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Por Ana Conceição, Victor Rezende, Arícia Martins, Anaïs Fernandes e Marcelo Osakabe, Valor — São Paulo

Importantes instituições financeiras reagiram à queda de 9,7% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (1º de setembro). Algumas refizeram suas projeções para o dado deste ano, mas não houve um consenso entre os bancos de recuo ou avanço.

Itaú

O recuo, maior que o esperado, não mudou a projeção do Itaú Unibanco de uma queda de 4,5% no PIB deste ano. A expectativa de recuo do banco é menor que a mediana do mercado, que está em -5,3%.

A atividade continua a dar sinais de recuperação no terceiro trimestre, afirma o economista Luka Barbosa. O deteriorado cenário fiscal, contudo, é um risco. “O único risco relevante para a retomada é esse. A retirada do auxílio emergencial não é risco, pelo contrário”, afirmou Barbosa.

Uma deterioração adicional e um eventual abandono do teto de gastos “mataria o driver mais importante para a economia hoje, que é o juro baixo”, disse o economista do Itaú Unibanco, ressaltando que este não é o cenário básico do banco.

No PIB do segundo trimestre, a surpresa negativa foi o consumo do governo, para o qual o banco estimava queda de 0,3% sobre o primeiro trimestre. O IBGE informou recuo de 8,8%. O resultado, muito longe da mediana do mercado, de estabilidade, ocorreu porque houve mudança na contabilização do consumo do setor público, segundo o instituto.

“Em grandes linhas, o resultado não muda nossa avaliação. Esperávamos queda de 9,1% no PIB, mas imaginávamos que poderia chegar mais próxima de 10%”, disse Barbosa. Segundo o economista, depois do tombo de abril, os dados mensais ao longo de maio e junho mostraram uma “melhora significativa”, que continuou em julho e agosto. “Nossos indicadores proprietários diários mostram isso”. A projeção do banco é que, no terceiro trimestre, o PIB cresça 7% sobre o segundo.

Para Barbosa, a maioria dos segmentos da indústria e dos serviços, como o comércio, estão se recuperando rapidamente. O segmento “outros serviços”, contudo, devem continuar a registrar queda, mas está acelerando na margem. O efeito dos juros baixos tem sido visto no aumento do crédito imobiliário e para aquisição de veículos, observa. “Redução do isolamento, juro baixo e recuperação global estão por trás da retomada doméstica”, enumera.

Citi

O desempenho do PIB pior do que o esperado e a revisão dos números do primeiro trimestre para uma queda de 2,5% fizeram com que os economistas do Citi cortassem sua estimativa para o PIB de 2020 de -6,0% para -6,5%.

Em relatório enviado a clientes, os economistas Leonardo Porto e Paulo Lopes apontam que a atual recessão, que é a mais profunda de todas, “é bastante desigual entre os setores”. Eles notam que as exportações apresentaram desempenho “muito favorável” no segundo trimestre, enquanto setores mais sensíveis às medidas de distanciamento social, em geral o de serviços, enfrentaram contrações severas entre abril e junho.

“Para o terceiro trimestre, esperamos que os indicadores mensais de atividade continuem em trajetória de expansão iniciada em maio e em junho, dando apoio ao nosso cenário de recuperação gradual do PIB”, afirmam Porto e Lopes.

Os economistas do Citi mantiveram a projeção para 2021 inalterada em 3,5%, “mas destacamos que os riscos de uma expansão menor aumentam neste momento, dadas as implicações de um cenário fiscal mais frágil”.

Goldman Sachs

O Goldman Sachs também passou a esperar retração maior para o PIB brasileiro em 2020, de -5,4%, ante -5% anteriormente. Segundo o diretor de pesquisa para América Latina do banco, Alberto Ramos, a mudança aconteceu devido à revisão feita pelo IBGE no dado do primeiro trimestre, de recuo de 1,5% para 2,5%.

Nos cálculos de Ramos, com essa variação, o ‘carry over’ deixado para o restante do ano é negativo em 9,1%. Isso significa que, se o PIB ficar estável no terceiro e quarto trimestres, terminará 2020 com baixa de 9,1%. Este não é, no entanto, o cenário da instituição. Segundo o diretor de pesquisa para América Latina, os indicadores de atividade devem continuar mostrando retomada nos próximos meses, impulsionados por, entre outros fatores, o afrouxamento das condições financeiras aqui e no exterior e recuperação dos preços de commodities e da economia mundial.

Nas estimativas de Ramos, o PIB vai crescer 6,9% no terceiro trimestre. De acordo com o economista, após o fundo do poço no mês de abril, dados de maio a julho mostram “visível recuperação”, causada pela reabertura gradual da economia e também por uma política econômica estimulativa, com destaque para “medidas fiscais generosas”.

Santander

O resultado do PIB do segundo trimestre acabou com o viés altista das projeções para 2020, afirmou o economista Mauricio Oreng, superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Santander. “Números para o ano, de contração de 6% a 6,5% parecem fazer sentido. A gente estava indo na direção de uma queda para o ano de 5%”, afirmou. O Santander estimava recuo de 8,2% no PIB do período, sobre o primeiro trimestre.

