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Estados registram queda na doação de sangue; confira as restrições para doar durante a pandemia

Segundo Minsitério da Saúde não há evidências de transmissão por transfusão de sangue do coronavírus, mas há medidas de precaução
Estados registram queda na doação de sangue; confira as restrições para doar durante a pandemia Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Estados registram queda na doação de sangue; confira as restrições para doar durante a pandemia Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO E SÃO PAULO — Com a crise causada pelo coronavírus diversos estados registram queda significativa na doação de sangue. Em São Paulo houve queda de 30%, mas houve uma retomada após grande campanha do estado. No Rio de Janeiro, o Hemorio está em alerta após queda de 50% no número de doadores nesta semana.

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Em Minas, só há estoque o suficiente para atender a demanda por cinco dias e houve uma queda de 40% nos tipos "O positivo" e "O negativo".A número de doações também diminuiu no Distrito Federal, que registrou queda de 25%.

Em fevereiro, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica com orientações de como deve ser a doação de sangue em meio a pandemia. Não há testes específicos para a Covid-19 no sangue coletado, mas, segundo a pasta, não há evidências de transmissão por transfusão de sangue do coronavírus, mas há medidas de precaução.

  • Não poderá doar por 30 dias a partir da data de retorno quem viajou para áreas com transmissão comunitária do vírus;
  • Não poderá doar por 30 dias a partir do último contato quem esteve com pessoas que apresentaram diagnóstico clínico e/ou laboratorial de infecções pelo vírus, ou contato com casos suspeitos em avaliação;
  • Quem foi teve diagnóstico clínico e/ou laboratorial, deverá ser considerados inapto por um período de 90 dias após a completa recuperação (assintomáticos e sem sequelas que contraindique a doação);
  • Candidatos à doação de sangue que apresentaram resfriado comum ou infecções de vias aéreas superiores causadas eventualmente por coronavírus, sem história de viagem para áreas endêmicas ou contato com pessoas provenientes destas áreas não devem ser considerados de risco para a infecção destes novos vírus
  • Para doar é preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar no mínimo 50 kg,  estar bem de saúde e portar um documento com foto. Não é necessário estar em jejum, apenas evitar alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem a doação e não ingerir bebidas alcoólicas 12 horas antes

Com a suspensão de diversas atividades como faculdades e empresas, o impacto nas doações itinerantes do Rio de janeiro foi grande. O Hemorio possui quatro equipes para captar doadores que correspondem 35% do número diário de bolsas de sangue. Em março, estavam programadas 65 coletas, mas só quatro foram realizadas.

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Por causa da queda, o Hemorio montou um plano de contingência. As equipes móveis agora tentam captar doadores em quarteis da Polícia Militar, Bombeiros e em outras áreas onde não há suspensão de atividades. Na unidade do Centro, também foram tomadas medidas de prevenção como o afastamento mínimo de dois metros entres as poltronas.

— É importante a população saber que não há evidências da transmissão do vírus pela doação de sangue. Quem não apresenta sintomas, pode doar. Uma opção para quem não está saindo de casa é agendar a doação pelo telefone 0800-282-0708. Com hora marcada, o atendimento será mais rápido, com menos exposição. Também é importante acompanhar as redes sociais do Hemorio para saber se terá um posto itinerante perto da sua casa — conta o médico hematologista Luiz Amorim, diretor geral do Hemorio

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O órgão tem disponibilidade para receber até 500 doadores por dia, quantidade suficiente para atender toda a rede pública do estado .É necessário que o Hemorio disponha de pelo menos 300 bolsas de sangue diariamente. Nesta semana a média diária foi de apenas 128 doadores.

Campanha em São Paulo atrai doadores

Uma queda no número de doações de sangue em São Paulo, provocada em meio ao surto do coronavírus, levou organizações de saúde a acelerar uma campanha para atrair novos doadores. A mobilização surtiu efeito imediato. Depois de caírem 30% no início da semana, as doações voltaram a crescer desde terça-feira, um dia após os esforços de comunicação, e alcançaram picos acima da média para o período nesta quinta-feira.

O cenário, no entanto, ainda é crítico, e as autoridades pedem que a população continue engajada na causa.

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A médica Ana Carrijo, responsável pelo Banco de Sangue de São Paulo (BSSP), afirmou que a situação ficou crítica na segunda-feira, quando a empresa registrou apenas 49 doações na capital paulista ao longo do dia, bem abaixo da média de 110. A queda foi registrada em outros locais de coleta pela cidade.

— Se as pessoas pararem de doar sangue, além da crise que o Brasil enfrenta com o surto do coronavírus, poderemos enfrentar também grande crise de desabastecimento de sangue — diz Sandra de Paula, coordenadora de captação do BSSP.

Além do BSSP, a Fundação Pró-Sangue, vinculada à Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, e profissionais da saúde se uniram para tranquilizar a população de que a doação não traria riscos de contágio pelo coronavírus.

A triagem ganhou novas regras, como restrição a candidatos que apresentem sintomas de gripe ou que tenham entrado em contato com casos suspeitos do Covid-19, a comunicação foi reforçada e o local da coleta sofreu mudanças. Os hospitais alteraram os espaços para criar maior distanciamento entre as pessoas e evitar aglomerações.

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O apelo deu certo. Na terça-feira, as doações no BSSP subiram para 91, somaram 123 no dia seguinte e, nesta quinta, atingiram 142 até as 16h. A perda de 30% no banco de sangue foi reduzida a 13% abaixo do ideal. Mas os especialistas temem que o agravamento do surto na cidade afugente as pessoas a partir da próxima semana.

O estoque atual, segundo Carrijo, poderia atender a demanda dos hospitais durante apenas sete dias.

No hemocentro do Hospital das Clínicas, os doadores relataram filas e demora para a doação, em razão da alta demanda, mas mostraram satisfação pela situação.

— Eu sempre doo, a cada três meses. Eu vi a campanha nesta semana, de que estava em falta, e lembrei de doar. Nunca vi tão cheio. Geralmente leva uma hora (para doar), mas hoje demorou duas horas e meia — disse o taxista Luiz Roberto Rodrigues, de 45 anos.

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A advogada Flávia Aguilhar, de 43 anos, afirmou que não sabia da campanha, mas que suspeitou haver carência nos bancos de sangue em razão da crise com o coronavírus.

— Eu vim hoje porque meu grupo de amigas levantou essa questão. Com todo mundo em casa, a gente achou que teria uma redução no estoque. Está bem cheio. Foi ruim pela demora, mas fico feliz porque tem bastante gente — disse ela.

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A contaminação com o vírus, que já deixou sete mortes no Brasil, sendo cinco delas em São Paulo, não os preocupou. O estudante Igor Oliveira da Silva, de 20 anos, disse que se sentiu seguro por ver os esforços do hospital em afastar as cadeiras e higienizar o local da triagem.

— Não vi melhor oportunidade para doar, sabe? Por tudo que está acontecendo na cidade, senti que era uma obrigação — afirmou.

— As estruturas dos locais de doação estão adequadas e preparadas para receber os doadores. As precauções de contágio devem ser mantidas, mas o ato solidário não pode parar — declarou De Paula.