Política

Preso pela terceira vez, Richa é acusado de atrapalhar investigação de desvios na educação

Tucano já é réu em quatro processos por corrupção e lavagem de dinheiro; agora, é suspeito de obstrução de Justiça
Beto Richa é acusado de corrupção Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo
Beto Richa é acusado de corrupção Foto: Geraldo Bubniak / Agência O Globo

SÃO PAULO - O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foi preso pela terceira vez na manhã desta terça-feira. Réu em quatro processos por corrupção e lavagem de dinheiro, o tucano é investigado, desta vez, por obstrução de Justiça em uma ação que apura supostas irregularidades na construção de escolas no seu estado que teriam desviado R$ 20 milhões.

Um delator dessa ação, o ex-diretor da Secretaria de Educação do Paraná, Maurício Fanini, entregou para a Justiça fotos que mostram Richa ao lado de empresários que tinham contratos com a sua gestão na piscina do hotel Delano, de Miami, onde as diárias variam entre R$ 2 mil e R$ 14 mil. Regada a espumante e morangos, a festa foi revelada pelo GLOBO no começo do mês .

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Foi Fanini também quem delatou a suposta obstrução de Justiça que está sendo investigada agora. Ele disse que, em 2015, Richa ofereceu a ele uma mesada, que seria paga por um empresário do estado, em troca do seu silêncio . O tucano também teria dito ao ex-assessor que arrumaria um novo emprego para ele desde que não contasse nada sobre a corrupção no estado.

Segundo o Ministério Público Estadual (MP-PR), mais duas pessoas foram presas nesta terça-feira: o empresário Jorge Atherino, apontado como operador financeiro de Richa, e Ezequias Moreira, ex-secretário especial de Cerimonial e Relações Exteriores do Paraná .

Moreira é citado na delação de um empresário como responsável por arrecadar dinheiro de empreiteiras contratadas pelo governo do estado para reformar e construir escolas estaduais. A propina, de acordo com a delação, foi direcionada para a campanha de reeleição de Richa, em 2014.

Richa virou réu pela primeira vez em 26 de junho do ano passado, em um processo em que é acusado de desvio de finalidade na aplicação de verba federal entre 2006 e 2008, quando era prefeito de Curitiba. Segundo a denúncia, o tucano deixou de aplicar R$ 100 mil da União para reformar unidades de saúde do município.

Segundo sua defesa, Richa apenas assinou o convênio entre prefeitura e governo federal para a reforma dos postos de saúde. O desvio de verba teria sido praticado, dizem os advogados, por uma servidora municipal, que acabou sendo exonerada. Na época, Richa informou que todos os valores foram ressarcidos à União.

No segundo processo, Richa virou réu em 31 de outubro do ano passado. Ao lado de outras 12 pessoas, ele é acusado de participar de um esquema que envolveu o pagamento de R$ 8,2 milhões de propina a agentes públicos em 2014, quando já era governador do Paraná, para beneficiar empresas, por meio de aditivos em contratos, responsáveis por recuperar estradas rurais paranaenses.

Chamada de operação "Rádio Patrulha", essa investigação fez com que Richa ficasse preso por quatro dias. Na época da denúncia, a defesa de Richa afirmou que a investigação era baseada em uma delação premiada "sem qualquer base de provas".

Richa voltou a ser preso em 25 de janeiro, quando a Lava-Jato o acusou de obstruir a investigação e tentar influenciar o depoimento de uma testemunha . Sete dias depois, ele foi solto, atendendo à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A terceira denúncia foi aceita pela Justiça Federal na segunda-feira. Desta vez, ele responde por corrupção e organização criminosa, em um esquema em que é acusado de receber R$ 2,7 milhões de propina em troca de beneficiar concessionárias de rodovias do seu estado. A defesa de Richa informou que só se manifestaria sobre esse caso no processo.

Em 14 de fevereiro, ele virou réu pela quarta vez. Ao lado da mulher, Fernanda, do filho, André, e do contador, Dirceu Pupo, ele é acusado de lavagem de dinheiro com a compra de imóveis para a família. O esquema teria movimentado R$ 930 mil que Richa recebeu, segundo a acusação, como propina num esquema de corrupção com concessionárias de rodovias.

Em nota, a defesa do ex-governador Beto Richa criticou a ordem de prisão e afirmou que a determinação "não traz qualquer fundamento".

Disse ainda que as fraudes e desvios cometidos em obras de construção e reforma de colégios da rede pública de ensino foram descobertos e denunciados pela própria gestão do ex-governador.

"Tratam-se de fatos antigos sobre os quais todos os esclarecimentos necessários já foram feitos. Por orientação do ex-governador, no âmbito administrativo, todas as medidas cabíveis contra os autores dos crimes foram tomadas. A defesa repudia o processo de perseguição ao ex-governador e a seus familiares; todavia, segue confiando nas instituições do Poder Judiciário", informa o advogado Guilherme Brenner Lucchesi.