

Estratégia de crescimento: aporte e melhoria tecnológica
Esta é a primeira captação da Sigalei, tirando o prêmio de R$ 64 mil logo no começo do negócio. A empresa é lucrativa desde seu primeiro ano de atuação. O aporte semente de R$ 1,3 milhão será usado para construir o produto de coleta de informações com mais profundidade e agilidade.

"É duro filtrar dados do governo, mas a startup tem sócios com alto nível de formação. O negócio equilibra preço, tecnologia e suporte ao cliente. Por isso é lucrativo desde o começo e só ouvimos elogios das empresas atendidas. Vemos muita chance de sucesso", diz Wlado Teixeira, diretor executivo da GV Angels. A GV Angels é um grupo de 170 investidores anjos associados à Fundação Getulio Vargas (FGV). A associação já investiu um 17 startups e investe de R$ 300 mil a R$ 1 milhão por empreendimento.

A Sigalei quase dobrou de tamanho em 2019. Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, a startup ainda está revendo suas metas para este ano. "Conseguimos novos clientes durante a pandemia, mas a velocidade de negociação diminuiu. As conversas no modelo B2B são lentas, especialmente em um produto complexo como o nosso", diz Frederico. Com ou sem novo coronavírus, a necessidade de mais transparência nas leis continua.