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Justiça pede retirada de pescadores artesanais de área em Itaipu

Pesquisa antropológica encontra vestígios de que famílias vivem no local há mais de um século
Pescador trança rede no terreno que foi desaproriado pela Justiça, em frente às casas dos caiçaras Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Pescador trança rede no terreno que foi desaproriado pela Justiça, em frente às casas dos caiçaras Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

NITERÓI — Um grupo de nove famílias com cerca de 30 pessoas da comunidade de pescadores artesanais de Itaipu vive a apreensão de ser removido do local. Depois que a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio decidiu pela desapropriação da área, em dezembro, eles tentam embargos de declaração para obter esclarecimentos mais detalhados do terreno perdido na ação, o Lote 12, a duas quadras da praia. O antropólogo e professor da faculdade de direito da UFF Ronaldo Lobão, que fez ampla pesquisa sobre os caiçaras, diz que há vestígios de que eles ocupam o local há mais de um século.

— A história que conhecemos é que o balneário de Itaipu foi planejado sem conhecimento pessoal do local, com loteamento até na Duna Grande. Foi um urbanismo feito só no papel, e localidades que eram ocupadas foram loteadas. A Veplan, imobiliária que adquiriu os lotes na década de 1970, reiterou essa urbanização, fez um outro projeto para Camboinhas e manteve o loteamento em Itaipu. O levantamento aerofotométrico feito pela Veplan em 1975 já mostrava que a área do Lote 12, como vem sendo chamada, estava ocupada. Essas construções, inclusive, estão no mapa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no processo de tombamento da Duna Grande. Em nenhum momento teve proprietário com lote invadido, mas agora apareceram donos do terreno que querem tomar posse — explica o acadêmico.

Rosilene Augusta da Silva, uma das moradoras, diz que vive ali desde que nasceu, há 59 anos, e que a sua avó Julieta Meira da Silva chegou ao Lote 12 em 1916.

— Fomos pegos de surpresa com essa decisão e não sabemos o que fazer. Pelo modelo das construções de nossas casas, é possível ver que são muito antigas — reforça.

Presidente da Associação Livre de Pescadores e Amigos da Praia de Itaipu (Alpalpi), Jorge Nunes de Sousa, conhecido como Seu Chico, diz que a área é usada por toda a comunidade:

— Como é uma das poucas áreas com sombra que restam aqui, é muito usada para trançar as redes de pesca e até para o lazer das crianças.

A decisão da Justiça, em segunda instância, que determina a desapropriação da área, mantém as casas, mas retira da posse dos pescadores o terreno não edificado. Agora, os advogados que defendem a permanência das famílias ali aguardam as respostas dos embargos para entrar com recurso no Superior Tribunal Federal na tentativa de rever a decisão.

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