• Agência O Globo
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rafael, portal telemedicina (Foto: Reprodução)

Rafael Figueroa, cofundador e diretor executivo da Portal Telemedicina (Foto: Reprodução)

A startup brasileira Portal Telemedicina está usando a inteligência artificial para resolver um dos maiores entraves no combate à pandemia do novo coronavírus: a falta de exames. Em parceria com o Google, a empresa desenvolveu um algoritmo capaz de detectar a doença em questão de minutos, com precisão de até 95%, analisando imagens de raios X ou de tomografias do tórax.

— Hoje, o paciente vai para o hospital, faz o teste e espera dias pelo resultado. Nesse meio tempo, ele pega o ônibus para voltar para casa, transita pela cidade, fica com a família, disseminando a doença. Com essa tecnologia, os médicos recebem o diagnóstico em 15 minutos e ele vai direto para o isolamento — diz Rafael Figueroa, cofundador e diretor executivo da Portal Telemedicina.

Criada em 2014, a start-up é especializada no diagnóstico de doenças a distância, usando a nuvem e técnicas de machine learning (aprendizado de máquina) para a triagem dos casos mais urgentes. Nos últimos dois anos, a empresa desenvolveu um algoritmo específico para problemas pulmonares, que está sendo usado na detecção da Covid-19.

Esse algoritmo foi treinado com uma base de mais de 30 milhões de imagens, com diferentes níveis de qualidade, para a detecção de anomalias nos pulmões. Com a emergência do coronavírus, ele foi ajustado para detectar a nova doença com um conjunto de 300 exames de pacientes que testaram positivo.

Figueroa explica que existem três condições que indicam a infecção por Covid-19: infiltração, consolidação e efusão. E a pneumonia provocada pelo novo coronavírus tem a especificidade de apresentar manchas opacas nos pulmões, conhecidas na radiologia como padrão vidro fosco. Nas pneumonias tradicionais, as manchas são esparsas e brancas.

Existem no mundo outras iniciativas do tipo, mas o diretor do Google Cloud para o Brasil, Marco Bravo, destaca que a tecnologia desenvolvida aqui se diferencia pela amplitude de equipamentos que podem ser utilizados. Como o algoritmo foi treinado com imagens de diferentes níveis de qualidade, ele é capaz de analisar exames realizados com praticamente qualquer máquina de raios X.

— Como o processamento é em nuvem, os exames podem ser feitos em qualquer lugar do mundo, em máquinas com diferentes níveis de qualidade, desde que haja conexão com a internet — comenta Bravo.

No momento, a detecção da Covid-19 está disponível para os cerca de 500 hospitais e clínicas que fazem uso da plataforma da Portal Telemedicina, como um complemento ao PCR e ao teste rápido. A ideia é que o algoritmo faça a triagem dos pacientes para esses exames, que são considerados padrão para o diagnóstico da doença.

Mas a start-up está trabalhando agora na realização de testes clínicos controlados, com validação científica, para buscar aprovação em agências reguladoras internacionais que certifiquem o uso dessa tecnologia como uma alternativa aos exames padrão.

— Nós temos um problema, não existe teste para todo mundo. A nossa plataforma é escalável, pode ser distribuída para qualquer local que tenha uma máquina de raios X e um digitalizador — diz Figueroa. — Nos testes clínicos, que talvez envolva o hemograma além da imagem, nós queremos que a solução seja tão boa ou melhor que o PCR.