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Economia

Recuo no aumento do diesel foi motivado por temor de nova greve dos caminhoneiros

Segundo representantes da categoria, ainda não há um indicativo de paralisação, mas grupos já se mobilizam para fazer protestos

Caminhoneiros pararam o país em maio
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Jorge William —Agência O Globo
Caminhoneiros pararam o país em maio Foto: / Jorge William —Agência O Globo

BRASÍLIA — Por trás da decisão do governo de recuar do reajuste do diesel está a preocupação com uma insatisfação generalizada por parte dos caminhoneiros. Eles reclamam que a tabela do frete não está sendo cumprida pela maioria dos embarcadores e transportadoras. Também estão irritados com o aumento do combustível.

Para evitar o reajuste previsto para esta sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro procurou o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco . Diante da queda de até 8% nas ações da Petrobras após a interferência do governo na política de preços da estatal, o Palácio do Planalto, no entanto, adotou o discurso de que a decisão de não aplicar o aumento foi tomada em conjunto.

Em entrevista à rádio CBN na manhã desta sexta-feira, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o mandatário decidiu suspender alta do diesel da Petrobras por "bom senso", mas que se tratou de um fato isolado, diante das pressões de caminhoneiros, que ameaçam fazer uma nova greve.

Segundo representantes da categoria, ainda não há um indicativo de greve, mas alguns grupos já estão se mobilizando para fazer protestos. O presidente dos Transportadores Autônomos de Cargas de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer, disse ao GLOBO que enviou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ofício pedindo a correção da tabela do frete para incorporar o aumento de 12,25% do diesel. Também cobrou rigor na fiscalização para forçar as empresas a remunerarem o profissional autônomo com o piso mínimo do transporte de carga.

De acordo com a legislação em vigor, a tabela precisa ser corrigida toda vez que o preço do diesel oscilar 10% para cima ou para baixo. O último ajuste ocorreu em janeiro. Segundo o sindicalista, a agência respondeu que o aumento, depois dessa data, ocorreu somente nas refinarias e não teria sido repassado pelos postos.

— Eles subestimam a nossa inteligência — disse Litti.

Ele afirmou também que o cartão caminhoneiro, anunciado pelo governo no mês passado para acalmar os ânimos da categoria, não ajuda porque o motorista precisa pagar antecipado pelo combustível, como um cartão de telefone pré-pago. A única vantagem, explicou, ocorre se o preço subir durante o uso do crédito. O combustível representa 60% do custo operacional do transporte rodoviário de carga, segundo o setor.

Para piorar a situação, o crescimento lento da economia aumentou a oferta de caminhões sem a contrapartida da demanda pelo serviço. Isso ajudou a derrubar o preço do frete. Segundo sindicalistas, é justamente nesses momentos em que eles precisam da auxílio do governo para fazer valer a tabela do frete mínimo.

Esses problemas foram levados ao Ministério de Infraestrutura na última semana de março, durante o fórum criado para discutir a situação dos caminhoneiros autônomos.

Abin mobilizada

Além de recuar na questão do diesel, o governo mobilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que vem monitorando o comportamento dos caminhoneiros desde março. Agentes inclusive tiveram que cancelar alguns cursos e tarefas internas para se dedicar ao tema. O temor do governo é que os caminhoneiros articulem uma greve no meio de maio, quando a mobilização de 2017, que provocou uma grave crise de desabastecimento no país, completa um ano.

Temendo problemas de segurança e desgaste político, o presidente decidiu interferir na política de preços da Petrobras.  Em um reunião no Palácio do Planalto na última terça-feira, segundo relato de interlocutores do Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, alertou que um aumento no diesel neste momento poderia gerar uma pressão da população e, consequentemente, atrapalhar o relação com o Congresso.

Já o ministro Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), teria observado que até aquele momento o risco de greve dos caminhoneiros era moderado. Ele advertiu, porém que, a curto prazo, a segurança seria mais importante que os possíveis reflexos na economia.

O ministro da Economia,  Paulo Guedes, em viagem aos Estados Unidos, não teria sido consultado previamente da decisão.