Se o PIB ficasse parado nos níveis do segundo trimestre, o Brasil observaria uma contração de 9,1% em 2020, segundo Oreng. "É o que a gente poderia chamar de o pior resultado possível, considerando um cenário de gradual reversão das medidas de isolamento, economia reabrindo", afirma. Mas o Santander espera um "crescimento sequencial importante" no terceiro trimestre, na casa de 6%, desacelerando para algo em torno de 1% no quatro trimestre. Por ora, o Santander volta a esperar queda de 6,4% para o PIB de 2020, cenário que ainda não considera a prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, no valor de R$ 300.

O desempenho do consumo das famílias, que caiu 12,5% no segundo trimestre, ante os três meses anteriores, foi a “grande fonte de decepção” na projeção do Santander para o período. O banco esperava uma queda de 6,9% nesse item.

Parte dessa “decepção” pode refletir alguma dificuldade natural de captação por parte do IBGE, diante das limitações impostas pela pandemia, observa Oreng, mas há também uma questão de “assimetria”. “O consumo de bens aparentemente não foi tão ruim, mas os serviços acabaram indo pior”, disse o economista. No PIB, os serviços recuaram 9,7% no segundo trimestre, mais do que a projeção do banco, de contração de 8,4%.

Ainda do lado da demanda, outro dado que surpreendeu foi o consumo do governo, para o qual o Santander esperava queda de 0,5% no segundo trimestre, mas a retração foi de 8,8%.

Para o próximo ano, o Santander projeta crescimento de 4,2%, diz Oreng, destacando que há um "efeito base" importante, já que a queda em 2020 será muito forte.

BNP Paribas

Já, para o BNP Paribas, o apoio fiscal “bastante agressivo” concedido pelo governo brasileiro à economia para conter os efeitos da crise desencadeada pela covid-19 tem ajudado o país a ter uma recessão menos profunda que o esperado. E mesmo com o PIB do segundo trimestre vindo ligeiramente pior que a expectativa do mercado, dados mais recentes sugerem uma recuperação forte no terceiro trimestre.

“Estamos elevando nossa projeção para o PIB de 2020 de -7,0% para -5,0% essencialmente porque a recessão desse ano não será tão intensa quanto o esperado. A reabertura antecipada da economia, acompanhada dos enormes estímulos fiscais e monetários, explicam a contração menor que o esperado, na nossa visão”, diz o relatório assinalo pelo economista-chefe do banco francês no Brasil, Gustavo Arruda.

Inicialmente, o banco esperava contração de 14% no período, dado que foi revisado apenas semana passada, para queda de 9,0%. Mesmo que o dado do IBGE tenha vindo acima do esperado, os números de maio e junho e os indicadores antecedentes do terceiro trimestre indicam uma surpresa positiva, argumenta.

Por outro lado, o relatório do banco nota que o impulso fiscal concedido — de 5% do PIB, contra 2% da estimativa inicial — coloca a relação dívida bruta em PIB bem próxima dos 100%, o que levanta uma bandeira vermelha sobre a sustentabilidade das contas.

"Diante de tal cenário, acreditamos que a retirada das atuais políticas de estímulo é a única opção viável para o governo. Qualquer hesitação em fazê-lo seria recebida com grande reação negativa pelos mercados, postergando decisões de investimento e consumo", acrescenta. Tal medida, inclusive, deve ajudar a desacelerar o crescimento econômico no último trimestre do ano para perto de zero.

J.P. Morgan

Os economistas do J.P. Morgan, como os do BNB Paribas, estão otimistas e revisaram sua estimativa para o resultado anual do PIB e, agora, projetam uma retração de 5,2% neste ano — ante expectativa mais pessimista de queda de 6,2%.

Embora o resultado tenha vindo ligeiramente abaixo do consenso do mercado, o número ainda ficou acima do esperado pelo banco. O J.P. Morgan projetava um tombo anualizado de 40%, enquanto o resultado ficou em -33,5% na base anualizada.

“A surpresa de hoje por si só já teria um impacto significativo em nossas projeções, aumentando a estimativa de 2020 em 0,6 ponto percentual. Mas estávamos aguardando a divulgação do PIB para refinar nossas estimativas. Em particular, acreditamos que a prorrogação do auxílio emergencial em R$ 300 por mês até o fim do ano, o que esperávamos e que foi confirmado pelo governo hoje, continuará a apoiar a economia no curto prazo”, afirmam os economistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira em relatório enviado a clientes.

Assim, para eles, o auxílio emergencial deve sustentar uma recuperação mais rápida do PIB em 2020. O J.P. projeta um crescimento anualizado de 34% no terceiro trimestre.

No entanto, na avaliação dos economistas, o próximo ano pode sofrer com a retirada dos estímulos fiscais, principalmente os números do primeiro trimestre. Para o primeiro trimestre de 2021, a expectativa do J.P. Morgan é de uma contração de 1% em base anualizada do PIB, que deve melhorar gradualmente ao longo do ano à medida que o crescimento do crédito dá apoio ao consumo. Para todo o próximo ano, a projeção é de uma expansão do PIB de 2,5%.

Os economistas também fazem um alerta em relação à política fiscal, ao notarem que a dinâmica do PIB em 2021 “será mais dependente do que o normal de difíceis escolhas políticas”. Para eles, embora o desejo de implementar um programa de transferência de renda maior e mais abrangente seja positivo para apoiar o consumo das famílias no curto prazo, “pode ameaçar a credibilidade da gestão da política econômica, especialmente após o forte aumento do endividamento durante a pandemia”.

Mais recente Próxima PIB mostra resiliência do agro e ‘descolamento do restante da economia’, diz CNA

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