Rio

Chuva no Rio: número de mortos não para de subir no estado e Niterói decreta calamidade pública

Márcio Alves
Márcio Alves

Nós e você. Já são dois gritando. Clique e participe

RIO - O Prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, decretou nesta quinta-feira estado de calamidade pública no município, onde ocorreram vários deslizamentos - o mais grave no Morro do Bumba, com dezenas de desaparecidos, 17 corpos encontrados e mais um retirado na Rua Jonas Botelho, próxima ao morro. A calamidade pública ainda precisa ser homologada pelo Governo do Estado. Das 180 pessoas que morreram vítimas das chuvas, 105 são de Niterói (saiba mais: moradores de Niterói têm dia de tristeza e pânico ). Outras 55 pessoas morreram na capital, 16 em São Gonçalo, e uma em Magé, Nilópolis, Paracambi e Petrópolis. Os feridos no estado somam 161 pessoas.

A titular da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente de Niterói, Juliana Evrigue, abriu inquérito para investigar se o deslizamento no Morro do Bumba foi causado por forças da natureza ou por falha humana. Ainda esta semana, ela tomará depoimentos de moradores e de funcionários da prefeitura. A secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, informou que não houve uma avalição correta do risco da área no momento do primeiro deslizamento, ainda antes da grande tragédia. Segundo a secretária, as pessoas já deveriam ter sido retiradas.

- Aquela área não podia ser ocupada. Já tinha havido um escorregamento, e não houve uma avaliação adequada. Essas pessoas já deveriam ter sido retiradas - disse Marilene, informando ainda que a fiscalização das áeras de risco cabe à prefeitura.

( Veja imagens da catástrofe )

Das 171 pessoas vítimas das chuvas, além das 99 de Niterói, 52 vítimas são do Rio, 16 de São Gonçalo, uma de Magé, uma de Nilópolis, uma de Paracambi e uma de Petrópolis. A tragédia deixou pelo menos 160 feridos e mais de 15 mil desabrigados .

Mais de 200 pessoas soterradas em Niterói

Por volta das 16h desta quinta-feira, voltou a chover forte em Niterói. Marilene Ramos, que vistoriou a área do acidente, explicou que a explosão ouvida por moradores pouco antes do deslizamento pode ter acontecido em decorrência do contato entre a atmosfera e o gás metano, produzido pelo lixo acumulado. Mas, segundo a secretária, o tipo de desmoronamento provavelmente foi provocado pelo acúmulo de água no solo. O terreno de rocha em decomposição no local forma fraturas, por onde a água penetra e se acumula, provocando deslizamentos, e o lixo, transformado em chorume, desliza como lama.

( Leia mais: Governo federal libera R$ 200 milhões para o Rio )

Ainda segundo a secretária, após a remoção de todas as vítimas, será feito um trabalho de contenção no pés do encosta, além de uma drenagem. Depois, será feito um reflorestamento, informou Marilene. Técnicos do Inea monitoram vazamento de óleo em Niterói

Agentes do Serviço de Operações de Emergência, órgão executivo da Secretaria do Ambiente, estão trabalhando desde a madrugada na contenção do vazamento de 50 mil litros de óleo diesel, em Niterói.

O acidente ocorreu após um deslizamento de terra provocado pela queda de uma barreira na Alameda São Boaventura, que atingiu, por volta de 1h30 da manhã, quatro tanques de abastecimento da frota da empresa de transportes Ingá.

Os bombeiros tentaram conter o vazamento com um dique. Parte do material foi retido, mas outra parte do produto atingiu a galeria de águas pluviais e, posteriormente, o Canal da Alameda. O óleo chegou à Baía de Guanabara, na área entre a praça do pedágio e o Porto de Niterói.

Barreiras de contenção e absorção foram instaladas para conter o óleo no Porto, onde três caminhões a vácuo operam na sua retirada. Existem ainda mais dois caminhões atuando no recolhimento do óleo na empresa.

O Centro de Defesa Ambiental da Petrobrás foi acionado pela Alpina Briggs - empresa contratada para retirar óleo no mar - para reforçar a equipe.

Secretário alerta para risco ambiental

O governador do Rio, Sérgio Cabral, o vice, Luiz Fernando Pezão, e o secretário Sérgio Côrtes acompanham o trabalho do Corpo de Bombeiros. O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, só chegou ao local cerca 15 horas após o acidente.

Em entrevista à TV Globo, pela manhã, Côrtes alertou sobre o risco ambiental , uma vez que as casas soterradas foram construídas sobre um lixão. Pela manhã, a secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos, sobrevoou a região.

- Quando acendi a lanterna, vi que estava em cima de lixo. Os moradores começaram a falar que ali era um aterro sanitário, desativado há mais de 20 anos, e as casas foram erguidas ali - destacou Côrtes.

O Morro do Bumba abrigou, de 1970 até 1986, o segundo lixão de Niterói . A cor preta do solo que deslizou é resultado da decomposição do lixo. No momento em que houve o deslizamento, as pessoas contaram que ouviram pequenas explosões, provavelmente de gás metano.

Bombeiros foram chamados antes da tragédia

Sobreviventes contam como escaparam da tragédia

Numa rua que fica em frente à comunidade, quatro igrejas abrigam sobreviventes da enxurrada. Entre eles, a diarista Valéria Rosa, de 35 anos, que conseguiu escapar porque desde segunda-feira já dormia em uma das igrejas. Ela conta que saiu de casa porque dois barracos no alto do morro já haviam desabado, soterrando um senhor, identificado com Tião, de 65 anos. ( Leia outros relatos )

- Os bombeiros vieram e tentaram resgatar ele, mas foram embora sem conseguir. Nós sabíamos que esta tragédia ia acontecer. Quando as duas casas desabaram, formou-se uma montanha de dois metros e muita água começou a acumular atrás.

Ao redor do local da tragédia, há parentes de vítimas que não se conformam. Sabrina Carvalho não sai da frente dos escombros na esperança de encontrar o filho de seis anos, a mãe e o avô vivos. Ela contou que primeiro escutou um barulho muito forte e saiu para a rua pensando que tratava-se de um acidente de carro.

- Quando virei para trás, o morro já tinha soterrado a minha casa e não tive tempo de salvar meu filho e minha família. Meu outro filho de sete meses só sobreviveu porque estava no colo da minha tia, que veio atrás de mim - disse a mulher aos prantos.

( Leia mais: Região Oceânica de Niterói corre risco de isolamento )

No Rio, mais corpos são resgatados no Morro dos Prazeres

Na capital, a situação está mais crítica no bairro de Santa Teresa. Nesta quinta-feira, bombeiros resgataram dois corpos no Morro dos Prazeres. Um deles foi identificado como sendo de Geosilanda da Silva. Outros dois corpos já foram localizados. Pela manhã, no cemitério do Catumbi, foi enterrado o menino Marcos Vinícius, sobrinho de Geosilanda.

Em Jacarepaguá, cães farejadores ajudam a localizar cerca de dez vítimas de deslizamentos. Há ainda duas pessoas que estão sendo procuradas na Rocinha e uma em Vila Cosmos. Até o momento, 180 imóveis foram interditados e 1.778 pessoas estão desabrigadas. (Leitores mostram caos provocado pelas chuvas no Rio) Leia mais:

Parque da Cidade, em Niterói, está fechado

Teatro Municipal de Niterói cancela espetáculos

Concessionárias trabalham para restabelecer luz no Rio e em Niterói. Light isenta de multa contas vencidas entre 5 e 7 de abril