Por Arthur Guimarães, G1 Rio e TV Globo


MP investiga Queiroz por suspeita de coordenar manipulação de provas

MP investiga Queiroz por suspeita de coordenar manipulação de provas

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pediu a prisão de Fabrício Queiroz por ter encontrado indícios de que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro continuava cometendo crimes.

Os investigadores acreditam que ele manipulava provas para atrapalhar investigações do esquema de rachadinhas – quando um servidor devolve parte do salário ao parlamentar – e pressionava testemunhas.

Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), foi preso em Atibaia, interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (18). Às 12h, ele chegou ao Rio após ser transferido de helicóptero e, então, foi levado para o Instituto Médico Legal (IML).

A TV Globo apurou que o MP considerou ter reunido três condições para pedir a prisão de Queiroz: continuava delinquindo, estava fugindo e vinha manipulando provas para atrapalhar as investigações.

Fabrício Queiroz recebe voz de prisão ao desembarcar no Aeroporto de Jacarepaguá — Foto: Reprodução/TV Globo

O ex-assessor estaria coordenando ações entre ex-servidores do gabinete para ocultar a condição dos funcionários fantasmas que eram contratados pelo Flávio e, muitas vezes, escolhidas por Queiroz.

Nesse acordo, segundo apurou a TV Globo, esses funcionários não trabalhavam, recebiam apenas uma parte do salário e o restante era desviado no esquema da rachadinha.

Os investigadores encontraram indícios de que Queiroz vinha tentando acessar esses ex-servidores para apagar os registros dessas irregularidades.

Busca por 'caixa-preta' das rachadinhas

Investigadores fizeram buscas nesta quinta-feira na casa de Matheus Azeredo Coutinho, servidor da Alerj. O objetivo foi encontrar vestígios da manipulação de provas feita por Queiroz.

O G1 apurou que Matheus tinha acesso a registros do gabinete que apontavam quem eram os funcionários fantasmas – e indicariam as cifras movimentadas no esquema da rachadinha. Eram essas informações que Queiroz tentava esconder das autoridades. Os registros não foram encontrados.

Pagamento de escola das filhas

A investigação do MP aponta ainda que Queiroz pagou mensalidades das filhas de Flávio Bolsonaro.

Segundo apurou a TV Globo, o cruzamento de vídeos com outros indícios – datas, horários e valores – comprovam que Queiroz realizou os pagamentos no banco.

Flávio se defende

Relembre como teve início o 'caso Queiroz'

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Em sua rede social, Flávio Bolsonaro afirmou que 'mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro' e disse acreditar que a verdade prevalecerá.

"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim.Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!".

Em Brasília, nesta manhã, o presidente deixou o Palácio da Alvorada, residência oficial, em um comboio em alta velocidade, e não parou para falar com apoiadores, como costuma fazer rotineiramente.

Defesa de Queiroz

O advogado Paulo Emílio Catta Preta assumiu a defesa de Fabrício Queiroz e foi até a Cadeia Pública de Benfica, Zona Norte do Rio, no início da tarde desta quinta.

Em entrevista, o advogado disse que está preocupado com o estado de saúde do seu cliente e, por isso, vai entrar com um pedido de habeas corpus.

Catta Preta disse ainda que Queiroz recebeu ameaças de morte e teme pela própria vida.

Catta Preta foi advogado do ex-capitão do Bope Adriano Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro deste ano. Nóbrega era acusado de ser o líder do grupo miliciano Escritório do Crime.

Momento em que a polícia entra na casa onde estava Fabrício Queiroz em Atibaia — Foto: Reprodução/TV Globo

No mandado de prisão expedido contra Queiroz, o juiz determinou que "sob qualquer hipótese" ele seja custodiado no Batalhão Especial Prisional e ainda determina que a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) mande-o para uma unidade do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.

“(...) determina à Secretaria de Administração Penitenciária – SEAP, que encaminhe o referido investigado para uma unidade prisional compatível com a sua segurança e o rigor da medida preventiva, preferencialmente no Complexo de Gericinó, em Bangu, estando vetada em qualquer hipótese sua custódia no Batalhão Especial Prisional – BEP”., determina o documento.

Fabrício Queiroz chega ao IML de São Paulo apos ser preso na manhã desta quinta-feira — Foto: TV Globo

Como foi a prisão

Queiroz estava em um imóvel de Frederick Wasseff, advogado da família Bolsonaro, aonde a força-tarefa chegou por volta das 6h30.

Segundo um delegado que participou da operação, foi preciso arrombar o portão e a porta da casa onde Queiroz estava. Ele não resistiu e só disse que estava muito doente.

O ex-assessor foi levado para unidade da Polícia Civil no Centro da capital paulista. Ele passou pelo Instituto Médico-Legal e foi levado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa.

Sua transferência para o Rio estava prevista para esta quinta.

No Rio, a Polícia Civil também fez buscas no início da manhã em um imóvel que seria de uma funcionária do gabinete de Flávio Bolsonaro, em Bento Ribeiro, Zona Norte da capital fluminense.

O que pesa contra Queiroz

Os mandados de busca e apreensão e de prisão contra Queiroz foram expedidos pela Justiça do Rio de Janeiro, num desdobramento da investigação que apura esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Segundo um relatório do antigo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta de maneira considerada "atípica", entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, incluindo depósitos e saques.

Policial Militar aposentado, Queiroz trabalhou para Flávio Bolsonaro na época em que o filho mais velho de Jair era deputado estadual no Rio. Queiroz foi assessor e motorista de Flávio até outubro de 2018, quando foi exonerado.

No final de maio, ao rebater acusações feitas pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, durante transmissão na internet, Flávio Bolsonaro elogiou Queiroz e o chamou de "cara correto" e "trabalhador".

Fabrício Queiroz em foto com Flávio Bolsonaro — Foto: Reprodução/JN

Advogado do presidente

O advogado de Flávio Bolsonaro dono do imóvel de Atibaia onde Queiroz estava ao ser preso, Frederick Wasseff, é o mesmo fez a que atuou no caso da facada que Bolsonaro sofreu de Adélio Bispo em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral para a presidência da República, em 2018.

Wassef participou nesta quarta-feira (17) da cerimônia em que o presidente Jair Bolsonaro deu posse ao novo ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Em setembro de 2019, quando não se sabia o paradeiro de Fabrício Queiroz, Wasseff disse ao programa Em Foco não saber onde estava o ex-assessor, e afirmou que não é advogado dele.

Fabrício Queiroz foi preso em Atibaia nesta quinta-feira (18); veja a localização — Foto: Rodrigo Sanches/ G1

PRISÃO DE FABRÍCIO QUEIROZ

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