Juan Guaidó fala com megafone a multidão de cima de um carro em Caracas, após convocar o povo às ruas contra Maduro — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Guaidó convoca venezuelanos para ir às ruas
O autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, convocou na manhã desta terça-feira (30) a população às ruas e declarou ter apoio de militares para pôr fim ao que ele chama de "usurpação" na Venezuela.
Autoridades do governo falam em tentativa de golpe de estado e convocaram apoiadores a se manifestar a favor de Nicolás Maduro, que afirmou ter apoio de comandantes das Forças Armadas (leia mais ao final da reportagem). Houve disparo de bombas de gás nas ruas da capital, Caracas (veja imagens abaixo).
Guaidó afirmou em post em rede social que se encontrou com as principais unidades militares das Forças Armadas e que deu início à fase final da chamada "Operação Liberdade".
"Povo da Venezuela, vamos à rua. Força Armada Nacional, a continuar a implantação até que consolidemos o fim da usurpação que já é irreversível", declarou Guaidó em post.
Líder da oposição solto
O movimento desta quarta também foi marcado pela soltura de um opositor do governo, o líder Leopoldo Lopez, que cumpria prisão domiciliar imposta sob o regime de Maduro. Segundo Guaidó, o governo autoproclamado [de oposição a Maduro] libertou Lopez, que seguiu para as ruas.
"Este é o momento, a convenção é mundial, acabem com a usurpação, todos saiam às ruas", afirmou Lopez.
Leopoldo Lopez, que cumpria prisão domiciliar, ao lado de militar ao lado de base aérea em Caracas — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Em entrevista coletiva nesta manhã, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que o Brasil espera que militares venezuelanos apoiem a "transição democrática" no país vizinho. Segundo Araújo, o Brasil ainda está reunindo informações sobre o que está ocorrendo na Venezuela. O presidente Jair Bolsonaro fará uma reunião de emergência nesta tarde sobre o caso.
O que aconteceu até agora
- Presidente autoproclamado Juan Guaidó convoca população às ruas e diz ter apoio de militares;
- Presidente Nicolás Maduro afirma que conversou com todos os comandantes das chamadas Redi (Regiões de Defesa Integral) e Zodi (Zona de Defesa Integral), que, segundo ele, manifestaram "total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria";
- Líder da oposição Leopoldo Lopez, que estava em prisão domiciliar após decisão sob o regime de Maduro, é liberado e vai às ruas ao lado de Guaidó;
- Diosdado Cabello, que comanda a Assembleia Constituinte pró-Maduro, convoca apoiadores do governo a se dirigirem para o palácio presidencial de Miraflores;
- Policiais disparam bombas de gás contra manifestantes na capital, Caracas. Segundo TV estatal, eles tentam dispersar "golpistas";
- Ministro brasileiro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirma que o Brasil espera que militares venezuelanos apoiem a "transição democrática" no país vizinho;
- Secretário de estado dos EUA, Mike Pompeo, diz que governo norte-americano "apoia plenamente o povo venezuelano em sua busca por liberdade e democracia".
Acompanhe ao vivo a movimentação na Venezuela
Transmissão ao vivo: Guaidó chama povo às ruas da Venezuela
Juan Guaidó cumprimenta um militar perto de uma base aérea em Caracas — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Local de apoio a Guaidó
O local de apoio de Guaidó, onde se concentram os líderes que tentam derrubar o regime de Nicolás Maduro, é um local conhecido como "La Carlota", cujo nome oficial é Base Aerea Generelíssimo Francisco de Miranda.
Soldados e pessoas reagem ao som de disparos perto da base aérea conhecida como "La Carlota" em Caracas — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
A região foi tomada por multidão no fim da manhã e houve confrontos com disparos de bombas de gás contra manifestantes. De acordo com a rede de televisão estatal Telesur, policiais tentaram dispersar com gás lacrimogêneo aqueles considerados "golpistas".
