Depois de comandar as operações do PayPal no Brasil e na América Latina, o executivo Mario Mello chegou a avaliar uma proposta da companhia de pagamentos para assumir uma posição nos EUA, mas decidiu permanecer no Brasil. Era um momento conturbado no país, pós-impeachment da presidente Dilma Rousseff e em meio à votação da reforma política, e Mello estava interessado em criar um aplicativo para ajudar os eleitores a acompanhar a vida parlamentar.
Após uma transição planejada, Mello deixou o PayPal em março de 2018 e, em agosto, lançou a primeira versão do Poder do Voto, aplicativo que conecta eleitores e políticos de acordo com os interesses dos primeiros e as votações dos últimos. Em fevereiro deste ano, o app foi lançado oficialmente. “É um pós-venda para políticos”, diz Mello.
De acordo com o executivo, cerca de 50 deputados — a maioria de perfil mais jovem, mas com alguns nomes da “velha-guarda” — têm se mostrado altamente engajados com as interações feitas pelos eleitores, que podem apoiar ou não um projeto e mandar recados aos parlamentares. Em março, foi contratada uma pessoa para visitar os gabinetes, explicar o funcionamento do app e apresentar relatórios sobre as votações dos usuários. “As pessoas têm que parar de brigar pelo WhatsApp. O palco democrático é o Congresso”, afirma.
Desde que chegou às lojas on-line do Google e da Apple, o aplicativo recebeu quase 400 mil votos e ultrapassou 60 mil usuários ativos (que tiveram alguma interação ao longo do ano). Até as eleições municipais do ano que vem, Mello pretende alcançar 200 mil usuários.
O Poder do Voto foi qualificado para receber uma verba de US$ 10 mil por mês dentro de um projeto do Google para apoiar organizações sem fins lucrativos, o Google for Nonprofits. Os recursos podem ser usados para a inserção de campanhas de publicidade no sistema de busca da companhia. Segundo Mello, o app fez pouca divulgação até agora devido ao custo elevado para atrair novos usuários, em torno de R$ 0,80 por download.
Para o executivo, o marco será chegar a 2 milhões de usuários. A expectativa é levar quatro anos para isso ocorrer. “Achei que seria mais rápido por ser um aplicativo gratuito, mas há um trabalho de catequese a ser feito”, diz.
A criação do Poder do Voto contou com investimento de R$ 200 mil em recursos próprios, além de quase R$ 1 milhão que Mello levantou com outros executivos brasileiros. Os recursos foram usados para desenvolvimento e divulgação do aplicativo, incluindo a instalação de um binóculo de 15 metros de altura em frente ao Congresso, em Brasília.
Atualmente, 14 empresas, entre agências de publicidade, escritórios de advocacia e contabilidade, e empresas de tecnologia apoiam a iniciativa. A equipe dedicada à manutenção do aplicativo tem seis voluntários.
Mello diz dedicar metade de seu tempo ao aplicativo. Na outra metade, dá mentoria a empresas da Endeavor, organização de apoio ao empreendedorismo; atua no conselho de companhias como Track & Field e Tenda, e atua como investidor e consultor no fundo Valor Capital, do ex-embaixador americano Cliff Sobel.