21/01/2012 06h42 - Atualizado em 23/01/2012 11h40

Reintrodução de animais na natureza revoluciona o meio ambiente

Devolução de bichos, que são dispersores de sementes ou polinizadores, a seu habitat natural promove a recuperação de ecossistemas

Muita gente não sabe ou não acredita, mas animais silvestres nascidos em cativeiros ou capturados para serem mantidos neles podem ser reintroduzidos na natureza. Em outras palavras, aves, anfíbios, répteis e mamíferos nascidos em casas, sítios, zoológicos, ou tirados do meio ambiente para serem mantidos presos podem, sim, ser devolvidos para seu habitat natural. A reintrodução ou devolução dos animais à natureza tem mudado a realidade dos bichinhos e feito verdadeiras revoluções em ecossistemas. Só que não basta tirar um pássaro da gaiola e colocá-lo para voar para contribuir.

Globo Ecologia: reintrodução de espécies (Foto: Divulgação/Vincent Kurt Lo)Gato maracajá, uma das espécies reintroduzidas
(Foto: Divulgação/Vincent Kurt Lo)

“A reintrodução é citada no decreto 6514/08, que especifica que é necessária uma autorização para a soltura de animais. Qualquer pessoa pode e deve participar desse projeto, mas precisa saber fazer. Muitas já levam aos centros de triagem, que recebem animais apreendidos ou encontrados feridos, e são voltados para o tratamento e a readaptação. Há áreas de solturas específicas, nas quais há viveiros para ambientação dos animais antes de serem soltos e o acompanhamento pós-soltura", conta Vincent Kurt-Lo, biólogo e analista ambiental no Núcleo de Fauna e Recursos Pesqueiros do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em São Paulo.

Se o animal foi recém-capturado e o local é conhecido, a legislação prevê devolução imediata. Mas não é isso o que ocorre na maioria dos casos. Muitas espécies são apreendidas durante tentativa de transporte para tráfico e até mesmo dentro de casa. Por incrível que pareça, manter um animal selvagem como bicho de estimação, em casa, é uma das maiores agressões proferidas a ele. Um dos casos mais tristes é o da ararinha-azul, animal típico do Nordeste que foi extinto na natureza e, hoje, só existe em cativeiro. Foi ela que inspirou o personagem principal da animação “Rio”.

Globo Ecologia: reintrodução de espécies (Foto: Divulgação/Vincent Kurt Lo)Papagaios são reintroduzidos na Bahia e no Mato
Grosso do Sul (Foto: Divulgação/Vincent Kurt Lo)

“Chegou a esse ponto e, agora, é muito mais difícil a reintrodução. As pessoas falam da questão emocional, mas não pode haver esse apego. O animal vai sofrer com a transição, mas qualquer transição é sofrida. O papagaio e o macaco, por exemplo, só se apegam ao dono porque são animais sociais gregários. Mantê-los sozinhos já é a maior crueldade que existe. Há uma tese de que a fala do papagaio é um indicativo de estresse, é desvio de comportamento. Em outros países, já conseguiram soltar com sucesso animais criados em cativeiro, como ursos órfãos, morcegos, lobos e lontras. No Brasil, acham que a onça deve ser mantida presa por ser perigosa. A primeira coisa que precisamos fazer é acabar com os mitos e ter vontade de colaborar”, comenta Vincent.

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Globo Ecologia: reintrodução de espécies (Foto: Reprodução de TV)Arara-azul (Foto:Divulgação/Vincent Kurt Lo)

Há uma série de fazendas, espaços e reservas, como a Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), que reintroduziu o mutum-do-sudeste em Cacheiras de Macacu, que mantém viveiros para a dispersão gradativa dos animais. As portas ficam abertas e a alimentação servida vai sendo cada vez mais parecida com a que ele encontraria na natureza, caso estivesse solto. O bicho entra e sai quando quer e podem se relacionar com outros da mesma espécie que estão soltos. Os que não conseguem se readaptar, pelo menos podem reproduzir, sendo que seus filhotes nascem na mata e crescem livres:

“No Brasil, tem muitos casos de sucesso de reintrodução. Papagaios na Bahia e no Mato Grosso do Sul, arara-canindé e jacutinga em Minas Gerais, mutum-do-sudente e cotia no Rio de Janeiro. Apesar de a lista dos animais em extinção estar crescendo, também aumentam os trabalhos de reintrodução, infelizmente, em sua maioria no exterior. Profissionais do meio estão desenvolvendo a ciência da biologia da reintrodução. As pessoas imaginam a composição do meio ambiente com a flora, mas a mata precisa da fauna. Os animais são responsáveis pela dispersão de sementes, pela polinização, que resulta na recomposição florística. Em florestas tropicais, 80% das espécies vegetais são disseminadas pela fauna (zoocoria) e 90% das plantas precisam desses animais para a polinização. E a reintrodução tem tudo a ver com isso. Sem seus atores, a mata é um palco vazio prestes a desabar."

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