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Famílias vizinhas ao Aeroporto Internacional vivem sob a sombra da remoção

Pelo menos 27 moradores do Maracajá e da Estrada do Galeão aguardam decisão da Justiça

Anderson Pereira (de azul) com a avó, Josefa, de 95 anos: família do Maracajá
Foto:
Nina Lima
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Agência O Globo
Anderson Pereira (de azul) com a avó, Josefa, de 95 anos: família do Maracajá Foto: Nina Lima / Agência O Globo

RIO - A visita de militares da Aeronáutica no início do mês à Rádio Sonda, a Maracajá e parte da Estrada do Galeão, nas proximidades da antiga Farmácia Popular, vizinha do Aeroporto Internacional, deixou apreensivos os moradores do local. Com processos na Justiça que se arrastam desde 2013, eles aguardam a determinação para deixar as suas casas, ao mesmo tempo em que torcem para que a decisão nunca saia do papel. Numa manifestação promovida pelo Conselho Popular, no último dia 4, eles afirmam que os despejos estão ocorrendo de forma irregular. A Aeronáutica diz que a área foi ocupada irregularmente e que a reintegração de posse está sendo planejada pelas autoridades competentes.

As remoções foram anunciadas desde que o Aeroporto Internacional Galeão Antonio Carlos Jobim foi privatizado, em 2013, e áreas do Galeão foram transferidas da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) para a Aeronáutica. Em 2015, seis famílias foram removidas na comunidade de Radio Sonda e uma outra em julho do ano passado. Atualmente, 15 famílias estão em vias de serem removidas na comunidade de Maracajá e 12 na Estrada do Galeão, na região próxima à antiga Farmácia Popular. Elas permanecem no local por conta de seguidas liminares.

O aposentado Ailton Freitas da Silva, de 78 anos, mora no Maracajá com as duas filhas e dois netos e teme pela desapropriação de sua casa.

— Desde que recebemos a notificação, já tivemos que mudar de advogado duas vezes para tentar reverter a situação. Não tenho para onde ir. Entrei no financiamento de outro imóvel e estamos tendo uma despesa que não tínhamos. Estão nos tirando daqui como se fôssemos invasores, e não somos. Nasci aqui e meus pais já moravam há muitos anos — conta.

Situação parecida vive Anderson dos Santos Pereira. Na sua casa moram 13 pessoas, entre elas a avó, Josefa dos Santos, de 95 anos, que vive no Maracajá há 80.

— Estamos aqui há muitos anos e não temos para onde ir com a família — diz.

Diretora da Associação de Moradores da Rádio Sonda, Edivalma Souza da Cunha, conhecida como Di, reclama que das sete famílias removidas do local, nos últimos três anos, nenhuma ganhou indenização até hoje.

— A forma como estão fazendo a remoção não é digna porque, além de não indenizar, não oferecem outro lugar para eles irem — reclama.

Segundo o Comando da Aeronáutica (Comaer), o terreno em questão é uma área da União sob sua responsabilidade administrativa, que foi ocupada irregularmente. O Comaer diz, em nota, que entrou com uma ação de reintegração de posse na Justiça Federal por meio da Advocacia-Geral da União (AGU). “A decisão transitada em julgado da Justiça Federal determinou a desocupação do terreno. A reintegração de posse da área está sendo planejada pelas autoridades competentes”, diz o órgão, sem mencionar prazos.