Militar usa gás lacrimogêneo em base aérea em Caracas, na Venezuela — Foto: Carlos Garcia Rawlins / REUTERS
A base fica na região leste de Caracas, a cerca de 13 quilômetros do Palácio Miraflores, sede do governo. Em 2002, o local foi declarado zona de segurança militar. Os voos para lá estão proibidos desde 2014, de acordo com o jornal colombiano “El Mundo”.
Líderes da oposição convocam movimento para derrubar governo Maduro
Pessoas reagem a bombas de gás lacrimogêneo atiradas perto da Base Aérea 'La Carlota' Generalísimo Francisco de Miranda, em Caracas, na Venezuela — Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters
O que diz o governo de Maduro
No fim da manhã, cerca de quatro horas após o início da mobilização da oposição, o presidente Nicolás Maduro informou, também pelas redes sociais, que conversou com todos os comandantes das chamadas Redi (Regiões de Defesa Integral) e Zodi (Zona de Defesa Integral). Segundo o chavista, os militares manifestaram "total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria".
Mais cedo, Maduro tinha compartilhado mensagem do presidente boliviano, Evo Morales, no qual ele afirma condenar o que chama de "tentativa de golpe de estado na Venezuela por parte da direita que é submissa a interesses estrangeiros".
Ministros de Maduro também já haviam se manifestado pelas redes sociais. O Ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino, afirmou que as Forças Armadas seguirão firmes "na defesa da Constituição nacional e das autoridades legítimas" e que os quartéis reportam normalidade nas bases.
O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, também minimizou a convocação de Guaidó e afirmou que um "grupo reduzido" de militares "traidores" se posicionou para "promover um golpe de estado", mas que eles estavam sendo "enfrentados" e "desativados".
O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, alertou que o Ministério Público está juntando provas contra os "reincidentes nesta tentativa de atividade conspiratória à margem da legalidade".
Aliado de Maduro, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, comentou a libertação do líder oposicionista Leopoldo Lopez. Cabello admitiu que a saída de Leopoldo foi "facilitada" por integrantes do Sebin, a agência de inteligência do governo venezuelano.
Brasil e Estados Unidos
De acordo com a colunista Julia Duailib, até por volta de 10h, o governo brasileiro ainda apurava relatos não oficiais que chegaram a autoridades do Brasil de que um general importante do estado-maior das Forças Armadas venezuelanas já está do lado de Guaidó e que Maduro estaria planejando sua ida para Cuba.
O secretário de estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou, também por meio de rede social, que o governo norte-americano "apoia plenamente o povo venezuelano em sua busca por liberdade e democracia". "A democracia não pode ser derrotada", diz o post.
Relembre os últimos acontecimentos na Venezuela
Abril de 2019
- Guaidó convoca venezuelanos para o que chama “maior marcha da história” contra Maduro em 1º de Maio
- Venezuela é palco de novos protestos a favor e contra regime de Maduro
Março de 2019:
- Países atendem pedido de Guaidó para distribuir ajuda humanitária, mas Maduro proíbe entrada de doações no país e fecha fronteiras com Brasil e Colômbia
- Maduro chama de ‘traidores’ opositores que tentam entrar na Venezuela com ajuda humanitária
Fevereiro de 2019
- Ajuda humanitária dos EUA com alimentos e remédios chega à fronteira com a Colômbia, mas ponte é bloqueada
Janeiro de 2019
- Juan Guaidó se declara presidente interino da Venezuela e é reconhecido por Brasil e EUA
Maio de 2018
- Maduro vence eleição na Venezuela marcada por denúncias de fraude, boicote da oposição e alta abstenção
Juan Guaidó se une a militares para derrubar regime de Nicolás Maduro
Crise na Venezuela
A tentativa de derrubar o regime de Nicolás Maduro é o mais recente capítulo na profunda crise política da Venezuela. Há mais de 15 anos, a Venezuela enfrenta uma crescente crise política, econômica e social.
O país vive agora um colapso econômico e humanitário, com inflação acima de 1.000.000% e milhares de venezuelanos fugindo para outras partes da América Latina e do mundo.
Neste mês, diversas interrupções no fornecimento de energia e água ameaçaram uma catástrofe sanitária. A ONG norte-americana Human Rights Watch disse que a saúde do país está sob "emergência humanitária complexa".