Exclusivo para Assinantes
Opinião

Entregar dinheiro àqueles que mais precisam é a tarefa decisiva da Caixa

Governo dispensou ajuda de estados, prefeituras, ONGs e da rede bancária privada

É decisiva para a Caixa Econômica Federal a tarefa de entregar R$ 600, durante três meses, a todas as pessoas que estão à margem do sistema bancário nacional.

Não se sabe exatamente quantos são os brasileiros sem banco, as estimativas oscilam entre 20 milhões e 45 milhões de excluídos do universo de serviços financeiros basicamente prestados por duas dezenas de instituições públicas e privadas.

O governo impôs à Caixa, que aceitou, o desafio de alcançar sozinha todos os mais vulneráveis, em apertado cronograma, na crise provocada pela pandemia.

Nas primeiras 24 horas o banco estatal informou ter recebido mais de 25 milhões de inscrições no programa de auxílio emergencial. Eles terão uma conta gratuita aberta na Caixa, pela qual vão receber a renda mínima temporária.

Esse volume de resposta automática daqueles que têm permanecido invisíveis nas estatísticas oficiais indica a extensão do desalento em parte da população sem alternativas de renda no curto prazo para sobrevivência.

Mostra, também, a dimensão do obstáculo que governo e Caixa precisam superar, em poucos dias, para evitar um eventual fiasco social, com graves consequências.

Tudo indica que houve um razoável planejamento operacional, refletido no número de inscrições no primeiro dia e reafirmado pela autoconfiança demonstrada em público pelo presidente do banco, Pedro Guimarães.

Um dos aspectos cruciais desse desafio de “bancarização” imediata de dezenas de milhões de agentes econômicos informais é o da tecnologia — há registros de pessoas que precisaram de até 14 horas para concluir o processo de inscrição no programa.

Deve-se manter cauteloso otimismo sobre essa iniciativa governamental para alcançar os mais pobres, dispensando a ajuda de estados, prefeituras, organizações sociais e, de forma mais direta, da rede bancária privada.

Aparentemente, o governo optou por criar um tipo de cadastro exclusivo, centralizado em Brasília, e operado pela rede da Caixa com os seus correspondentes bancários.

Com isso, abriu mão da chance de liderança de um mutirão institucional para fazer o dinheiro chegar, muito rapidamente, aos bolsos de quem mais precisa, inclusive nos lugares mais remotos do país.

Pode-se discutir as razões da opção política de dispensar a cooperação até de quem é especializado no trabalho direto e cotidiano com os sem-banco, como prefeituras e ONGs. A emergência da pandemia, no entanto, impõe um voto de confiança.